Primeira Fila, coluna de Mário Filho publicada n’ O Globo de 15.08.1942, no 38º aniversário do Botafogo Football Club.
3. Chico Figueiredo foi falar com Dona Tita. “Mamãe, quer saber de uma coisa? O Botafogo paga a clarabóia”. Dona Tita disse, então, que não esperava outra coisa. “Eu já sabia que vocês pagariam”. E Chico Figueiredo, vendo Dona Tita sorrir, desdobrou uma folha de papel almaço. “Que é isso?” “Uma subscrição, mamãe”. Dona Tita leu na primeira linha: “Subscrição para pagar a clarabóia de Dona Tita”. E na segunda linha: “Dona Francisco Teixeira de Oliveira, cinco mil réis”, Dona Tita encheu os olhos de água de tanto riso. “Então vocês quebram a minha clarabóia e eu tenho que assinar também a subscrição?” “De certo, mamãe. Todo mundo precisa ajudar. Senão, onde vamos arranjar o dinheiro?” Dona Tita molhou a pena. “A senhora não pode ficar atrás de Dona Chiquitota, mamãe.” “Eu sei”. E, como Dona Chiquitota, Dona Tita assinou cinco mil réis. O Chico explicou que já se tinha feito as contas. Cada vidro custava três mil réis. O shoot do Maranhão quebrara vinte e cinco vidros. Total: setenta e cinco mil réis. Dona Tita entregou a cédula ao Chico e perguntou: “Vocês já arranjaram outro campo?” “Estamos procurando, mamãe”. “Não é pela clarabóia. É pelo barulho, meu filho. Eu não suporta o ruído de vidro quebrado. Ataca-me os nervos”.
4. O Circo Spinelli instalara-se na rua Conde de Irajá. Flávio Ramos e Octávio Werneck viram o palhaço passar, montado de costas para a cabeça do barro. “Hoje tem espetáculo?”. E os moleques em volta respondiam: “Tem, sim, senhor”. Flávio Ramos enfiou o braço no braço de Octávio Werneck. “Vamos andando”. Era tarde. Emanuel Sodré parou a bicicleta perto deles. “Onde vocês vão?” “Queremos ver o circo. “Fica ao lado da minha casa.” - explicou Emanuel Sodré. E Octávio Werneck lembrou-se, então, que o terreno onde estava o Circo Spinelli era do “velho”. Lembrando-se disso, ele apressou o passo. Arrastou Flávio Ramos. Começando a falar sem parar. “Você sabe de uma coisa? Eu acho que arranjei um campo!” “Como? “O terreno é de papai”. “Que terreno?” “O do circo”. Flávio Ramos abriu mais o compasso das pernas. Em frente ao circo, eles pararam. Para entrar, em seguida. Para dar uma volta pelos fundos. As barracas dos artistas alongavam-se. Uma porção de barracas. “Aqui chega, não chega?” Flávio Ramos mediu, de olho, o terreno de barão de Werneck. “Deve ter uns setenta metros de frente por uns quarenta e fundo. Chega e sobra”.
Fonte: Blogue Arquiba Botafogo, de Paulo Marcelo Sampaio.
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