quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O herói esquecido que desenhou um país

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Maria da Paz Trefaut
Correspondente do semanário Expresso em São Paulo

Quase quatro séculos de silêncio envolvem a passagem do português Pedro Teixeira pelo Brasil. O país não seria o gigante latino-americano que é hoje se não fosse a epopeia deste militar esquecido pela historiografia oficial. Pedro Teixeira nasceu em 1570, na cidade de Cantanhede, deixou Portugal aos 37 anos e comandou uma aventura na selva que daria à coroa portuguesa a demarcação do território amazónico.

Relida à luz do tempo, a expedição de Pedro Teixeira surge como uma odisseia incrível: tinha 67 anos quando subiu o alto Rio Amazonas (actual Solimões) em direcção aos Andes e a travessia durou dois anos, entre 1637 e 1639. A armada de Teixeira tinha mais de duas mil pessoas – seiscentos soldados portugueses e cerca de mil e duzentos índios acompanhados pelas mulheres e pelos filhos. Distribuídos em 47 canoas a remo, partiram de Gurupá, que na época pertencia ao Estado do Maranhão e Grão-Pará e, depois de atravessar a Cordilheira dos Andes, chegaram a Quito, no actual Equador.

Na volta, onde os portugueses acreditavam ser o Rio do Ouro, na fronteira do Peru com a Amazónia, Teixeira cravou um marco e fundou a vila de Franciscana. Um acto que mudou para sempre o mapa geopolítico da Amazónia.

Na época, Filipe IV de Espanha era Rei de Portugal e nas colónias sul-americanas vigorava o Tratado de Tordesilhas. Mesmo assim, o governador do Grão-Pará e Maranhão, Jácome Noronha, decidiu empreender a viagem a oeste de Tordesilhas à revelia da Espanha e quem, teoricamente, as terras pertenciam. E seguiu com os seus intentos mesmo tendo voz de prisão decretada pelas autoridades espanholas.

Escolhe, então, Pedro Teixeira, que já se havia destacado nas lutas contra os ingleses, franceses e holandeses, para liderar a expedição. Dificuldades de alimentação, mosquitos, calor e doenças foram adversidades que minaram a viagem desde o início até ao fim. No entanto, durante o percurso, o navegador descobriu rios, fundou povoados, deixou marcos, reuniu mapas e relatos. É esse material, que será usado posteriormente, em 1750, no Tratado de Madrid, que substitui Tordesilhas, para garantir a soberania portuguesa na região.

Historiadores como Jaime Cortesão, atribuem a Teixeira a “primeira grande bandeira fluvial da história do continente”. A falta de reconhecimento ao seu pioneirismo +e interpretado por alguns estudiosos como parte de um “silêncio geral” que cerca a Amazónia e a sua história. “Pedro Teixeira é uma figura de grande destaque histórico que nunca teve o merecido reconhecimento nem no Brasil nem em Portugal. Grande parte do território que temos devemos a ele”, diz o líder do governo no Senado, Aloísio Mercadante, que descobriu a figura histórica, por acaso, há dois anos e acaba de apresentar um projecto de lei para o inscrever no “Livro dos Heróis da Pátria”.

“Pedro Teixeira deveria estar na história do Brasil, nos livros de escola e nos livros portugueses. É preciso que seja recuperado e valorizado para que todos conheçam a importância geopolítica dos seus feitos”, afirma o senador, empenhado em envolver a comunidade portuguesa para fazer justiça histórica.

A mesma opinião é partilhada pelo especialista José Meirelles Filho, autor do livro “Grandes Expedições à Amazónia Brasileira 1500-1530”, que acaba de ser lançado no Brasil: “Se na história contemporânea há muitas restrições ao culto à personalidade, não é por isso que vamos deixar de reconhecer uma aventura louca e inconsequente, na qual foram desbravadas terras impenetráveis. Não há dúvida de que Pedro Teixeira é um grande herói esquecido”.

Semanário ‘Expresso’, 12 de Dezembro de 2009.

Nota do editor do blogue: Afinal, ainda há ‘heróis’ por descobrir e novos laços luso-brasileiros que marcaram a história do mundo, porque a Amazónia é verdadeiramente uma importante ‘coisa do mundo’.

***

PS: O meu querido amigo Luiz do Carmo ficou imaginando como é que eu “faria desta vez para arrematar, criando alguma ligação entre ele [Pedro Teixeira] e algo relacionado ao Botafogo”. Pois bem, tendo em consideração a magnífica amizade e identificação cultural que nasceu entre mim e o Luiz aí vai a ligação:

Há quatro Botafogo’s em Portugal: Sociedade Recreativa Unidos ao Botafogo, Botafogo de Cabanas, Botafogo de Coimbra e Botafogo Futebol Clube (Cordinhã). Este último Botafogo foi fundado em 1971 no concelho de CANTANHEDE. Eis a imagem do seu escudo alvinegro:


E… onde nasceu Pedro Teixeira?... Ora… nasceu precisamente no concelho de… CANTANHEDE!

Além disso, o Botafogo de Cabanas possui atualmente nos seus quadros um zagueiro chamado…PEDRO TEIXEIRA!

Confira esta informação no respetivo endereço da Internet (http://www.zerozero.pt/equipa.php?id=10345) e veja também o escudo do Botafogo de Cabanas:


6 comentários:

Gil disse...

Rui,

Por isso que o Mundo Botafogo é passagem diária obrigatória!

Obrigado pela difusão das belas artes, ciências humanas e afins!

Abs e Sds, BOTAFOGUENSES!!!

Igor T. disse...

Digo o mesmo que Gil.

Um grande abraço,

Ruy Moura disse...

Obrigado, meus amigos Gil e Igor. O nosso Botafogo abre sempre um 'espacinho' para coisas culturais, sociais e desportivas interessantes... E como eu tenho a paixão do Botafogo e da Lusofonia...

Abraços Gloriosos!

Lewis Kharms disse...

Rui, a história deste sujeito é fabulosa! Estou em busca da história do Dom Pedro I, que é muito pouco falada ou mal contada – oficialmente –, principalmente sua passagem e morte em Portugal.

(Fiquei imaginando como você faria desta vez para arrematar criando alguma ligação entre ele e algo relacionado ao Botafogo, rs).

Saudações alvinegras!

Lewis Kharms disse...

Rui, isso é perfeitamente fabuloso!

Se eu fosse um sujeito despeitado ou ‘narcisista patogênico’ diria que é ‘inaceitável’ ou ‘ultrajante’, tamanha a perfeição.

Obstinação? Talento? Capacidade produtiva e intelectual? Predestinação? Acaso? Sorte? Ou uma combinação de tudo isso? Não sei e o que importa é que está aí, com o requinte ou excesso (rs) do tal jogador homônimo. Sensacional!!!

Saudações alvinegras!

Ruy Moura disse...

Há quem diga que o acaso não existe... (rs)

Abraços Gloriosos!

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