quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Campeão assassinado: a tragédia de Clei, vencedor em 93 com o Botafogo

por Alexandre Alliatti
Rio de Janeiro, 30.09.2013

“A madrugada de 6 de dezembro de 1996 foi a hora errada para Clei. (…) Na hora errada, no lugar errado, o jovem lateral-esquerdo do Botafogo, aos 22 anos, foi assassinado com um tiro na cabeça. Três temporadas antes, ele havia conquistado a Taça Conmebol com a camisa alvinegra, título que completa duas décadas nesta segunda-feira. (…) Junto com ele, morreu seu primo Wander, o verdadeiro alvo dos bandidos. Executado no banco dianteiro de seu automóvel, o atleta deixou noiva, pais e dois irmãos. E uma carreira promissora.

Clei Alves Pinto, nascido em 21 de abril de 1974, disputou 45 partidas pelo Botafogo, cinco delas no título da Conmebol. Marcou um gol pelo clube. (…) Em sua passagem pelo clube, fez um gol, em 31 de julho de 1994, em vitória de 1 a 0 sobre o Barra da Tijuca pelo Torneio Internacional Eduardo Paes. (…)

A ascensão foi rápida. E foi facilitada pela enorme dificuldade financeira do Botafogo. Em crise, o clube teve que recorrer aos jovens formados na base e a atletas baratos para formar a equipe que disputaria a Conmebol – fruto da vaga conquistada pelo vice no Brasileirão de 1992.

A estreia de Clei foi ainda em 92. Com 18 anos, ele participou da derrota de 1 a 0 para o Madureira, pelo Campeonato Carioca, em 24 de setembro. Mas foi na temporada seguinte que se firmou mais no time. E especialmente com Carlos Alberto Torres, um especialista da função, como treinador. (…)

Clei disputou cinco jogos na campanha do título da Conmebol. Entrou no decorrer da vitória de 3 a 0 sobre o Caracas e da derrota de 3 a 1 para o Atlético-MG. E foi titular na vitória de 3 a 0 sobre o Galo e nos dois jogos da final, os empates por 1 a 1 e 2 a 2 com o Peñarol. Na finalíssima, porém, saiu lesionado com dez minutos de jogo.

Depois do título continental, pouco a pouco, Clei começou a perder espaço, consequência do maior investimento do Botafogo em atletas experientes. Alguns deles seriam campeões brasileiros em 1995, quando o jovem lateral não estava mais no clube. Seu último jogo com a camisa alvinegra foi em 29 de outubro de 1994, a derrota de 5 a 2 para o Sport pelo Campeonato Brasileiro. Em 95, ele foi emprestado ao Ituano; em 96, foi para o Madureira. E aí retornou ao Botafogo, onde não jogou mais.

A carreira de Clei não estava em seu melhor momento na época em que ele foi assassinado. O lateral havia sido emprestado duas vezes pelo Botafogo. Era reserva. Mas a desesperança foi interrompida em 5 de dezembro de 1996 por uma notícia que poderia mudar sua história no clube alvinegro. Ele estava radiante naquele dia. Menos de 24 horas depois, porém, sua vida estaria encerrada. (…)

Clei, eufórico, passou o dia na praia. Mais tarde, foi à casa da noiva, Soraia. Ficou a seu lado até cerca de 3h, quando despediu-se dela. Para sempre.


A casa de Soraia era próxima à casa de Clei. Questão de metros. No meio do caminho entre elas, ficava o Beto's Bar, de propriedade da família do jogador - local de esquina onde as pessoas do bairro ainda se reúnem para tomar cerveja em cadeiras vermelhas na calçada e jogar conversa fora, observados por um pássaro preso em uma gaiola fixada na parede.

Clei parou ali. Comeu um misto quente e tomou refrigerante. Foi aí que Wander, seu primo, pediu carona para casa. Eles moravam praticamente juntos, em um espaço dividido dentro de um mesmo terreno: Wander à direita de quem olha da rua, Clei, seus pais e seus irmãos à esquerda. O primo fazia segurança em bailes funk. Por vezes, era violento. Tinha inimigos.

Wander não ia para casa de carro. Deixava seu veículo estacionado perto do bar. Foi por isso que pediu carona para Clei. Vitor, outro primo, se ofereceu para levá-lo. Clei disse que não precisava, que ele mesmo esperaria. E foi para seu automóvel, modelo Monza, cor vinho, placa LKB 8619. Lá de dentro, viu Wander ser alvejado por dois homens. E foi, ele próprio, baleado.

O automóvel do lateral estava com problemas no arranque. O grito de "Volta, Clei!", o último da vida de Wander, não surtiu efeito. Foram três tiros na direção do jogador, um deles certeiro, na cabeça. O relógio, por causa de um gesto automático de proteção, foi quebrado por uma bala. O atleta ainda foi socorrido. Em vão.

Clei foi assassinado porque estava no lugar errado e na hora errada - e com a companhia errada. Foi quem melhor viu os executores de seu primo e, por isso, acabou executado também.”


Imagens: Arquivo pessoal do atleta, reproduzidas por Globoesporte.com no endereço mencionado.

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