domingo, 5 de dezembro de 2021

Margot: campeoníssima e ‘Atleta-Símbolo’ do Botafogo

Crédito: Boletim Oficial do Botafogo.

por ANGELO ANTONIO SERAPHINI & RUY MOURA

Colaborador do Mundo Botafogo & Editor do Mundo Botafogo

Margarida Tereza Nunes Leite, a ‘Margot’, mais tarde Margarida Tereza Nunes da Cunha Menezes, nasceu em Maceió, estado de Alagoas, no dia 16 de Outubro de 1924, e destacou-se como multicampeã, principalmente no voleibol, mas também em natação atletismo e basquetebol, tendo participado, ainda, em diversas modalidades como remo, ciclismo, tênis de mesa e vela.

Foi com 19 anos que Margot se estreou em competições de natação, sob a direção da mítica Maria Lenk, no dia 12 de setembro de 1943, no IV Circuito Oficial de Natação, obtendo a medalha de Ouro na prova 100m livres para Principiantes, com o tempo de 1’26”, e a medalha de prata na prova 200m peito para Seniores, com o tempo de 4’06”.

No ano seguinte (1944) Margot encontrava-se no auge da natação e aprendia voleibol na Escola Nacional de Educação Física e Desportos (ENEFD), sob a orientação da extraordinária Yvette Mariz, uma das maiores glórias do Botafogo, multicampeã de atletismo, basquetebol e voleibol, e recordista sul-americana e brasileira de disco e dardo.

De Margot, muitos e variados episódios sui generis se podem contar ao longo da sua soberba carreira. Descreveremos alguns.

Cesto contra (03.12.1949). Crédito: Boletim Oficial do Botafogo.

Em 1947 Margot praticamente abandonou a natação por conta dos seus constantes resfriados, mas por solicitação do Clube concorreu a uma prova de 100m nado de peito, na difícil piscina do Caio Martins, porque o Alvinegro queria dar uma lição à sua ex-nadadora Maria Angélica, campeã sul-americana, que sem mais nem menos se transferiu para o Fluminense. Como sempre, a fidelíssima Margot aceitou, e sem sequer ensaiar para a prova, mas com fibra e amor ao Glorioso entrou na piscina sob o riso dos tricolores e deixou a campeã sul-americana 5”1/10 atrás de si, registrando a sua mais épica e última vitória na natação.

A dedicação e a paixão de Margot pelo Botafogo foram reconhecidas pelo Clube, agraciando-a, em 1948, como Sócia Emérita, após brilhantíssimas conquistas em inúmeras modalidades.

No dia 19 de outubro de 1949, durante um jogo de basquetebol Botafogo x Tijuca, Margot deixou a quadra, porque estava adoentada, e recolheu ao vestiário. Eis senão quando lhe batem no ombro, a atleta se vira e uma jogadora tijucana lhe desfere um violento pontapé no estômago, deixando-a semi desmaiada para se vingar de Yvette, a quem dedicava uma raiva gratuita. Três dias depois Margot estava em quadra num jogo oficial de voleibol, quando as duas atletas se iam novamente defrontar, e a nossa amada atleta, polida e resoluta, respondeu com formidáveis cortadas e ganhou o jogo.

No dia 3 de dezembro de 1949 aconteceu talvez o episódio mais hilariante da sua carreira. Defrontando o Boca Juniores em jogo internacional de basquete na quadra do Flamengo, Margot arrebatou a bola a uma adversária, girou sobre si mesma e encestou na perfeição, mas… o cesto era o do Botafogo! Com a torcida atônita pelo encestamento contra, Margot percebeu a ‘anti-façanha’ e soltou uma das suas deliciosas gargalhadas. Todo o mundo acabou por rir, mas o austero presidente Carlito Rocha, grande amigo de Margot, sussurrou: - “Ela devia chorar…”

Crédito: Boletim Oficial do Botafogo.

Em dezembro de 1953 Margot teve operação marcada à apendicite, mas recusou-se a fazer para não desfalcar a equipe para o jogo seguinte. No penúltimo dia do mês acabou por ser operada, passou mal, mas ainda sob o efeito de anestesia murmurou para Alceu Mendes de Oliveira Castro: - “Dr. Alceu, quero ganhar os pontos do Flamengo…” E ganhou, garantindo o título do campeonato carioca de estreantes de 1953.

Ainda em convalescença durante o mês de janeiro de 1954, Margot apareceu no jogo contra o Velocino, de Belo Horizonte, devidamente uniformizada, assegurando que era apenas para estar à vontade, devido ao calor. Porém, numa breve distração da equipe técnica, em que a convalescente da apendicite entrou em campo de repente, defendeu uma cortada, sentiu a contração da dor e esse gesto foi o bastante para reanimar a equipe e conduzi-la à vitória de virada!

Esse ano, aliás, tornou-se inesquecível para a atleta. O ex-C.R. Botafogo comemorava 60 anos de existência, o ex-B.F.C. 50 anos e a nossa Margarida entregou-se ao Clube, de alma e coração, a tempo inteiro: dirigente, técnica e jogadora de voleibol, participou ainda na organização dos diversos festejos. Foi sua criação o escudo do cinquentenário que reuniu os 3 escudos do Botafogo, bem como a sua confeção, auxiliada pelas suas pupilas, das dezessete bandeiras do Clube para o desfile de 7 de agosto.

Prova de Remo (28.10.1956). Crédito: Boletim Oficial do Botafogo.

Nesse desfile, a ‘Atleta-Símbolo’ do Botafogo recebeu, na Tribuna de Honra, das mãos de Flávio Ramos, a medalha de prata ‘Honrar a Fidelidade’, atribuída a atletas com mais de 10 anos de atividade ininterrupta.

Na primavera de 1956 Margot adoeceu com otite e sinusite, que a afastaram das provas. Dias antes de uma regata o diretor de remo estava desolado e impulsivamente chamou a atleta. Surgiu pálida e queixosa e estava proibida de molhar a cabeça, mas perante a insistência dos dirigentes, Margot sentenciou: - “Eu vou morrer, Dr. Alceu, mas corro!” Correu, equilibrou a composição da yole e na sota-voga da já tradicional embarcação ‘Antares’ venceu a proa de virada com vantagem apenas de bico da proa.

Foi por iniciativa da ‘Atleta Símbolo’ do Botafogo de Futebol e Regatas que tiveram lugar, pela primeira vez, no ano de 1957, e com o apoio incondicional de Alceu Mendes de Oliveira Castro, as Olimpíadas Botafoguenses, inauguradas em 6 de outubro com um monumental desfile no Estádio de General Severiano. As Olimpíadas Botafoguenses, que decorreram entre 1957 e 1963, reuniam atividades como atletismo, boliche, basquetebol, futebol, futebol de mesa, halterofilismo, remo, tênis de mesa e voleibol, e ainda ’pequenos jogos’ entre crianças, além de gincanas.

Ainda em 1957, Margot completava 15 anos de atividade ininterrupta servindo o Botafogo (1943-1957) e foi agraciada com a medalha de ouro ‘Honrar a Fidelidade’.

Entre inúmeras ocasiões memoráveis realça-se o seu primeiro recorde de natação logo no ano de sua estreia (1943), a conquista do campeonato carioca de salto em altura em 1949, a sua espetacular vitória no remo em 1956, a criação das I Olimpíadas Botafoguenses e a consagração com a atribuição da medalha de ouro ‘Honra à Fidelidade’, ambas as ocorrências simultaneamente em 1957.

Angelo Seraphini visitando Margot no dia 16.10.2021, festejando os 97 anos da querida atleta. Acervo de Angelo Seraphini.

PROVAS E PARTIDAS da ‘Atleta Símbolo’ do Botafogo FR até 1957:

» Voleibol, 224

» Natação, 65

» Atletismo, 47

» Basquetebol, 22

» Remo, 6

» Ciclismo, 1

» Tênis de mesa, 1

» Vela, 1

» TOTAL (1957) = 367

TÍTULOS INDIVIDUAIS em múltiplas competições:

» Atletismo: campeã estadual de salto em altura; medalhas de prata em 80m barreiras e revezamento 4x100m.

» Natação: campeã estadual 100m peito, 200m peito, revezamento 4x100m livres; campeã de juniores, novíssimos e principiantes.

» Remo: campeã de yoles a quatro; medalhas de prata de yoles a oito; recordes – 100m peito principiantes, revezamento 4x100m livre novíssimos.

Margot fazendo bloqueio à rede. Crédito: Boletim Oficial do Botafogo.

TÍTULOS POR EQUIPE

» Atletismo: medalhas de prata.

» Basquetebol: campeã estadual (reserva), Troféu Armando Albano; medalhas de prata dos Torneios Aberto e Primavera.

» Natação: medalhas de prata de adultos, juniores, novíssimos e principiantes.

» Remo: medalha de prata do Torneio Primavera.

» Voleibol: campeã e vice-campeã brasileira, campeã estadual, Torneio da Cidade do Rio de Janeiro, Torneio Início e Jogos Abertos de Cambuquira; medalhas de prata estaduais e dos Torneios Início, Cidade do Rio de Janeiro e João Lyra Filho.

TÍTULOS COMO DIRIGENTE

» Voleibol (1952-54): campeã de estreantes e do Torneio de Apresentação de estreantes, vice-campeã de estreantes da 2ª divisão, campeã com a equipe juvenil masculina.

Margot foi a atleta do Botafogo com maior número de temporadas e maior número de títulos, além de ter sido a nadadora mais vitoriosa de todos os tempos com 25 medalhas de ouro e 21 medalhas de prata em 65 provas.

Em 1957 já acumulava 111 medalhas e 14 troféus.

Mais tarde, a campeoníssima foi laureada Emérita da Federação de Voleibol do Rio de Janeiro e Benemérita do Glorioso em 1959, sendo homenageada com a atribuição do seu nome a uma das quadras do complexo desportivo de General Severiano e, finalmente, foi consagrada como Grande Benemérita do Botafogo de Futebol e Regatas.

Margarida Tereza Nunes Leite obteve, ainda, o diploma de licenciada em educação física e técnica especializada em esportes aquáticos, natação, voleibol e ginástica rítmica, bem como se tornou Instrutora e Regente de cadeira de esportes aquáticos femininos da E.N.E.F.D.

Fontes principais: Blogue Mundo Botafogo e Boletins do Botafogo de Futebol e Regatas (vários).

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