terça-feira, 14 de outubro de 2025

Marcos Müller – um símbolo botafoguense

Marcos Müller na final de Buenos Aires, em 2024.

por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo

Marcos Meirelles Muller, o idealizador e propulsor das estátuas de gloriosos jogadores à entrada do Estádio Olímpico Nilton Santos, faleceu subitamente. Conheci-o, admirei-o, tornámo-nos amigos ao abrigo do Glorioso Botafogo e a minha alma está profundamente triste com a sua partida precoce e inesperada.

Aquando do seu 42º aniversário homenageei-o com uma matéria narrando no Mundo Botafogo como nos tornámos amigos.

Faço-lhe aqui uma última e dolorosa homenagem reproduzindo o título e a matéria de então, em setembro de 2010.

Marcos Müller – um símbolo botafoguense

Marcos Müller é um botafoguense de elite – no sentido em que a cultura, a cidadania, a amizade e o Botafogo constituem valores incontornáveis na sua existência.

Na Internet usa frequentemente o apelido de ‘Mazolinha’. Em muitas fotos de equipas de futebol do Botafogo de outrora ele aparece como mascote do time nos seus tempos de criança. Tenho o absoluto privilégio de contar com a sua amizade – bem como a de seu pai, ex-conselheiro impoluto do Botafogo e muito conhecido também nos meios internautas do Glorioso – e de ter sido Marcos a raiz da minha decisão de criar um blogue botafoguense.

Na verdade, eu e Marcos trocávamos argumentos no Canal Botafogo com frequência, e zangámo-nos via Internet devido a posições extremas assumidas perante o treinador Cuca em 2007 – Marcos era um indefectível ‘cuquista’ e eu era um indefectível ‘anti-cuquista’. Quando nos zangámos, devido a ele ter-me chamado provocatoriamente ‘Eurico Miranda’, respondi com muita rispidez e o Marcos – brilhantemente – convidou-me para uma feijoada em sua casa.

A partir daí ficámos amigos – mantendo as divergências ‘cuquistas’ – porque eu informei o Marcos que não podia aceitar o convite devido a morar em Lisboa. Ele perguntou-me o que fazia eu em Lisboa e respondi-lhe que vivia e trabalhava na cidade onde nasci. Aí contei a história da minha infância e da minha juventude no Rio de Janeiro, da minha irmã brasileira e o meu amor ao Botafogo desde 1960; ele e o pai acabaram me contando, através da Internet, as suas diversas viagens em Portugal e o fascínio que têm por Lisboa, pela Costa do Sol (Estoril, Cascais, etc.) e pelos doces portugueses.

 

Marcos Müller e eu, durante uma feijoada com amigos em Humaitá, quando no conhecemos em 2009.

A amizade cresceu, mas Marcos começou a pensar que eu era uma ‘invenção’ cadastrada no Canal Botafogo. Julgava que se tratava de um amigo do pai que queria bagunçar as suas asserções acerca da equipa orientada pelo Cuca. Continuámos debatendo até o Marcos decidir afastar-se do Canal Botafogo devido à súbita quebra de qualidade dos debates que naquele espaço ocorriam. Eu também me afastei pela mesma razão e criei o meu blogue botafoguense.

Porém, Marcos estava decididamente convencido, a partir de certa altura, que eu não existia, até porque a minha escrita obedecia aos padrões da nova ortografia, ainda por aprovar – e nada indiciava que fosse um luso vivendo do outro lado do oceano com um extenso e profundo conhecimento das coisas botafoguenses.

Nesse ano de 2007 os meus queridos primos brasileiros – todos botafoguenses – fizeram uma viagem a Portugal e combinámos que eu iria, dois meses depois, revisitar a família brasileira e assistir à inauguração do Engenhão já nas mãos do Botafogo.

No Rio de Janeiro encontrei-me com o pai de Marcos em General Severiano, o qual me levou à Sala de Troféus do Glorioso com a autorização expressa de Carlos Augusto Montenegro, presente nessa ocasião. Após a visita telefonei ao Marcos na presença do pai, e para sua surpresa falou alguém com um sotaque português. Combinámos encontro no Engenhão, mas acabámos por não nos encontrar devido a equívoco de local de encontro.

O tempo passou e eu regressei ao Rio de Janeiro em 2009 para assistir às finais do campeonato carioca entre o Botafogo e o mistão Flamengo/Arbitragem. Então deglutimos uma excelente feijoada no Humaitá com outros amigos – Maurélio, Patinhas e Tony – e combinámos assistir ao derradeiro jogo do título. Marcos ofereceu-me gentilmente o bilhete de entrada no Maracanã, mas é minha convicção que o título já estava destinado ao Flamengo desde um famoso almoço…

A esta altura do relato, perguntar-me-ão os leitores porque raio de coisa estou falando do Marcos ‘Mazolinha’…

Almoço de confraternização antes da inauguração da estátua de Jairzinho; o ‘Furacão’ posa ao lado de Marcos e de Maurélio e abraçado a Chiquinho Junqueira e Elisa (filha de Maurélio).

Bem… regularmente aparece na mídia que o Botafogo homenageia os seus ídolos encomendando estátuas destinadas ao Engenhão – as de Garrincha, Nilton Santos e Jairzinho. Na verdade, meus amigos, não é o Botafogo enquanto entidade que realiza tais acontecimentos, mas um torcedor que fez nascer a ideia, que se determinou a encabeçar o movimento de criação das estátuas e que é o responsável por angariar donativos de botafoguenses para o efeito.

Esse alguém – o ‘Pai das Estátuas do Engenhão’ – é Marcos ‘Mazolinha’ Müller!

És fantástico, Marcos! Só podias ser botafoguense! Todos nós te agradecemos a extraordinária iniciativa e todo esse amor incomensurável!

OBRIGADÃO!

2 comentários:

jornal da grande natal disse...

Bela homenagem. Emocionante!

Ruy Moura disse...

É sempre muito triste perdermos amigos, Vanilson, mas com a idade do Marcos e subitamente é trágico, quase 'pecado'. Grande abraço, companheiro.

Um Ano da Glória Eterna do Glorioso

Fonte: https://www.conmebol.com/pt-br/noticias-pt-br/a-gloria-eterna-e-do-botafogo/ por DINAFOGO | Colaborador do Mundo Botafogo | Coluna ...