sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Jairzinho: narrando a Selefogo


Eram oito botafoguenses, mais os vascaínos Brito e Nado e o goleiro Félix, vestindo a camisa da Seleção contra os argentinos. No final, o passeio de 4x1 lavou a alma do ‘Furacão’ Jairzinho, um dos grandes heróis daquela noite no Maracanã. Eis a narração do craque:

“A camisa era a canarinho, da Seleção Brasileira. Mas, dentro dela, estavam os jogadores do Botafogo, o meu clube, um supertime no final dos anos 60, bi-campeão do Rio de Janeiro e verdadeira máquina de jogar futebol. Reforçado por Félix, goleiro do Fluminense, Brito, zagueiro, e Nado, ponta-direita, ambos do Vasco, enfrentamos naquele dia a Seleção Argentina, sempre nossa maior rival. O resto do time era do Fogão: Moreira, Leônidas e Valtencir, na defesa; Carlos Roberto e Gérson, no meio-campo; eu, Roberto Miranda e Paulo César Lima, no ataque. Era a ‘Selefogo’, em campo naquele jogo que nunca mais iria sair da minha memória. Até o técnico, Zagallo, foi cedido pelo alvinegro (naquele dia, Aimoré Moreira, o treinador mais contratado pela CBD, apenas vibrou, do lado de fora do campo).

Tínhamos um excelente entrosamento, e, por isso, os argentinos foram surpreendidos com uma goleada de 4x1. Conseguimos uma vitória sensacional! Afinal, todos se conheciam muito bem. Nossa linha de frente, com o vascaíno Nado, escalado como ponta-esquerda, mas jogando pela direita, estava arrasadora. Que digam os argentinos, incapazes de parar nossas tabelinhas. Apesar do domínio, o Brasil demorou a abrir o marcador, com um chute do Valtencir, aproveitando um rebote de fora da área, no fim do primeiro tempo.

Ali furamos a defesa deles, e as coisas começaram a ficar mais fácil. Aos cincos minutos da etapa final, Nado cruzou para Roberto, de primeira, colocou a bola lá dentro outra vez. Nossa confiança aumentou. Os espaços surgiam e eu pude, então, aproveitar ainda mais a velocidade, uma de minhas características principais. Gérson lançava os atacantes diabolicamente. Paulo César infernizava pela esquerda, Roberto atormentava a zaga adversária e Nado, pela direita, cruzava sempre com perigo. Eu aparecia para as tabelas e as conclusões. Aos 28 minutos, dei um belo passe para Roberto, que tentou encobrir o goleiro Sanchez e tocou por cima do travessão. Ainda assim a torcida aplaudiu. Aos 32, Roberto aproveitou uma jogada de Paulo César e Gérson ampliou para 3x0. Foi uma loucura nas arquibancadas.

Logo depois, o mesmo Roberto Miranda saiu para a entrada do Nei, aquele mesmo que jogou no Corinthians, Flamengo e que, na época, era do Vasco. Ele acabou protagonizando um olé de mais de dois minutos, no qual todos os jogadores brasileiros tocaram na bola, acho que umas cinquenta vezes ao todo, enquanto os argentinos apenas observavam, atônitos. Foi de um dos toques deste olé que saiu o quarto gol.

Nei e eu tabelamos até a área deles. Enquanto rápido, no meio da zaga, empurrando a bola pela quarta vez para o fundo das redes, fui veloz como um furacão, fazendo jus ao apelido que ganharia na Copa de 70. A vergonha argentina diante de tão grande humilhação imposta pelos brasileiros fez com que até o atacante Silva, que já havia assinado a súmula, desistisse de entrar no nosso time. Os argentinos ainda descontaram, marcando um gol de honra no segundo tempo, o que não diminuiu a importância da vitória.

Aquele jogo mudou minha vida. A partir dali, fiquei muito mais conhecido. Foi mais fácil conseguir uma chance de mostrar meu valor na Copa do México, dois anos depois. O Boca Juniors quis até me contratar, mas os tempos eram diferentes e o Botafogo conseguiu me manter.

Continuei no Brasil e, após alguns meses, os argentinos convidaram o time do Botafogo para uma revanche. Sabiam que, na verdade, não haviam perdido para a Seleção Brasileira completa, e, sim, para um time do Rio reforçado por outros jogadores também do futebol carioca. O que, para o orgulho deles, era muito pior. Fizemos a negra em Lima, no Peru, e ganhamos de 1x0, gol meu.

Só que, desta vez, eles perderam a cabeça e partiram para as agressões. Abalada de tanto apanhar do Botafogo, a Argentina acabou nem se classificando para a Copa de 1970, no México. Acho mesmo que ainda estavam atormentados pelas nossas jogadas, principalmente aquelas do primeiro jogo, inesquecível, em que acabamos com a Argentina no Maracanã.”

[Nota: Pedro Varanda informa que, em suas pesquisas, o jogo de Lima, no Peru, a que Jairzinho se refere, ocorreu em Caracas, na Venezuela.]
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Fonte:
Revista Placar

6 comentários:

Anónimo disse...

Olá, Rui.

O jogo que Jairzinho (o homem que marcou de letra no CR Flamengo) diz ter sido em Lima (a nossa memória é phoda, as vezes falha) foi em Caracas.

BOTAFOGO 1 x 0 SELEÇÃO DA ARGENTINA
Data: 24 / 08 / 1968
Local: Estádio Universitário, Caracas
Árbitro: Ivan Barrios
Competição: Troféu Dr. Julio Bustamante
Gol: Jairzinho, aos 10 minutos do 2° tempo
Botafogo: Cao, Moreira, Zé Carlos, Leônidas (Dimas) e Waltencir; Carlos Roberto e Gérson; Zequinha (Humberto), Roberto, Jairzinho e Lula (Afonsinho). Técnico: Zagallo
Seleção da Argentina: Andrada, Ostua, Perfumo, Albrecht e Lopez; Rendo e Aguirre; Minnit, Savoy, Fischer ‘El Lobo’ e Veglio (Silva). Técnico?
Obs: 1) Zé Carlos e Ostua foram expulsos; 2) Ao final da partida foi oferecido ao Glorioso Botafogo de Futebol e Regatas o Troféu Dr. Julio Bustamante
Fontes: Tribuna da Imprensa e Correio da Manhã

O verão vai ser phoda e elas vão mostrar, com certeza!
Viva Lisboa e ao Rio de Janeiro!

Saudações Botafoguenses e praianas.

Ruy Moura disse...

Obrigado, Pedro. Abraços Gloriosos!

snoopy em p/b disse...

FAN-TÁS-TI-CO

Sergio Di Sabbato disse...

Que saudades Rui, que saudades do tempo em que se jogava futebol nesta terra e o nosso Botafogo era absoluto e nem roubando conseguiam vencer a gente. Grande abraço e saudações botafoguense

Gil disse...

Rui,

Faço coro com o Sérgio; QUE SAUDADE!!!

Abs e Sds, BOTAFOGUENSES!!!

Ruy Moura disse...

Gil, também tenho saudades, mas note:

1) Nunca mais se jogará futebol bonito e eficaz no Brasil enquanto todos os 'muito bons', 'bons' e até 'medianos' jogadores rumarem à Europa e aos países árabes atrás do dinheiro ou da fama. A verdade é que o campeonato brasileiro não tem nenhum impacto exterior, e tratando-se do futebol pentacampeão, é grave e tem que se dar uma volta a isso. Em futebol só a seleção brasileira tem prestígio, porque pode reunir os seus 'craques europeus'.

2) O Botafogo de volta exige uma diretoria disposta a trabalhar duro durante seis anos, muito séria, muito capaz, muito persistente e, evidentemente, com inteligência e perspectiva, que nesta diretoria é de nível zero. E não estou sequer falando de grandes títulos; estou apenas falando da reposição do respeito público pelo Botafogo e o reerguimento da sua torcida, assim como lançar novas bases de rejuvenescimento da torcida e de revelação de craques do clube, como no início dos anos sessenta - criando uma nova cultura clubista. A nossa torcida está a envelhecer a olhos vistos e os craques da sbases não aparecem.

Abraços Gloriosos!

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