quarta-feira, 16 de junho de 2010

Minha sogra, minha cruz!

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[Editor de Mundo Botafogo: com todo o respeito pelas sogras e genros de todo o mundo, acho delirante o conto de Dirceu Rabelo, além de ser garantido que o coveiro torce pelo Botafogo…]

por Dirceu Rabelo
http://dirceurabelo.wordpress.com/2010/06/01/minha-sogra-minha-cruz/

Mesmo antes de conhecer sua futura esposa, a carioca Marina, Osvaldo já havia conhecido aquela que seria sua sogrinha querida, a avó de seus filhos. Foi numa roda de samba, com muita cerveja e mulatas em Santa Teresa, no Rio, que a jararaca apareceu com um gaiato, uns vinte e cinco anos mais novo que ela, doido pra arrancar dinheiro da velha. Como a Dona Juracy – era o nome da lacraia – era uma poderosa mão de vaca e não deu mole, o garotão se mandou e ela então começou a dar umas olhadas para o Osvaldo. Osvaldão, na dele tomando a sua geladinha, só de butuca, pra ver o que acontecia, nem notou os olhares do “descarrego”. Sorte dele, que quando ela se achegou e começou a jogar o seu 171 pra cima dele, apareceu a Marina, a filha mais nova dela e passou-lhe logo um baita sabão: – “Que bonito, heim mãe! A senhora, já avó de três netos, na gandaia desde ontem sem dar notícias pra ninguém!” As duas saíram dali e foram ao banheiro, mas Osvaldo sentiu que enquanto xingava a mãe, a moça olhou para ele de um modo diferente. Quando voltaram, Marina, na maior falta de cerimônia, pediu a Osvaldo um copo de cerveja. Osvaldo foi ao céu e voltou três vezes. Dali rolou papo sobre clube de futebol – os dois eram botafoguesnses – sobre signos: ele libriano, ela aquariana, com ascendente em touro; combinavam perfeitamente! Daí a pouco rolou um selinho e mais um, e um amasso e foi paixão pra mais de metro à primeira vista.

Mas aqui na terra, como sabemos, não existe ainda felicidade completa, Só pequenas ilhas de felicidade. De longe, ou melhor, ali do lado, a danada da futura sogra já armava pra cima do Osvaldo, e de seus olhos saiam faíscas de inveja e rancor em direção ao gostosão do genro. “Se ele não pode ser meu, de minha filha também não vai ser!” – Pensava ela.

Com pouco tempo o Osvaldo já estava casado com Marina e morando debaixo do mesmo teto que a sogra. A dona encrenca fazia de tudo para contrariar o genro. Pra começo de conversa, era flamenguista de não perder jogo no Maracanã. Metia a colher no meio do relacionamento, fazia fofoca para a filha, dizendo que ele era mulherengo, que gastava o dinheiro com coisas supérfluas e por aí, a sogra ia minando o casamento dos dois. Depois que a “sogrinha” descobriu então que ele não gostava de dobradinha, toda semana ela fazia uma panelada, sem aferventar direito as tripas, e o troço fedia a casa toda a bosta de boi. Era um suplício para ele.

Certo dia a sogra endoidou de vez; trocou o conteúdo do colírio do genro por suco de limão. Foi o maior bafafá, até que Marina, depois de lavar o olho do marido, tomou a decisão de se mudar com ele para uma meia-água que estava vazia nos fundos da casa da mãe.

Ali eles se ajeitaram e com o que ganhavam ia dando para levar a vida, comprando os móveis devagar e as coisas iam voltando ao normal.

Mas um dia teria que acontecer: Flamengo x Botafogo, decisão do Campeonato Carioca – e o Urubu só precisava de um empate – e a sacana da velha começou a enfeitar o quintal, a frente da casa, a casa por dentro, tudo, nas cores vermelho e preto. Desde cedo, aprontou o maior foguetório, que ela comprou e pagou um pivetão pra soltar, com o hino do Flamengo tocado o tempo inteiro no último volume. Os flamenguistas da região baixaram ali, porque a cerveja corria de graça e Osvaldo e Marina preferiram ficar quietos dentro do quartinho dos fundos. “A velha hoje está com a pomba gira dela à flor da pele!” – Pensou Marina.

Pra encurtar a história: Só no primeiro tempo o Botafogo meteu três gols no Flamengo, mais um nos acréscimos do segundo tempo. E o Armando Marques roubando para o Flamengo descaradamente! Quatro a zero! Botafogo campeão Carioca! Osvaldo e Marina vibravam baixinho ouvindo o rádio e lá na casa de D. Juracy, nem um pio, nem um ruído.

No dia seguinte, segunda-feira, Marina se levantou com Osvaldo para trabalhar e estranhou as luzes da casa da mãe ainda acesas, portas e janelas abertas e quando entrou a encontrou abraçada a um papel e deitada, morta na cama. Gritou pelo marido que a acudiu e quando ele chegou, ela já estava saindo para buscar socorro. Osvaldo puxou aquele papel amassado das mãos da sogra agora defunta e assustou-se quando viu que era uma foto sua, antiga, de sunga, na praia. A sogra gostava mesmo dele, coitada, e ele fez questão de contar isso para a esposa.

O enterro foi até bonito, no Cemitério São João Batista, com bandeira do Flamengo por cima do caixão. No final, Osvaldo pediu à Marina para ficar um pouco ali sozinho, enquanto o coveiro terminava o serviço. Marina, comovida, saiu um pouco para ver os outros túmulos ali por perto e Osvaldo aproveitou para pedir ao coveiro: – Olha aqui parceiro, toma aqui “cinquentinha” pra você selar bem esta sepultura, porque se “isso” volta…

E o coveiro: – Isso era sua sogra?

Osvaldo: – Adivinhão!

Coveiro: – Deixa comigo! E o coveiro caprichou no cimento da massa. E a sogrinha descansou em paz, para sempre… como nos sonhos de Osvaldo.
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Sem comentários:

Na altitude, faltou atitude; no planejamento, sobrou a falta dele

Crédito: Vítor Silva / SAF Botafogo. por DINAFOGO | Coluna “Botafogo nisso!” | Colaborador do Mundo Botafogo O Botafogo foi eliminado da...