terça-feira, 23 de julho de 2013

A dívida do Botafogo e as penhoras

por Rui Moura 

É público que o Botafogo não viu sequer o dinheiro da venda de Fellype Gabriel e de Andrezinho, e a eventual venda de Dória também teria a penhora da Fazenda Nacional.

Ora, quase todos os clubes têm dívidas dessa natureza e conseguem fazer acordos com a Fazenda Nacional para poderem seguir com vendas e contratações.

Como costuma dizer um amigo meu, das duas três:

» Ou a Fazenda Nacional quer estrangular o Botafogo, reforçando a perda do Engenhão também muito oportunamente criada pelo prefeito;

» Ou a diretoria do Botafogo é completamente incompetente.

» Ou, então, o Botafogo manobra nos bastidores para receber o dinheiro retido das duas últimas vendas, o que não resolve a situação de dívida se não houver um acordo.

Entretanto, os salários continuam em atraso e os jogadores não se concentram. É justa a reclamação dos atletas, mas não percebo o que é que a falta de salário tem a ver com a concentração. Só consigo compreender se se tratar de uma retaliação ao clube ou uma forma de pressão para o clube se empenhar no assunto.

Em qualquer caso, a verdade é que o Botafogo é um saco de pancada com esta diretoria quando toca a ser necessário assumir assertividade para defender os interesses do clube: (a) deixa que interditem o Engenhão por pelo menos ano e meio sem nenhuma manifestação oficial sobre o assunto (!!!); (2) não obtém acordo de pagamentos mais dilatados com a Fazenda Nacional; (3) não consegue alternativas de patrocínio, o que até é contraditório com a expedita criatividade do seu departamento de marketing. Ou será que a demissão do anterior diretor também não teve contrapartida capaz no departamento de marketing?

Espero enganar-me rotundamente, mas se a diretoria continuar com os seus joguinhos políticos e com a sua falta de assertividade, o que significa que nada de substancial será feito, estaremos na eminência de uma derrocada que levará por terra todo o trabalho desenvolvido pela equipa.

Espero enganar-me rotundamente, mas com a atual asfixia financeira e a aparente inação da diretoria, o time acabará por se desmanchar moralmente e terminar o ano com fugas de jogadores.

Se tanto nos custou reerguer o Botafogo, e creio que este ano se reergueu, tanto mais que finalmente bons jogadores querem estar no clube e outros querem entrar, seria quase crime de lesa-majestade se a diretoria não encontrar soluções no âmbito da sua responsabilidade estatutária.

“Gato escaldado de água fria tem medo”, diz o provérbio. E nós já fomos muito escaldados por decisões catastróficas ou por omissões de diretorias anteriores. Devemos exigir a esta diretoria transparência e soluções à vista, sob pena de termos que amenizar o nosso entusiasmo com a equipa para que uma desilusão profunda não nos deixe lacerados por golpes difíceis de sarar. As ‘facilitações’ nunca trouxeram bons resultados, mas revezes implacáveis.

Estamos no topo da tabela do campeonato brasileiro e isso exige dos corpos sociais do Botafogo atitudes à altura do bom momento que a equipa atravessa desde o início do ano.

Que bom seria se tivéssemos um futebolístico Brasil novo e um Botafogo resgatado dos prejuízos que, ano após ano, nos são injusta e manhosamente impostos sem que tenhamos dirigentes à altura de responder com sabedoria, coragem e competência.

Ou, então, o Botafogo espera, como diz Emerson Golçalves no seu blog Olhar Crônico Esportivo, a aplicação de uma máxima popular ajustada às dívidas ao fisco:
“Devo, não nego, e não pagarei porque a dívida será perdoada”.

Talvez nessa esperança, os maiores clubes brasileiros, apesar dos seus exponenciais aumentos de receita, fazem crescer ainda mais exponencialmente a sua dívida. Digamos que essa seria a ‘opção canalha’ que justificaria a inação, a gestão ruinosa e a manutenção social de tudo aquilo que a ética e a moralidade condenam.

Chegando-se ao ponto de ter que se escolher entre a ‘viúva’ (fisco) perdoar as dívidas ou os clubes baixarem radicalmente as suas receitas, então pode-se dizer que o futebol é um negócio que faz muita gente ganhar rios de dinheiro e que quem acaba por pagar são todos os contribuintes.

E apregoa-se com a maior cara-de-pau do mundo que os países ocidentais vivem em democracia.

6 comentários:

MAM disse...

Também estar enganado amigo Ruy

Ruy Moura disse...

Transparência precisa-se!

Abraços Gloriosos!

luiz sergio cunha disse...

RUI,

por princípio não sou a favor da perdão da dívida dos clubes, pois acho que a mesma é untada de privilégios não disponibilizados para os contribuintes que têm que trabalhar 3 meses no ano, para pagarem seu imposto de renda.
por outro lado, qualquer país do mundo que embutisse nos produtos o porcentual dos impostos aqui praticados, com o agravante de serem taxados n vezes e tomemos o exemplo da borracha in natura que é taxada, que vira pneu e é mais taxada ainda e que vira acessório de carro, que é mais taxada ainda e como estava dizendo, os outros países dispensariam o imposto de renda de seus cidadãos, pois o arrecadado é mais que suficiente, dando até para bancar as entourages, desde da cabelereira da dona marisa nas viagens internacionais e na sua ausência, o biscoito preferido do ex, cuja marca se chama rose.
outro aspecto é quanto os clubes gastaram e os governos passados usufruíram com conquistas de nossos atletas, sem um mínimo ressarcimento aos mesmos?
o assunto é pol~emico, mas tem que ser zerado de uma forma aceitável e ser imposto um novo procedimento com a devida seriedade.
abraços,
lscunha

Ruy Moura disse...

Luiz Sérgio, eu já acredito pouco (ou nada) nos atuais governos do Brasil, de Portugal ou de outros países europeus. Os bons políticos parece que se acabaram. Senão vejamos alguns exemplos europeus: Jacques Dellor deu lugar a José Manuel Barroso na União Europeia, Mário Soares e António Guterres deram lugar a Passos Coelho em Portugal; Willy Brandt e Helmut Khol deram lugar a Angel Merkel na Alemanha; Miterrand deu lugar a Sarkozy e a Hollande na França; velhos políticos italianos deram lugar a Berlusconi na Itália; na Grácia nem vale a pena falar, tal é o mundo de corrupção que se instalou; Gonzalez e Zapatero deram lugar a Mariano Rajoy, que está enrolado com fundos ilegais que financiaram o seu partido e, acusa um membro do seu partido, que recebeu dinheiro dele; Tony Blair deu lugar a David Cameron em Inglaterra. Este David Cameron foi notícia o ano passado porque, e cito, "O primeiro-ministro britânico e a mulher esqueceram-se da filha de oito anos num pub, onde beberam algumas canecas de cerveja com um grupo de amigos" (sic).

Quanto maiores são os impostos num país politicamente democrático, maior é o seu subdesenvolvimento - seja ele de natureza material ou de natureza imaterial.

Confesso que nem consigo ter uma posição sobre o que se deve fazer, porque faça-se o que se fizer há logo a seguir uma carrada de oprotunistas que furam os esquemas e reinstalam a vergonha pública.

Desejo muito que o Botafogo sobreviva entre os 12 maiores do Brasil, mas estrangulado financeiramente e com uma torcida que parece ter desistido dos estádios, não consigo fazer uma prospetiva sobre o nosso futuro. essa prospetiva é tanto maisn impossível quanto da diretoria não saem diretrizes públicas sobre que caminho está / vai tomar. Lembro que a diretoria ainda não se manifestou sobre a interdição do Engenhão. Pode uma coisa dessas num clube supostamente grande de um país supostamente democrático? Parece que os poderes estão completamente alheios aos interesses, num caso dos torcedores, e noutro, da população em geral.

Abraços Gloriosos!

Gil disse...

Rui,

Que existe algo por trás de tudo isso nós sabemos. Só não sabemos quais são e os verdadeiros!
Essa submissão, mais de três meses interditado, no caso do Engenhão é um sinal.

Além de tudo que você mencionou, é inadmissível os dirigentes errarem os estádios, arenas, para jogarmos.
Estive na final da Taça Rio em Volta Redonda. É cansativo e caro. Ir de ônibus é arriscar a dormir no município que fica distante 120 Km da capital.
Manter esse estádio para jogos do brasileiro é jogar dinheiro fora.

O que será do nosso amado Botafogo?
Querem deixar terra arrasada para a próxima gestão?

Abs e Sds, Botafoguenses!!!

Ruy Moura disse...

Gil, a incongruência foi sempre apanágio desta diretoria.

Não foi esta diretoria que contratou Vinícius Colombiano e Jefferson?

Não foi esta diretoria que contratou Tony e Loco Abreu?

Não foi esta diretoria que contratou Bolívar e Fábio Ferreira?

Não foi esta diretoria que contratou Márcio Azevedo e Lodeiro?

Não foi esta diretoria que contratou Jean Coral e Seedorf?

Está tudo dito: fazer planos para eles é traçar retas em cima dos joelhos... umas vezes vai bem, outras vezes vai mal... é a lei das probabilidades, nada mais do que isso... e nós que nos lixemos...

Como diria um amigo que eu tenho chamado Gil: pobre Botafogo!

Abraços Gloriosos!

O otorrino não me deu ouvidos

[Aos leitores interessados informa-se que as crônicas de Lúcia Senna no Mundo Botafogo foram publicadas em livro intitulado 'No embalo...