“O começo da crise
alvinegra coincide com o fim do milagre econômico brasileiro e seu auge com a
gestão de um filho dileto da repressão, o truculento Charles Borer.” – Sérgio Augusto, Placar Magazine de 9
de Março de 1984.
Finalmente, neste último artigo da série Ascensão e Queda
do Botafogo 1957-1972 (VI), será dada a palavra a Charles Borer Macedo. Sob o
título ‘Quero é patrimônio’ foi publicada uma entrevista com o presidente do
Botafogo à época, na Placar Magazine, nº 556, de 30 de Janeiro de 1981.
Assim que chegou à presidência, Charles Borer vendeu
General Severiano e também Marinho Chagas, o maior ídolo do Botafogo á época.
Na Wikipédia (rubrica Estádio de General Severiano),
lê-se o seguinte:
“O
estádio [inaugurado em 1938] foi
demolido quando o clube perdeu a posse do terreno na década de 1970. A última
partida neste estádio deu-se em 30/11/1974, empate em 2 a 2 com o Madureira. Em
1977, a sede foi vendida para a Companhia Vale do Rio Doce, o clube na época
era presidido por Charles Macedo Borer. Com a venda da sede, o futebol do
Botafogo foi para Marechal Hermes, e como o antigo estádio foi demolido, lá foi
construído um novo.”
Note-se que sendo a entrevista que se segue datada de
1981, Borer nunca nela aludiu à delapidação do patrimônio com a venda da nossa
sede à Companhia Vale do Rio Doce e defendeu (?), em toda a entrevista, o
aumento de patrimônio…
Eis alguns excertos da entrevista de Charles Borer
Macedo:
Nesta
entrevista exclusiva, Borer acusa de corrupta a oposição que quer derrubá-lo
do poder. E aponta como culpados pela decadância do time do Botafogo a
torcida, os técnicos incompetentes, a imprensa e os comunistas que, segundo
ele, queriam destruí-lo.
|
O
senhor vai passar para a história do Botafogo como um presidente odiado pela
torcida, um presidente que jamais formou um grande time. Isso não o incomoda?
Pouco
me importa a torcida. Torcedor é volúvel, só aparece na vitória. Se o time
perde, ele some. […] Torcida não é património, não faz o clube. Posso sair sem
título, mas deixo um clube. Se não consigo ser o primeiro, tanto faz ser vice
como último. […] A tese de João Saldanha de que clube de futebol não precisa de
patrimônio, e sim de títulos, é desastrosa. O futebol dentro do clube é como
uma vesícula no corpo humano: tem importância relativa, mas o sujeito vive sem
ela.
Em
sua gestão, o senhor sempre deu mais ênfase ao património do que ao futebol.
Mas em que o senhor aumentou o patrimônio do Botafogo?
Em
nada. Ou melhor, conseguimos Marechal Hermes. Onde construímos um estádio de 30
milhões, e um terreno em São Gonçalo, Niterói, além de gastarmos 25 milhões em
obras no porão do Mourisco mar e outras coisinhas.
Então
é a lei do cão: para o time, nada; para o património tudo?
Fiquei
como diretor técnico administrativo. […] Sabe o que descobri? O supervisor [Fulano de Tal], padrasto de
[Fulano de Tal], desviava compras para
sua casa. Falei com o presidente e não deu em nada. […] depois, numa excursão ao México, [Fulano de
Tal] trouxe todas as notas de despesas grosseiramente adulteradas. E sabe o que
me disse o [presidente]? Que eu
estava lhe criando muitos problemas.
Essa
acusação ao [Fulano de Tal] é grave. O senhor prova?
Tenho
muito mais coisas. E as contas de uísque que o Botafogo pagava para o
ex-presidente [Fulano de Tal] e
sua troupe de mordomos? […] Compraram
até uma geladeira especial e colocavam um produto para dar gosto de côco ao
gelo. Uma escandalosa mordomia. Por isso trato a todos como um bando. […]
Todos
o acusam de imobilismo e querem expulsá-lo. Que lhe parece?
Absurdo!
O time não é ruim, apenas dá azar. Os culpados foram os técnicos, um bando de
incompetentes.
Então
porque o time não ganha?
Um
dos grandes culpados é a torcida, que persegue o time, vaia, xinga, desestimula
nossos atletas. Quando fomos bicampeões em 67/68 e efetivamos a garotada, a
torcida queria resultados imediatos. A pressa afundou uma geração promissora.
Mas
a torcida tem direito a cobrar, porque paga ingresso e é dona do espetáculo.
Como
dona? Tem que saber respeitar o time. Olga, eu já não aguento mais cobranças.
Já estou com o saco cheio de ser esculhambado por qualquer um. Parte da
imprensa tem rabo preso e me critica. É gente que…
Quer
dizer que o Botafogo perde no campo e a imprensa é que é a culpada?
São
comunistas, comunistas. Sou perseguido porque meu irmão, Cecil Borer, foi
delegado chefe da divisão de polícia política e social, e depois passou para o
Dops. […] Sou um homem
perseguido pelo Partido Comunista, o martelo está permanentemente erguido sobre
a minha cabeça. Tenho informação oficial – repito, ocicial – de que há
infiltração comunista entre os botafoguenses. A partir disso, acionaram uma
campanha para me desmoralizar. Uma vingança contra meu irmão, que militou
contra os comunistas.
Na
última reunião do Conselho Deliberativo, a tal em que propuseram o seu impeachement, o senhor compareceu
acompanhado de forte segurança pessoal. Era contra quem: oposição, torcedores
exaltados ou comunistas?
Vale
tudo em política. Requisitei oficialmente três carros da PM e um da polícia ci
Lá estavam o superintendente da minha empresa de segurança e quatro amigos que
também trabalham lá Era para qualquer “eventualidade”. E mais: não perco a
próxima eleição presidencial. Vou fazer meu candidato, que seguirá a mesma
linha de manutenção do património. E sabe por que não perco? Porque coloquei,
com meu dinheiro, 400 novos sócios que votam até em índio se eu mandar. Isso é política,
e vence quem pode mais (ri com ironia).
Ainda
estão faltando 11 meses para o senhor deixar o Botafogo definitivamente – para
seus inimigos, uma eternidade. Serão seis anos de mandato e em nenhum momento o
senhor cumpriu o slogan de sua campanha: “da arquibancada para a presidência”.
Era
da arquibancada sim, mas da arquibancada de vôlei, de basquete e da que
construi em Marechal Hermes. Será que entenderam que era só da arquibancada de
futebol? (E ri novamente, agora com cinismo).
11 comentários:
Estarrecedor. A revolta é tanta com o que fizeram e fazem com o Botafogo que faltam palavras para descrever tanta indignação. A salvação do Botafogo só acontecerá o dia que a torcida tiver parte nos destinos do clube. Enquanto os senhores feudais continuarem no castelo de GS nada de bom acontecerá no clube, em especial no futebol. Que os que dirigem o clube a décadas são incompetentes isso é inegável, mas que tem fatores externos muito fortes querendo a derrocada do clube, disso eu tenho certeza. Abs e SB!
Rui, faltou o mais importante no meu cometário: na sua despedida da presidência, esse senhor ignóbil nos deixou um presente de grego: derrota 6X0 para os cathiformes, que aconteceu no dia da eleição presidencial do Botafogo. A crise que antecedeu esse jogo com o caso famoso envolvendo camareiras do hotel onde os jogadores se concentravam, envolvendo alguns jogadores pareceu coisa proposital, pois faltou tato, tanto do então técnico Paulinho de Almeida e desse crápula do borer. Nesse mal fadado jogo os atletas pareciam estar sem o menor interesse e tentando jogar a culpa no Rocha que os denunciou. Que foi muito estranho aquela partida e a crise que o precedeu isso foi. Quem conhece bem essa história é o Carlos Vilarinho. Abs e SB!
Rui,
As tuas mensagens comprovam o que sempre escrevo nos blogs, ou seja, o Botafogo se repete faz tempo. Parece o Brasil, politicamente!
Acho que o Borer foi professor do Montenegro, que está no poder desde 1993.
É a iminência parda do poder em General Severiano. Como a reprodução dessa entrevista lembrou da ditadura militar brasileira, o Montenegro está para o Botafogo como o General Golbery do Couto e Silva (ministro da Casa Civil) estava para todos os governos dos presidentes militares no Brasil.
Com exceção do primeiro mandato do Bebeto (2002), Montenegro indicou ou elegeu todos os presidentes, inclusive apoiou o segundo mandato do Bebeto* em 2006. Lembro que as nossas dívidas trabalhistas explodiram após o título brasileiro de 1995 com os atrasos salarias dos jogadores.
Se hoje devemos mais de 700 milhões, ao meu ver, Montenegro é um dos maiores culpados.
E os grandes beneméritos, beneméritos e sócios proprietários ainda querem manter o modelo político que vem falindo o clube. Abrir as portas de General Severiano não deve ser pior que tudo isso que aí está!
* Bebeto, ao meu ver, foi o melhor presidente que tivemos nesse período. Equacionou as dívidas, conseguiu Engenhão e nos tirou da segundona. Retornou com a credibilidade e respeito ao clube. Tudo que Mantuano, Rolim e o NÓDOA fizeram e retrocederam.
Pobre do atual Botafogo!
Pobre de nós, Torcedores!
Abs e Sds, Botafoguenses!!!
Amigos Sergio e Gil
A verdadeira crise começou com o Borer, que em dois meses de poder vendeu o Casarão e o Marinho Chagas. Vendeu o time todo.
O Emil Pinheiro conseguiu resgatar a nossa glória, mas Montenegro fez o segundo grande buraco nas finanças do clube.
Enquanto a 'velharia' mandar em GS, o nosso bem pode estar entregue às baratas, bichinhos que não conseguiam fazer pior do que diretorias como as de Montenegro, Rolim, Palmeiro e o NÓDOA.
Poder aos sócios-torcedores! Urge democratizar um clube que sempre foi democrático e está a tornar-se num bolbo a estiolar ao sol.
Abraços Gloriosos.
Sérgio,
Gostaria muito que você contasse mais sobre esse caso das camareiras, na véspera do clássico contra o esgoto em 1981.
Já ouvi falar outras vezes, mas sempre por alto.
Desde já grato,
Émerson.
Miserável!!!!!!!!!!!!! esse verme conseguiu como se eleger presidente do Botafogo???? e os seus seguidores ainda vivem no meio político alvinegro até hoje!!!! O Botafogo passou longos anos sem títulos devido ao sua administração suja!!! conseguiram apequenar um clube magistral e o retorno ao patamar de grande clube demora muito temos que ter paciência e ajudar o clube a voltar a sua posição histórica.
Destruir é fácil, Clayton, construir é muito mais difícil. Mas veja... só agora, quando a Odebrecht resolveu acionar o empréstimo é que esta diretoria decidiu processar o último e pior verme-presidente do Botafogo, assumpção. Só agora, em final de mandato... triste modo de atuar... assumpção devia ter sido imediatamente processado para ressarcir o clube dos seus desmandos.
Abraços Gloriosos.
Esse homem ceifou o destino do Botafogo, hj. Em dia seria uma potência, é lamentável.
É verdade, Pedro Paulo, mas já depois desta publicação li outras matérias e verifica-se que quando o Borer chega ao poder todo o negócio já estava montado pela presidência anterior. O inocente Botafogo pensava que as suas dívidas tinham que ser pagas à moda antiga patrimonial e decidiu vender o Casarão. Porém, o Flamengo que estava na mesma situação não procedeu do mesmo modo e safou-se. A ingenuidade da diretoria anterior preparou então todo o negócio que acabou tendo Borer como o homem que iniciou a grande crise. Mas a crise vinha de trás e ele 'apenas' se aproveitou de um negócio já quase fechado. Culpas imensas, claro, mas da diretoria anterior também.
Abraços Gloriosos.
Borer foi apenas mais uma estaca no coração do Botafogo. A venda já estava fechada na presidência de
Rivadávia Corrêa Meyer Jr.
Efetivamente é verdade, Thais. Noutras publicações sobre a matéria o assunto foi abordado. Foi Rivadávia e restantes dirigentes que, inocentemente, achavam que tinham que pagar a dívida subitamente e prepararam a venda. Borer aproveitou a onda e fechou o negócio já delineado. O flamengo foi mais esperto e não se preocupou com a dívida de quatro bilhões de cruzeiros! Quem se afundou fomos nós...
Abraços Gloriosos.
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