terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Jogos inesquecíveis: Botafogo 1x0 Vasco da Gama

A exultante comemoração da conquista do título em 1989 ultrapassou todas as ansiedades dos botafoguenses registradas em jejuns anteriores: de 1912 a 1930; de 1935 a 1948; de 1948 a 1957. Foram 18 anos da primeira vez e, se considerarmos o período 1935 a 1957, o Botafogo apenas comemorou um título em 21 anos.

Tendo exorcizado todas as suas frustrações, os torcedores comemoraram com mais naturalidade o bicampeonato em 1990. A final poderia ter sido um jogo com pouca história, não fosse a interpretação que o Vasco da Gama fez do regulamento.

O Botafogo partiu para a final de 29 de julho de 1990 com uma campanha quase invicta, tendo perdido apenas um jogo para o América de Três Rios. O jogo não se apresentou fácil, porém, mais um sortilégio botafoguense permitiu dar a primeira cor significativa ao jogo. Joel, técnico do Botafogo, estava irritado com a atuação de Carlos Alberto Dias e decidiu substituí-lo por Gustavo, que mandou para o aquecimento. Mas o destino estava ao lado do jogador e do Botafogo. O meio campista Djair fez uma entorse no tornozelo e o treinador teve que manter Carlos Alberto Dias em campo. Eis que, minutos depois, fazendo uma rápida tabela com Valdeir, o camisa 11 botafoguense chutou de esquerda, na saída de Acácio, e marcou o gol da vitória, ante a frustração vascaína.

O gol deu início à festa alvinegra e, quando a partida terminou, o Botafogo fez a tradicional volta olímpica. No entanto, o Vasco da Gama tinha uma interpretação específica do regulamento (certamente combinada no caso de derrota), defendendo uma prorrogação.

O regulamento referia que a final disputar-se-ia entre os campeões da Taça Guanabara (Vasco da Gama) e da Taça Rio (Fluminense). Porém, no caso uma terceira equipa somar mais pontos ao final dos dois turnos (Botafogo), classificar-seia para a final e aguardaria uma espécie de semifinal entre os dois rivais. Nesse jogo o Vasco da Gama ganhou por 1x0 ao Fluminense e classificou-se para a final.

Ao perder a final, o Vasco da Gama produziu uma ‘pérola’ de imaginação: o clube considerou que ao ganhar o jogo ao Fluminense somaria dois pontos aos anteriores e, após o término do jogo da final, ambos estariam empatados em pontos, sendo necessário recorrer a uma prorrogação (!).

Então, quando o Botafogo abandonou o relvado após a sua ‘volta olímpica’, o Vasco da Gama decidiu que a equipa de General Severiano abandonara o campo e depois de 30 minutos exigidos pelo juiz para comprovar o ‘abandono’, os vascaínos auto-proclamaram-se campeões. Entretanto, a taça havia sido levada pelo Botafogo, pelo que os jogadores pegaram numa improvisada caravela de papelão e efetuaram a ‘volta olímpica’ – com um sorriso amarelo muito pouco convencido da conquista.

O árbitro primeiro e a Federação depois, ainda tentaram reverter a situação, já que o juiz da partida aceitou uma espera de 30 minutos com o Botafogo fora de campo e a Federação proibiu ao Botafogo carregar a taça na sua ‘volta olímpica’. No entanto, surgiu rapidamente outro troféu, levado pela Rádio Nova Friburgo e os alvinegros comemoraram devidamente.

A Federação acabou por dar razão ao Botafogo, que se sagrou campeão com um gol de um atleta quase substituído pelo treinador e perante um adversário comemmorando um título fantasma com uma improvisada caravela de papelão…

A final foi contra o C.R. Vasco da Gama no Maracanã: Botafogo 1x0 (gol de Carlos Alberto Dias)

FICHA TÉCNICA
Botafogo 1x0 Vasco da Gama
» Gol: Carlos Alberto Dias
» Competição: Campeonato Carioca (decisão)
» Data: 29.07.1990
» Local: Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro
» Público: 35.083 espectadores
» Árbitro: Cláudio Garcia
» Botafogo: Ricardo Cruz, Paulo Roberto, Wilson Gottardo, Gonçalves e Renato Martins; Carlos Alberto Santos, Luisinho e Djair (Gustavo); Donizete, Valdeir e Carlos Alberto Dias. Técnico: Joel Martins da Fonseca.
» Vasco: Acácio, Luiz Carlos Winck, Célio Silva, Quiñonez e Mazinho; Zé do Carmo, Marco Antônio Boiadeiro e Bismarck; Tita, Sorato e William (Roberto Dinamite). Técnico: Alcir Pinto Portela.


Texto e pesquisa de Rui Moura (blogue Mundo Botafogo)

2 comentários:

Anónimo disse...

Eu tava lá.

Namorava uma paulistana na época. Sexta-feira, peguei um onibûs prá Sampa. Adormeci, e lá pelo meio da viagem, acordo. Meu olhos dão de cara com o portão de uma fábrica onde se estampa, em tamanho garrafal, o número 22. Pensei imediatamente: o primeiro 2 se refere a 67/68, o segundo a 89/90.

Domingo de manhã, Andreia não acreditava que eu iria abandonar nossa recém sintonia de amor, por algo que ela não conseguia, ou não queria entender: " Mas por que é mesmo que vc vai voltar pro Rio tão cedo?"

Naquela tarde marcante, várias lembranças, mas a maior, o canto da torcida que só daria certo naquele dia: " Abenção João Saldanha".



Saudações Alvinegras,

Joe

Ruy Moura disse...

Abençoado Bicampeonatos!!!

Abraços Gloriosos!

O otorrino não me deu ouvidos

[Aos leitores interessados informa-se que as crônicas de Lúcia Senna no Mundo Botafogo foram publicadas em livro intitulado 'No embalo...