por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo
Marcos Meirelles Muller, o idealizador e propulsor das estátuas de gloriosos
jogadores à entrada do Estádio Olímpico Nilton Santos, faleceu subitamente. Conheci-o,
admirei-o, tornámo-nos amigos ao abrigo do Glorioso Botafogo e a minha alma
está profundamente triste com a sua partida precoce e inesperada.
Aquando do seu 42º aniversário homenageei-o com uma matéria
narrando no Mundo Botafogo como nos tornámos amigos.
Faço-lhe aqui uma última e dolorosa homenagem reproduzindo o título e a
matéria de então, em setembro de 2010.
Marcos Müller – um símbolo botafoguense
Marcos Müller é um botafoguense de elite – no sentido em que a cultura, a
cidadania, a amizade e o Botafogo constituem valores incontornáveis na sua
existência.
Na Internet usa frequentemente o apelido de ‘Mazolinha’. Em muitas fotos de
equipas de futebol do Botafogo de outrora ele aparece como mascote do time nos
seus tempos de criança. Tenho o absoluto privilégio de contar com a sua amizade
– bem como a de seu pai, ex-conselheiro impoluto do Botafogo e muito conhecido
também nos meios internautas do Glorioso – e de ter sido Marcos a raiz da minha
decisão de criar um blogue botafoguense.
Na verdade, eu e Marcos trocávamos argumentos no Canal Botafogo com
frequência, e zangámo-nos via Internet devido a posições extremas assumidas
perante o treinador Cuca em 2007 – Marcos era um indefectível ‘cuquista’ e eu
era um indefectível ‘anti-cuquista’. Quando nos zangámos, devido a ele ter-me
chamado provocatoriamente ‘Eurico Miranda’, respondi com muita rispidez e o
Marcos – brilhantemente – convidou-me para uma feijoada em sua casa.
A partir daí ficámos amigos – mantendo as divergências ‘cuquistas’ – porque
eu informei o Marcos que não podia aceitar o convite devido a morar em Lisboa.
Ele perguntou-me o que fazia eu em Lisboa e respondi-lhe que vivia e trabalhava
na cidade onde nasci. Aí contei a história da minha infância e da minha
juventude no Rio de Janeiro, da minha irmã brasileira e o meu amor ao Botafogo
desde 1960; ele e o pai acabaram me contando, através da Internet, as suas
diversas viagens em Portugal e o fascínio que têm por Lisboa, pela Costa do Sol
(Estoril, Cascais, etc.) e pelos doces portugueses.
A amizade cresceu, mas Marcos começou a pensar que eu era uma ‘invenção’
cadastrada no Canal Botafogo. Julgava que se tratava de um amigo do pai que
queria bagunçar as suas asserções acerca da equipa orientada pelo Cuca.
Continuámos debatendo até o Marcos decidir afastar-se do Canal Botafogo devido
à súbita quebra de qualidade dos debates que naquele espaço ocorriam. Eu também
me afastei pela mesma razão e criei o meu blogue botafoguense.
Porém, Marcos estava decididamente convencido, a partir de certa altura,
que eu não existia, até porque a minha escrita obedecia aos padrões da nova
ortografia, ainda por aprovar – e nada indiciava que fosse um luso vivendo do
outro lado do oceano com um extenso e profundo conhecimento das coisas
botafoguenses.
Nesse ano de 2007 os meus queridos primos brasileiros – todos botafoguenses
– fizeram uma viagem a Portugal e combinámos que eu iria, dois meses depois,
revisitar a família brasileira e assistir à inauguração do Engenhão já nas mãos
do Botafogo.
No Rio de Janeiro encontrei-me com o pai de Marcos em General Severiano, o
qual me levou à Sala de Troféus do Glorioso com a autorização expressa de
Carlos Augusto Montenegro, presente nessa ocasião. Após a visita telefonei ao
Marcos na presença do pai, e para sua surpresa falou alguém com um sotaque
português. Combinámos encontro no Engenhão, mas acabámos por não nos encontrar
devido a equívoco de local de encontro.
O tempo passou e eu regressei ao Rio de Janeiro em 2009 para assistir às
finais do campeonato carioca entre o Botafogo e o mistão Flamengo/Arbitragem.
Então deglutimos uma excelente feijoada no Humaitá com outros amigos –
Maurélio, Patinhas e Tony – e combinámos assistir ao derradeiro jogo do título.
Marcos ofereceu-me gentilmente o bilhete de entrada no Maracanã, mas é minha
convicção que o título já estava destinado ao Flamengo desde um famoso almoço…
A esta altura do relato, perguntar-me-ão os leitores porque raio de coisa estou falando do Marcos ‘Mazolinha’…
Bem… regularmente aparece na mídia que o Botafogo homenageia os seus ídolos
encomendando estátuas destinadas ao Engenhão – as de Garrincha, Nilton Santos e
Jairzinho. Na verdade, meus amigos, não é o Botafogo enquanto entidade que
realiza tais acontecimentos, mas um torcedor que fez nascer a ideia, que se
determinou a encabeçar o movimento de criação das estátuas e que é o
responsável por angariar donativos de botafoguenses para o efeito.
Esse alguém – o ‘Pai das Estátuas do Engenhão’ – é Marcos ‘Mazolinha’
Müller!
És fantástico, Marcos! Só podias ser botafoguense! Todos nós te agradecemos
a extraordinária iniciativa e todo esse amor incomensurável!
OBRIGADÃO!



2 comentários:
Bela homenagem. Emocionante!
É sempre muito triste perdermos amigos, Vanilson, mas com a idade do Marcos e subitamente é trágico, quase 'pecado'. Grande abraço, companheiro.
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