
José Mourinho é um vencedor nato. A minha simpatia por ele enquanto pessoa nunca foi muito grande, mas reconheço a sua enormíssima qualidade profissional.
Mourinho não foi jogador de futebol, construindo-se ‘cientificamente’ como treinador e não apenas por virtude do empirismo típico de muitos treinadores de futebol, sabendo criar e explorar oportunidades e esperar pelo seu momento de explosão técnica.
Quando Mourinho chegou a treinador principal (antes era adjunto de grandes treinadores) os resultados foram notáveis: lançou a irrelevante União de Leiria para os lugares cimeiros da classificação do campeonato, seguidamente dois anos no Porto deram a conquista de dois campeonatos nacionais, uma Taça UEFA e uma Liga dos Campeões, e nos dois anos seguintes de Chelsea conquistou o bicampeonato inglês para um clube que não era campeão há 49 anos, além das Taças de Inglaterra e de ter sido eliminado numa semifinal da Liga dos Campeões por influência direta da arbitragem.
Entretanto, rescindiu com o Chelsea e esperou o convite de um grande clube, tornando-se logo no primeiro ano campeão de Itália pela Internazionale, com muitos pontos de avanço e já com a Juventus e o Milan a disputar o campeonato em igualdade de circunstâncias (clubes que nos anos anteriores haviam sido punidos, respetivamente com descida de divisão e perda de pontos para a edição seguinte). Mourinho conseguiu um feito muito difícil de atingir: em três clubes diferentes de três países diferentes com campeonatos altamente competitivos tornou-se campeão sucessivamente em todos eles e logo ao primeiro ano em cada um deles. E em todos falando corretíssimamente a língua local: o materno português, o inglês rigoroso e o italiano que fez questão de aprender rapidamente antes de tomar posse do cargo de treinador da Internazionale.
A sua filosofia é aquela com a qual me identifico, e preconizo que o ‘meu’ Botafogo de Futebol e Regatas possa ter um dia um treinador com a linguagem futebolística de Mourinho. Não peço a altíssima qualidade de Mourinho, por uma questão de realismo, mas gostaria de um dia identificar um treinador botafoguense com uma linguagem ‘profissional’ e moderna, que conseguisse ser um líder indiscutível e dirigir os jogadores com inteligência e com conhecimentos técnicos aportados em novas tecnologias de treino e de condução de jogo [quer se goste dele ou não, julgo que o único treinador brasileiro em atividade dentro do país com características semelhantes – apesar do seu fiasco no galáctico Real Madrid – é Vanderlei Luxemburgo].
Numa entrevista ao semanário Expresso, de 02/01/2010, Mourinho fala assim da sua liderança:
“A minha liderança tem duas vertentes. É uma liderança humana, no sentido em que lidero um grupo de homens todos diferentes – idades diferentes, QI diferentes, diferentes a todos os níveis… E, nesse sentido, tenho de me adaptar a todos eles. Por outro lado, a minha liderança é intransigente nos seus objectivos. Lidero um grupo que quer vencer, e sem liderar não se vence. Tento em todos os meus actos de liderança ser humano, mas ao mesmo tempo intransigente.”
Acrescenta que a direção de jogadores é uma coisa não homogénea, mas heterogénea segundo as características de cada qual. Por mim concordo, porque creio que é profundamente ineficaz tratar de igual forma pessoas muito diferentes. Sobre isto, e continuando a sublinhar a expressão ‘intransigente’, coisa que um verdadeiro profissional deve perseguir, diz Mourinho:
“Não há duas pessoas iguais, e a universalidade das regras é uma coisa que discordo desde o princípio. As regras não devem ser iguais para todos. Mas tenho de ser intransigente nos objectivos. Há determinado tipo de princípios que são imutáveis. Não há a mínima hipótese de ser permeável a não ser intransigente em relação a eles. Eu sou o líder, mas somos todos profissionais da mesma indústria. Temos todos os mesmos objectivos. Se não tivermos, alguma coisa está mal. E nesse aspecto sou intransigente. Não há jogadores ricos nem pobres, nem com mais nem com menos títulos, nem europeus, nem africanos, nem jogadores em princípio de carreira ou em fim de carreira… Há simplesmente jogadores que são profissionais e que devem ser honestos consigo próprios, com aqueles que trabalham com eles, com o clube, com os adeptos, com o futebol… É nisso que sou intransigente, e não perco os meus princípios e as minhas orientações.”
Em geral, é apenas isso que eu peço. Não preciso de jogadores a beijar o escudo do Glorioso, nem a fazer juras de amor eterno rapidamente esquecidas. Quando neste espaço faço críticas fortes à incapacidade ou à ‘conversa mole’ de dirigentes, técnicos e jogadores, faço-o no sentido em que o Glorioso possa dispor, além de dirigentes que mereçam ser chamados como tal, jogadores que sejam “honestos consigo próprios, com aqueles que trabalham com eles, com o clube, com os adeptos, com o futebol…” É nisso que eu também sou intransigente.
E aproveitando a entrevista de Mourinho, que é longa e fala de muitas coisas sobre o futebol, acrescento a sua opinião sobre a questão da tecnologia no futebol, assunto com o qual concordo inteiramente:
“Não compreendo porque há-de ser o futebol um dos poucos desportos e uma das poucas áreas da sociedade que é vedada à tecnologia. Nós vamos para um jogo de futebol: os treinadores podem ter acesso à informação em tempo real ou quase. Eu posso receber no banco, cinco segundos depois de uma jogada, a imagem porque a quero rever. Posso receber estatísticas a cada 15 minutos dos parâmetros que defino. Os polícias e seguranças que estão no estádio têm acesso à tecnologia que não tinham há 15 anos. A comunicação social está a ver o jogo e tem uma câmara que mostra as jogadas. Porque razão é que o jogo, que é a essência de tudo aquilo, não tem apoio ao nível tecnológico? Sinceramente, não consigo compreender.” O Chelsea foi eliminado das semifinais da Liga dos Campeões por um gol validado que não tinha sido gol: “Fui eliminado [da final da Liga dos Campeões] por um gol que não foi gol. O râguebi tem acesso aos meios tecnológicos, o atletismo tem igualmente acesso, a natação também, tudo tem acesso às novas tecnologias, o futebol não… Faz-me um bocadinho de confusão…”
Provavelmente clubes como o São Paulo, o Flamengo, o Benfica, o Porto ou o Real Madrid concordam com o senhor Blatter e não são a favor das novas tecnologias…
Mourinho não foi jogador de futebol, construindo-se ‘cientificamente’ como treinador e não apenas por virtude do empirismo típico de muitos treinadores de futebol, sabendo criar e explorar oportunidades e esperar pelo seu momento de explosão técnica.
Quando Mourinho chegou a treinador principal (antes era adjunto de grandes treinadores) os resultados foram notáveis: lançou a irrelevante União de Leiria para os lugares cimeiros da classificação do campeonato, seguidamente dois anos no Porto deram a conquista de dois campeonatos nacionais, uma Taça UEFA e uma Liga dos Campeões, e nos dois anos seguintes de Chelsea conquistou o bicampeonato inglês para um clube que não era campeão há 49 anos, além das Taças de Inglaterra e de ter sido eliminado numa semifinal da Liga dos Campeões por influência direta da arbitragem.
Entretanto, rescindiu com o Chelsea e esperou o convite de um grande clube, tornando-se logo no primeiro ano campeão de Itália pela Internazionale, com muitos pontos de avanço e já com a Juventus e o Milan a disputar o campeonato em igualdade de circunstâncias (clubes que nos anos anteriores haviam sido punidos, respetivamente com descida de divisão e perda de pontos para a edição seguinte). Mourinho conseguiu um feito muito difícil de atingir: em três clubes diferentes de três países diferentes com campeonatos altamente competitivos tornou-se campeão sucessivamente em todos eles e logo ao primeiro ano em cada um deles. E em todos falando corretíssimamente a língua local: o materno português, o inglês rigoroso e o italiano que fez questão de aprender rapidamente antes de tomar posse do cargo de treinador da Internazionale.
A sua filosofia é aquela com a qual me identifico, e preconizo que o ‘meu’ Botafogo de Futebol e Regatas possa ter um dia um treinador com a linguagem futebolística de Mourinho. Não peço a altíssima qualidade de Mourinho, por uma questão de realismo, mas gostaria de um dia identificar um treinador botafoguense com uma linguagem ‘profissional’ e moderna, que conseguisse ser um líder indiscutível e dirigir os jogadores com inteligência e com conhecimentos técnicos aportados em novas tecnologias de treino e de condução de jogo [quer se goste dele ou não, julgo que o único treinador brasileiro em atividade dentro do país com características semelhantes – apesar do seu fiasco no galáctico Real Madrid – é Vanderlei Luxemburgo].
Numa entrevista ao semanário Expresso, de 02/01/2010, Mourinho fala assim da sua liderança:
“A minha liderança tem duas vertentes. É uma liderança humana, no sentido em que lidero um grupo de homens todos diferentes – idades diferentes, QI diferentes, diferentes a todos os níveis… E, nesse sentido, tenho de me adaptar a todos eles. Por outro lado, a minha liderança é intransigente nos seus objectivos. Lidero um grupo que quer vencer, e sem liderar não se vence. Tento em todos os meus actos de liderança ser humano, mas ao mesmo tempo intransigente.”
Acrescenta que a direção de jogadores é uma coisa não homogénea, mas heterogénea segundo as características de cada qual. Por mim concordo, porque creio que é profundamente ineficaz tratar de igual forma pessoas muito diferentes. Sobre isto, e continuando a sublinhar a expressão ‘intransigente’, coisa que um verdadeiro profissional deve perseguir, diz Mourinho:
“Não há duas pessoas iguais, e a universalidade das regras é uma coisa que discordo desde o princípio. As regras não devem ser iguais para todos. Mas tenho de ser intransigente nos objectivos. Há determinado tipo de princípios que são imutáveis. Não há a mínima hipótese de ser permeável a não ser intransigente em relação a eles. Eu sou o líder, mas somos todos profissionais da mesma indústria. Temos todos os mesmos objectivos. Se não tivermos, alguma coisa está mal. E nesse aspecto sou intransigente. Não há jogadores ricos nem pobres, nem com mais nem com menos títulos, nem europeus, nem africanos, nem jogadores em princípio de carreira ou em fim de carreira… Há simplesmente jogadores que são profissionais e que devem ser honestos consigo próprios, com aqueles que trabalham com eles, com o clube, com os adeptos, com o futebol… É nisso que sou intransigente, e não perco os meus princípios e as minhas orientações.”
Em geral, é apenas isso que eu peço. Não preciso de jogadores a beijar o escudo do Glorioso, nem a fazer juras de amor eterno rapidamente esquecidas. Quando neste espaço faço críticas fortes à incapacidade ou à ‘conversa mole’ de dirigentes, técnicos e jogadores, faço-o no sentido em que o Glorioso possa dispor, além de dirigentes que mereçam ser chamados como tal, jogadores que sejam “honestos consigo próprios, com aqueles que trabalham com eles, com o clube, com os adeptos, com o futebol…” É nisso que eu também sou intransigente.
E aproveitando a entrevista de Mourinho, que é longa e fala de muitas coisas sobre o futebol, acrescento a sua opinião sobre a questão da tecnologia no futebol, assunto com o qual concordo inteiramente:
“Não compreendo porque há-de ser o futebol um dos poucos desportos e uma das poucas áreas da sociedade que é vedada à tecnologia. Nós vamos para um jogo de futebol: os treinadores podem ter acesso à informação em tempo real ou quase. Eu posso receber no banco, cinco segundos depois de uma jogada, a imagem porque a quero rever. Posso receber estatísticas a cada 15 minutos dos parâmetros que defino. Os polícias e seguranças que estão no estádio têm acesso à tecnologia que não tinham há 15 anos. A comunicação social está a ver o jogo e tem uma câmara que mostra as jogadas. Porque razão é que o jogo, que é a essência de tudo aquilo, não tem apoio ao nível tecnológico? Sinceramente, não consigo compreender.” O Chelsea foi eliminado das semifinais da Liga dos Campeões por um gol validado que não tinha sido gol: “Fui eliminado [da final da Liga dos Campeões] por um gol que não foi gol. O râguebi tem acesso aos meios tecnológicos, o atletismo tem igualmente acesso, a natação também, tudo tem acesso às novas tecnologias, o futebol não… Faz-me um bocadinho de confusão…”
Provavelmente clubes como o São Paulo, o Flamengo, o Benfica, o Porto ou o Real Madrid concordam com o senhor Blatter e não são a favor das novas tecnologias…
2 comentários:
Rui,
Quando o Mourinho esteve de férias aqui no Brasil, vi uma entrevista e ele falou sobre o que voce descreveu. Chamou atenção a clareza do raciocínio e no modo direto de falar com os jogadores. Disse que consegue conhecer o jogador pelo seu olhar. Que já dispensou várias estrelas, nos clubes que passou, por esse olhar. Através de uma conversa, olho no olho, sabe o jogador que está disposto a trabalhar!
Como você, torço, quem sabe um dia, termos um técnico parecido. Alguém que escale o jogador por seu desempenho, habilidade, e não por imposição dos empresários e diretoria.
Agora mesmo a corja contratou, por cinco anos, cinco anos, um jovem do lixo mulambo que nunca atuou nos profissionais. Tem propensão a contusões, inclusive já sofreu duas cirurgias no joelho.
Essa é uma das contratações por influência e apadrinhamento dos parceiros empresários.
Enquanto isso Wellington Júnior, Rodrigo Dantas, Caio, Alex e outros garotos da base ficam "apenas" se destacando nos treinos e sendo preterido.
Como você diz: QUEREMOS O NOSSO BOTAFOGO DE VOLTA!
COMO DEMORA A CHEGAR O ANO DE 2012!
Abs e Sds, BOTAFOGUENSES!!!
Isso, Gil. Devido a questões financeiras, eu não peço um Mourinho, nem sequer um Luxemburgo, mais à mão, mas queria um PROFISSIONAL! Não treinadores que foram jogadores e não se atualizam com cursos de 'alto treinamento', e cujas conversas são 'moles' e às vezes roçando a 'babaquice'. E que de técnica apurada têm pouco, agarrando-se à 'raça' e à 'garra' para esconder as deficiências técnicas. Só quando tivemos bons treinadores é que ganhámos campeonatos. Foi asssim no tetra, em 1948, em 1957 e nos anos sessenta. Até no brasileirão ganhámos com um técnico já acima da média: o Autuori. Não se chega a campeão brasileiro com o PC Gusmão, o Ney Franco, o Geninho, o Cuca, o Mário Sérgio, etc. A não ser que o plantel fosse notável, o que não nos acontecerá certamente durante alguns anos pelo menos. Por isso, se quisermos ganhar alguma coisa, dependemos de possuir, ou não, um bom treinador nos próximos anos.
Abraços Gloriosos!
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