Antigamente
eu tinha uma leve simpatia pelo Atlético Madrid, mas desde que o ‘melhor
jogador do mundo’, formado na Academia do Sporting e sócio nº 100.000, passou a
representar o Real Madrid, confesso que torço pelo Real. Na verdade não tenho
um dilema pela frente: torcerei pelo Real mas continuo a simpatizar com o
Atlético, pelo que ficarei satisfeito com a vitória de qualquer dos dois clubes,
desejando sobretudo que proporcionem uma final digna da extraordinária Liga dos
Campeões, onde o futebol vale realmente a pena.
Em todo o
caso, o essencial foi conseguido: afastar, um a um, os arrogantes times
alemães. Por tudo o que foram no século XX e por tudo o que querem ser no
século XXI, os alemães mereciam a humilhação de o flamengo lá do sítio ser
goleado em casa por… 4x0! E pelo tal Real que quase toda a gente dizia que é
inferior ao Bayern e seria facilmente eliminado pelos alemães. Mas não foi, e a
sua superioridade tornou-se flagrante em ambos os jogos. Em Munique os alemães
não tiveram uma única oportunidade de marcar. Golear os rubros de Munique,
campeões da Europa em título, na casa deles, destruindo completamente o futebol
mito de Pep Guardiola, não é para qualquer um e não tem preço.
Ademais, o
único clube alemão pelo qual nutro alguma simpatia é o FC St. Pauli por ser o
clube europeu culturalmente mais à esquerda, que subiu à 1ª divisão da
Bundesliga em 2009/2010 e logo desceu à 2º divisão no ano seguinte, que é o
sitio onde uma estrutura como a do St. Pauli deve estar.
Voltando à
Liga dos Campeões, diria que o Troféu de Campeão da Alemanha devia ser dado ao
Real Madrid, já que eliminou o Schalke 04 nas oitavas-de-final (assegurando uma
goleada de 6x1 no 1º jogo), o Borussia Dortmund nas quartas-de-final (assegurando
outra goleada de 3x0 no 1º jogo) e o Bayern Munique nas semifinais (assegurando
duas vitórias e uma goleada fora de casa). Ficava-lhe bem o título alemão,
porquanto o Real usa um futebol veloz, de transições rápidas, piques em direção
à meta, cruzamentos através de laterais muito velozes, futebol espetáculo. Enfim,
um futebol a sério e não aquele tique-taque entediante que Pep Guardiola implementou
no Barcelona e agora importou para o Bayern, sempre à espera de um erro
adversário resultante do cansaço do tique-taque.
Hoje em dia
um vencedor não tem que ter necessariamente posse de bola. A Internazionale de
José Mourinho foi campeã da Europa com 30% de posse de bola e um time
claramente inferior aos outros três semifinalistas. Jogar sem bola e ganhar é
muito mais difícil e engraçado do que aquele ruminar intensivo de bola para cá
e bola para lá à espera de um deslize da defesa adversária. Simeone, o
treinador do Atlético Madrid definiu muito bem, em entrevista de anteontem, que
os times têm filosofias diferentes e o que importa é ganhar, mesmo que a opção
seja a retranca.
E Cristiano
Ronaldo, que se tornou o maior artilheiro da história da Liga dos Campeões da
UEFA numa só temporada, continua a pulverizar todos os recordes,
inclusivamente os de Lionel Messi – e muitos outros cairão no futuro próximo.
Aliás, em minha opinião, os dois atletas são incomparáveis: não há nenhum
futebolista atacante, ainda para mais oriundo da posição de meia (até
2007/2008), que faça tantos gols e de todas as maneiras como CR7, que sacode as
redes adversárias com o pé direito, com o pé esquerdo, de calcanhar, de coxa,
de peito, de cabeça, de voleio, de letra, de bicicleta, de lençol, de falta, de
penalty, em corrida de 30 e 40 metros, e ainda consiga ser um dos ‘garçons’ do
Real Madrid e ainda vá atrás para… ajudar à marcação dos adversários! Ou muito
me engano ou a história irá consagrá-lo como o mais completo e melhor jogador
de todos os tempos, porque em termos de jogador completo, só Pelé se pode
equipar a CR7. Temos o nosso Garrincha, evidentemente, mas, tal como Messi, era
um jogador de uma jogada só. Desconcertante como nenhum na história do futebol,
mas não completo.
Se Pelé foi
o futebolista perfeito do século XX, muito provavelmente Cristiano Ronaldo será
o futebolista perfeito do século XXI.
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