Rodolfo José Fischer ‘El
Lobo’, foto de Zeka Araújo
por TEIXEIRA HEIZER
Revista Placar, 1972
“Sou pago para jogar
bola, para fazer gols. Eu vivo disso.”
O começo foi duro:
“afilhado de Tim”, “enganador argentino”, gols perdidos, vaias, revolta, choro.
Aí, Tim, o “padrinho”, foi embora. Parecia o fim de “El Lobo”, Nada disso. Ele
começou a fazer gols, a receber aplausos, é ídolo.
Rudolph
Fischer, cidadão argentino, honrado chefe de família, excelente ponta-de-lança,
começa a falar de seus dias no Botafogo.
–
Não, não sei. Acho que houve boicote. Acho que foi inadaptação. Às vezes,
acredito que houve má vontade comigo. Mas quando recebo um passe como aquele do
Jairzinho, no jogo com o Santos, mudo minha maneira de pensar.
De
saída, Fischer faz questão de esclarecer que “não se sente um gringo no futebol
carioca”. Recorda que é filho de brasileiro e que conhece bem nossos costumes,
em nada tendo mudado seu modo de viver.
–
Vim para o futebol brasileiro a fim de ser feliz. Por isso me revoltei algumas
vezes. Mas foi impaciência. Talvez falta de adaptação. Agora, acho que tudo sai
bem. Acontece que, em todas as comunidades, os grupos estão formados. Existe
uma resistência natural quando alguém quer penetrar neles. Mas não sei se devo
considerar isso um golpe de má fé.
Insegura
ao definir sua situação no Botafogo, Fischer agora se diz um pouco culpado.
–
Cada um é diferente do outro em sua maneira de ser. Eu mesmo me sinto desigual
dentro do grupo, falo até outra língua. Esta circunstância pode ter me
prejudicado. Aqui houve mesmo disse-me-disse. Fatos mesmo, acho que não
existiram. Pelo menos os que pareciam ser meus inimigos sempre negaram esta
condição. É que temos temperamentos diferentes e, no meu caso, eu é que devia
me adaptar ao meio.
Fischer
não consegue esconder uma preocupação. Antes, porque seu futebol não aparecia.
Nervoso, tropeçava na bola, perdia gols feitos. Chegou até a ser gozado pela
torcida.
–
Agora, estou preocupado porque, de repente, a torcida me recebe como ídolo.
Contra o Santos, ao fazer o gol da vitória, quase fiquei louco com a torcida em
coro gritando muito meu nome.
Fischer
garante não se sentir vaidoso com os aplausos da torcida. Ele conheceu dias de
glória na Argentina, desde que começou a jogar pelo Missiones, clube do
interior.
–
Sou de uma cidade pequenina, um ponto no mapa, chamado Obera, no departamento
de Missiones. Meu pai, Benjamim Fischer, era o presidente do clube. Foi ele que
me encaminhou no futebol.
Aos
vinte anos, em 1964, Fischer era contratado pelo San Lorenzo. O rapaz comprido
de bom chute, capaz de terríveis rushes
pela esquerda, ganhava uns 100 dólares por mês e estreou contra o Argentino
Júnior.
–
Entrei num ataque de cobras: Caroti, Rodríguez, Doval, Vieira e eu. Comecei na
ponta porque não havia lugar para mim no meio.
Fischer
demorou a marcar seu primeiro gol, contra o Huracán. Mas quando isso aconteceu
ele já tinha a confiança da torcida e dos técnicos. Um deles marcou sua vida,
ensinou-lhe muitos segredos do futebol:
–
Foi o Tim. O maior estrategista que já vi.
Quando
Tim deixou o Botafogo, Fischer passou a temer pelo seu sucesso. Para muitos,
“estava encerrado seu reinado”. No mínimo, diziam que o técnico era seu
padrinho.
–
Acho que desmenti esta história. Nunca me senti tão bem como agora.
A
troca de técnicos não teve influência no seu futebol. Não quer ser injusto com
Leônidas, mas acha que a má fase do Botafogo sob a direção de Tim foi
circunstancial.
–
O sistema empregado pode influir sobre a produção de determinado jogador, mas
só se suas características forem violentadas. No nosso caso, não houve mudança
de sistema. Acontece que o técnico estava aproveitando as virtudes de cada um,
ajustando-as a uma maneira simples de jogar.
Hoje,
Fischer se sente quase adaptado ao grupo que, aparentemente, o repelia no
princípio. Treinou muito para responder dentro de campo aos seus detratores,
cuidou-se fisicamente.
–
Só faço treinar, jogar e dar assistência à minha mulher, Anamaria, e ao meu
filho, Frederico Alexandre, de onze meses.
O
Fischer que fala à Placar é bem diferente do jogador nervoso e aflito de há um
mês. Olha para Jairzinho como um parceiro no jogo e não como um inimigo.
–
Eu me considero um jogador de futebol. Não m meto em negócios, não conheço o Perón,
sou apolítico e a única massa que me seduz, no momento, é a torcida do
Botafogo.
Em
lua-de-mel com ela, Fischer está aí, perigoso, valente, talentoso, jogando
beijos para todos os lados.
–
Quando jogo beijos é porque fiz gols. E se fiz gols é porque estou bem. Com o
público e comigo mesmo.
6 comentários:
Era um prazer ver esse sujeito jogando com nossa camisa... Inesquecível!
Infelizmente não o vi jogar, Pedrin, porque nessa época não morava no Rio de Janeiro. O 'gringo' que eu gostava e vi jogar foi o Ferretti. Mas todo o mundo adorava ver o Fischer jogar.
Abraços Gloriosos.
El Lobo Fischer - vibrava muito com ele - honrou o manto sagrado sempre - merecia uma homenagem com certeza
Verdade, amigo. Outro pouco lembrado: Ferretti. Eu gostava dele. 'Arma secreta' da 2º parte, deu-nos muitas vitórias. Abraços Gloriosos.
Otimo jogador, ambidestro, vc não sabia qual lado ia explorar, otimo cabeceador, não se entregava em campo. Vi otimas partidas dele, em fim um jogador que não tem parametro no futebol atual.
Descanse em paz El lobo.
É verdade, Mário Paulo. El Lobo tinha uma fibra rara como jogador, e se comparado aos futebolistas de hoje em dia diria que tinha uma fibra r-a-r-í-s-s-i-m-a, associada a uma grande qualidade de jogo.
Abraços Gloriosos.
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