domingo, 1 de outubro de 2023

Os idiotas somos todos nós

Fonte: violencianoesporte.blogspot.com

[Nota do Mundo Botafogo: Esta publicação tem como pretexto a decisão do Fortaleza em romper toda e qualquer relação com a Torcida Irmandade Tricolor e a Torcida Unida do Fortaleza devido aos episódios de violência de ambas as torcidas. Os momentos cruciais da vida exigem decisões corajosas, e ainda há dirigentes de clubes que o fazem, a bem do futebol, a bem de todos aqueles que querem torcer em paz e sem sobressaltos pelos seus clubes de coração. A violência exercida pelar torcidas organizadas – salvo raras excepções – é um dos assuntos fundamentais – entre outros, como a corrupção e o favorecimento clubista – para devolver ao futebol a possibilidade do exercício de lazer desportivo das famílias e de todos aqueles que tomam o futebol não como uma competição violenta e odiosa, mas sim saudável e apaixonante.]

por CÉSAR SEABRA | Diretor de jornalismo, botafoguense

Desde pequeno aprendi que futebol é apenas um jogo. Um dia você ganha, outro dia perde ou empata. Um dia você é campeão. Outro, rebaixado. Um dia choramos. Outro dia, comemoramos. O jogo termina. A vida vai em frente. As contas estão à mesa para serem pagas. E o dinheiro é curto.

Desde pequeno aprendi a entender cada partida como uma novela ou um pequeno romance, com princípio, meio e fim, mas nada esquemático. Mocinhos e vilões. Protagonistas e antagonistas. O goleiro que engole o frango, o artilheiro insinuante, o ponta indolente e mascarado, o árbitro perseguido, o pênalti desperdiçado no minuto final. Nos estádios ou em casa, gente apreensiva à espera do desfecho. A vida segue seu rumo. As contas continuam na mesa. E falta dinheiro no bolso.

Desde pequeno aprendi a ver arte na habilidade dos craques. O jeito de correr, a elegância ao tocar na bola, o drible, a malícia, o jogo de corpo. […] Desde pequeno aprendi a amar a festa das torcidas, a colorida democracia dos estádios. Masoquista que sou, quando o Botafogo levava um gol, gostava de admirar a comemoração rival. A gritaria tresloucada, a dança das bandeiras. Eu sofria, mas como aquilo era bonito.

Fonte: blog.chicomaia.com.br

Hoje, como explicar àquele apaixonado menino que treinos são invadidos por animais travestidos de torcedores? Como explicar que esses covardes, por conta de uma derrota, querem agredir jogadores e profissionais do futebol? Como explicar que esses imbecis muitas vezes são financiados pelos próprios clubes em todo o Brasil? Como explicar que a polícia não consiga identificar e prender esses selvagens? Como explicar o inexplicável, o intolerável, o inaceitável?

Na Copa de 1998 fui escalado para fazer uma grande reportagem sobre os hooligans. Com o medo maior do que o mundo, corri várias cidades francesas atrás dos vândalos. Para fechar a história, por sorte me deparei com Sir Bobby Moore, um gentleman. Puxei conversa e perguntei sobre o hooliganismo britânico. A resposta do lendário e amável capitão da seleção inglesa impregnou-se em minha memória: “Não falo sobre animal, falo sobre futebol.”

Para aquele menino, a paixão quebrou-se. O jogo ficou pobre e burocrático. A verborragia de técnicos e jornalistas especializados, insuportável. O humor e a leveza de uma boa discussão se perderam no tempo. Torcedores tornaram-se agressivos e irascíveis. O futebol foi tomado pela ignorância. E, bem lá no fundo, os idiotas somos todos nós.

Fonte: https://www.nsctotal.com.br/colunistas/cesar-seabra/os-idiotas-somos-todos-nos-2

1 comentário:

Lúcia Costa disse...

Que texto lindo e tão emocionante!
Parabenizo o autor ,concordando com cada palavra, cada sílaba, cada vírgula.
Sim, no fundo os idiotas somos nós.
Triste ter que concordar com isso, mas dentro do cenário atual ,a colocação é perfeita!
Lucia Senna

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