REPOSIÇÃO: ARTIGO PUBLICADO HÁ TRÊS ANOS
No dia 30 de janeiro de 1976, Charles Borer, o pior presidente botafoguense de todos os tempos [introduzido hoje, 09.01.2017: Maurício Assumpção conseguiu superar Charles Borer em incompetência], assina a venda da mítica sede de General Severiano para saldar dívidas feitas por corpos gerentes absolutamente inacreditáveis.
Desde aí, ano após ano, o Botafogo arrastava-se cada vez mais, sem sede e sem rumo. Porém, muitas lutas foram travadas pelo regresso ao mítico Casarão, destacando-se nesse combate César Maia, então Secretário de Fazenda do Estado, Marcelo Alencar, Prefeito, Marco Antônio Alencar, filho do Prefeito, e seu tio Guilherme Arinos (Presidente do Conselho Deliberativo), Althemar Dutra Castilho e Luís Antônio Catappan.
Por iniciativa de Marco Antônio e do Vereador Luiz Henrique Lima, do PDT, a sede de General Severiano, vendida à Companhia Vale do Rio Doce, em Janeiro de 1976, por Charles Borer, negócio que foi apontado como “início do fim”, foi tombada pela Lei Municipal nº 477, de 15 de Dezembro de 1983, que proclamava:
O PREFEITO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, Faço saber que a Câmara Municipal do Rio de Janeiro decreta e eu sanciono a seguinte lei:
Art. 1º - É declarado de interesse da comunidade, para efeito de tombamento e respectiva inscrição nos livros das Belas-Artes, do Tombo Histórico, Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico da Divisão do Patrimônio Histórico e Artístico da Secretaria Municipal de Educação e Cultura do Município do Rio de Janeiro, a antiga sede do Botafogo de Futebol e Regatas, situada na Avenida Vesceslau Brás nº 72, Botafogo.
Art. 2º - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
Rio de Janeiro, 15 de Dezembro de 1983.
MARCELLO ALENCAR
Prefeito
César Maia referiu-se então ao assunto desta forma: “O Botafogo tem dívidas trabalhistas históricas, que sempre receberam um tratamento irresponsável, mas que não significam a falência do clube.”
Antes de ser economista, o Secretário de Fazenda do Estado, César Maia, já era botafoguense. Ele recordava-se que, em menino, frequentava os vestiários do clube ao lado de Renato Estelita. Lembrava-se que os jogadores ficavam conversando com dirigentes e torcedores nas varandas de General Severiano, numa integração invejada pelos atletas de outros clubes. “Era uma curtição”, dizia ele em 1983. Com o fim da Sede, essa união havia sido desfeita.
A nova Lei dava o 1º passo decisivo para um regresso, embora ainda demorado, porque o imóvel tombado deixava de ter interesse para a Companhia Vale do Rio Doce.
A 25 de Março de 1985, ainda sem a sede, e após mais uma derrota copiosa por 6x1 para o Flamengo pelo campeonato carioca, Carlito Rocha mostrava toda a sua mágoa de um passado glorioso: – “Vendam General Severiano mas deixem, pelo menos, um pequeno pedaço de terra onde possa tremular a nossa gloriosa bandeira e ser lida uma frase curta: aqui existiu o Botafogo de Futebol e Regatas.” (O Globo, 25.03.1985)
Por sua vez, Maneco Müller realçava o paradoxo: – “Já vi clube de futebol sem time, mas é a primeira vez que vejo um time sem clube.” (O Globo, idem)
Nilton Santos, a velha Glória botafoguense, rechaçava o Botafogo de então: – “Este não é o meu Botafogo. Não é o meu, de General Severiano. Meu Botafogo defendia um bairro. Este time aí deveria chamar-se Marechal Hermes Futebol Clube.” (O Globo, idem)
O bicampeão do mundo recordava-se dos tempos de Carlito Rocha, Bebiano ou Paulo Azeredo: – “A gente fazia treinos com duas, três mil pessoas. Quando treinava, a gente ia para a varanda e ficava conversando com os dirigentes. Era uma grande família.” (O Globo, idem)
Porém, em novembro desse ano, a concretização do regresso antevia-se: – “Agora é definitivo. Convencidos de que a situação do clube assume contornos quase catastróficos, torcedores e dirigentes estão apostando alto naquela que é apontada como solução definitiva para as sucessivas crises que têm abatido o clube: a volta para a Zona Sul.” (O Globo, 10.11.1985)
Xisto Toniato animava-se: – “Enquanto não voltarmos a General Severiano, não seremos campeões. O torcedor tem que ver de perto os jogadores, tem que conhecer seus ídolos. E 90 por cento de nossa torcida está na Zona Sul.” (O Globo, idem)
E Maneco Müller mostrava um novo otimismo: – “Acho que o Botafogo tem agora coisas parecidas com a República. Por isso surgirá o Novo Botafogo com o espírito das Diretas Já e coisas assim. Tenho certeza.” (O Globo, idem)
Porém, somente em 1994 é que o Botafogo de Futebol e Regatas regressou à sua sede histórica, recuperando o seu bem patrimonial mais precioso, logo a seguir à torcida.
Pesquisa e texto de Rui Moura (blogue Mundo Botafogo)
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