
Poeta e jornalista
Já me tinha apercebido disto faz algum tempo, mas tinha guardado para mim.
Não que fosse um segredo, mas talvez por falta de contexto ou para não pensarem que estou a querer influenciar. Mas agora que fiz uma viagem a Itália com paragem em Turim e que, curiosamente, a Juventus foi o segundo clube preferido pelos leitores do blog Mundo Botafogo, resolvi partilhar estes meus pensamentos, que parecerão ociosos para alguns, mas interessantes para muitos outros.
Quando se fala de Botafogo e Juventus vem logo à cabeça e à conversa dos entendidos aquela final electrizante de 1996 no estádio Riazor na Corunha. Como não lembrar? Golo cá golo lá, os italianos já vencedores, golo cá golo lá, os brasileiros empatam, nas grandes penalidades golo lá golo lá, do Botafogo. Campeão da Tereza Herrera com a particularidade única e tremendamente botafoguense de ter jogado com o uniforme emprestado da simpática equipa da casa, o Deportivo da Corunha. Diz-se que muita gente fez confusão através da televisão com as camisas também alvinegras listradas dos italianos. Quem deveria trocar o uniforme? Não sei, o que sei é que o Botafogo não tinha outro. Talvez tenha dado sorte e era bem preciso, pois a Juve tinha a equipa campeã europeia e nós alguns campeões brasileiros de 1995, e a roupa do Deportivo, mas muita raça.

A Juventus foi fundada em 1897 na cidade de Turim, capital da província do Piemonte, norte de Itália. A outra grande equipa e rival é o Torino (nome da cidade em italiano), fundado em 1906. Este é um clube de grande mística, pois foi a melhor equipa da Europa na década de quarenta. Porém, a tragédia do acidente aéreo contra uma igreja em Turim quando regressavam de Lisboa abalou inexoravelmente o clube e nunca mais retornou a esses tempos gloriosos.
Já a Juventus é o maior vencedor de campeonatos italianos e um dos maiores clubes do mundo. E se na cidade as paixões se dividem, no resto do país e no mundo os alvinegros dominam. Mas, além da capital, também o resto do Piemonte possui tradição futebolística pioneira na Itália, especialmente devido ao famoso quadrilátero piemontês do início do século XX em que constavam o Pro Vercelli (1892), o Novara (1908), o Casale (1909) e o Alessandria (1912). Só o Pro Vercelli venceu sete campeonatos seguidos nesses tempos de pioneirismo do Calcio (campeonato italiano).
A Juventus e o Torino conquistaram, no conjunto, quarenta e oito títulos entre campeonatos e taças de Itália. Portanto, mais títulos do que os dois grandes de Milão. Turim é, aliás, um segredo bem escondido, uma cidade que, não deslumbrando turistas, é para se descobrir aos poucos, desde as suas delícias (chocolates, gelados, café, Martini) à sua arquitectura racional, mas devidamente barroca quando necessário. Cidade de escritores e elegante com os frios Alpes ao fundo. Não contem o segredo a ninguém.
E, assim, por alto, e sem entrar em pormenores e muitos números, ficam aqui o que eu considero algumas coincidências entre o Botafogo e a Juventus de Turim.
· Ambos foram fundados por um grupo de jovens estudantes de um colégio.
· Por vezes, no seu emblema, a Juventus usa estrelas a representar conquistas. O símbolo do Botafogo é a mais que conhecida estrela solitária.
· O preto e branco do Botafogo deve-se ao facto de um dos seus fundadores ter estado em Itália e ter sugerido as cores da Juventus.
· A Juventus foi fundada em 1897 e o Botafogo Football Club em 1904, no entanto já existia desde 1894 o Clube de Regatas Botafogo. Raízes no século XIX.
· Ambos tiveram poetas como presidentes; Augusto Frederico Schmidt para o Botafogo na década de quarenta e Corrado Corradini para a Juventus no final da primeira grande guerra.
· Foram os clubes que nos seus respectivos países mais contribuíram com jogadores para as selecções campeãs do mundo.
· Ambos dominaram a década de trinta: o Botafogo foi tetracampeão carioca e a Juventus foi pentacampeã italiana.
· O técnico e preparador físico Paulo Amaral, um nome muito importante do Botafogo, foi treinador da Juventus na década de sessenta.
· Ambos os clubes só estiveram um ano na segunda divisão.
· Grande parte da imigração italiana para o Brasil era orginária da região do Piemonte.
· A mais emocionante final da Taça Tereza Herrera na Corunha foi a disputada entre as duas equipas em 1996.
Lisboa, 2008.
[Nota: Leonel de Jesus é um ‘velho’ amigo botafoguense que escreveu este artigo especialmente para o blogue Estrela Solitária / Mundo Botafogo.]
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