terça-feira, 5 de abril de 2011

A história do Manequinho (I)


por RUY MOURA
Editor do Mundo Botafogo

O Manneken Pis de Bruxelas significa, em língua popular local, "o garoto que urina." A história conta que um garoto que se perdeu foi encontrado pelo pai, rico burguês, cinco dias depois, nu e urinado em público, e o pai teria mandado esculpir uma estátua de pedra no local aonde foi encontrado.

A estatueta é mencionada em um texto de 1452. Em 1689 as autoridades locais solicitaram ao escultor Jêrome Duquesnoy que realizasse essa estatueta em bronze. Célebre hoje em dia, o Manneken Pis é vestido por ocasião das festividades da cidade de Bruxelas, podendo-se visitar um museu situado na praça principal da cidade cujo vestiário do “garoto que urina” contém mais de 780 vestimentas.

A estátua foi roubada por soldados ingleses em 1745 e encontrada na cidade de Gramont, roubada por granadeiros franceses em 1747 e abandonada em frente a uma taberna. Informado do acontecido, o rei Luiz XV deu lhe uma roupa de marquês e nomeou-o ‘Chevalier de l´Ordre de Saint Louis’. Era brigadeiro de honra de vários regimentos e essa nomeação obrigava a tropa a prestar-lhe continência.

Em 1817 verificou-se novo roubo da estátua. Antoine Lycas, autor da ‘façanha’, foi condenado perpetuamente a trabalhos forçados. Muito popular e querida, a estatueta é o símbolo mais significativo da cidade de Bruxelas.

Pensa-se, erradamente, que a estatueta do ‘Manequinho’ existente em frente à sede do Botafogo de Futebol e Regatas seja uma réplica absoluta do Manneken Pis, que habita numa esquina da Rue de l'Etuve com a Rue de Chêne. Porém, há algumas diferenças significativas: a estatueta belga é muitíssimo menor, já que possui apenas vinte centímetros, enquanto o Manequinho possui cerca de um metro de altura; a estatueta belga representa um menino que tem uma cabeça enorme, desproporcional ao corpo, enquanto o Manequinho tem as proporções do corpo de um menino perfeito; a estatueta belga usa a mão esquerda para orientar o jato de urina, enquanto o Manequinho possui as duas mãos livres e urina livremente.


O Manequinho foi esculpido em 1906 por Belmiro de Almeida. O próprio autor narra como nasceu a sua obra num livro sobre o Rio Antigo (Correa, s/d: 164):

“Há dias, encontrando-me com o Belmiro de Almeida, na Tabacaria Lourdes, pedi-lhe o histórico da sua fonte e, prontamente, me satisfez o desejo.

Quer que fale do meu boneco, que o povo carioca batizou de ‘Manequinho’? Pois então escuta: foi em casa de um amigo que observei a sua filhinha ensaiando os primeiros passos na alameda do jardim e notei uma coisa curiosa na proporção das crianças, nessa idade; têm o tronco muito maior do que as pernas, o que não se verificava na formosa menina. Assim, pensei no “Mannekin Pis”de Bruxelas e comecei a modelar o meu Manequinho, servindo-me do modelo da menina.

Terminado o trabalho e passando o gesso, pensei em fundi-lo a cera e retocá-lo para o bronze; não encontrei, porém, nessa época, quem pudesse executar o meu desejo, e quando fui a Paris, em 1911, levei o referido gesso, que foi elogiado pelo professor La Vernne e outros, em meu atelier à Rua de Bagneux nº 7; nessa ocasião recebi também a visita do saudoso Nilo Peçanha e de outros caros brasileiros. Aí mandei fundir em bronze a estátua e quando retocava a cera, fiz as alterações onde achei conveniente. A primeira fundição perdeu-se no momento de ser vazada em bronze. Depois ainda fundi outro exemplar, em cuja cera modifiquei a expressão do rosto.


Lembrando-me que os artistas do mundo civilizado dedicavam as suas obras às pessoas gratas e amigas, como fazem entre nós os poetas e escritores, dediquei uma ao meu amigo e a outra ao Prefeito Rivadávia Correia. Em 1912, expus a estátua no edifício de Cinema Pathé, na Av. Rio Branco, e no dia da inauguração compareceu o Marechal Hermes da Fonseca, Presidente da República.

Em 1914 foi colocado o Manequinho na praça Floriano, sobre dois degraus, conforme manda a estética; sob minha orientação colocaram também uma torneira, a fim de regular a pressão da água, que deverá ser inconstante."

Na peça original estava gravada a seguinte inscrição: “Homenagem ao carácter reto e independente do Dr. Rivadávia Correia”.

No período de 1919, o prefeito Paulo de Frontim, como seu primeiro cuidado, foi retirá-lo, mandando-o para um depósito. Num país tropical, onde se bebe água todos os instantes, a imprensa falou, a Sociedade Brasileira de Belas Artes protestou, mas tudo em vão.

Contudo, na gestão do Dr. Aloar Prata (1922), foi novamente colocada a fonte na praça pública, mas no fim da praia de Botafogo, pois o lugar antigo estava tomado pelo “Manecão”, e a inteligência artística da Prefeitura instalou a fonte sem os dois degraus, parte integrante da composição artística. Assim, jaz a minha fonte, o meu querido Manequinho, num canto sujo de Botafogo.”

Fontes principais:
Magalhães Correa (s/d). Terra Carioca – Fontes e Chafarizes. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro

4 comentários:

Rodrigo Federman disse...

Muito legal, Rui! Estive lá em 2007 e tive que brigar com um grupo de turistas japoneses para que me deixassem abrir os braços com o manto do Botafogo em frente ao "Manequinho belga"! rs.
Abs e SA!!!

Ruy Moura disse...

A minha irmã é funcionária da Comissão Europeia em Bruxelas e eu já estive muitas vezes na cidade, mas nunca levei a camisa Gloriosa. Para a próxima juro que a levo e também vou fazer como tu. (rs)

Abraços Gloriosos!

Unknown disse...

Para os botafoguenses do coração um forte abraço

Ruy Moura disse...

Grande abraço, Jorge Pan!

Botafogo conquista Ouros na 5ª regata estadual

Crédito: Wallace Lima / BFR. por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo O Botafogo conquistou três medalhas de Ouro na 5ª Regata do Campeo...