domingo, 22 de abril de 2012

José Mourinho, ‘O Especial’

José Mário dos Santos Mourinho Félix nasceu em Setúbal a 26 de Janeiro de 1963 e tornou-se rapidamente a figura desportiva portuguesa mais conhecida em todo o mundo.

Tão especial é Mourinho que, fora de Portugal, foi apelidado, nos três mais importantes campeonatos do mundo, de ‘The Special One’ (Inglaterra), ‘Lo Speciale’ (Itália) e ‘El Especial’ (Espanha).

Em diversas ocasiões foi eleito, por vários organismos internacionais, o melhor treinador europeu e mundial, em apenas dez anos de carreira com interrupção durante um ano.

Quem não conhece a carreira de José Mourinho e demonstra inveja sem razão aparente, não sabe que o treinador seguiu, segundo a minha opinião, a máxima de Umberto Eco acerca da defesa de uma tese de licenciatura, mestrado ou doutoramente/doutorado: “Sê humilde na elaboração da tese, mas defende-a com orgulho perante o mundo”.

José Mourinho foi professor de Educação Física no ensino secundário e foi por aí que começou a sua carreira de treinador: foi preparador físico do estrela da Amadora, e depois adjunto técnico). Em meados da década de 1990 foi contratado pelo inglês Bobby Robson (entretanto chegado a Portugal para treinar o Sporting) como… tradutor! Humildemente, Mourinho aceitou o cargo e era zoado por todos com a alcunha de… ‘Tradutorzinho’.

Enquanto os cães ladravam, Mourinho fazia a sua caravana passar. Aprendeu tudo o que pode com Bobby Robson e, simultaneamente, tornou-se indispensável ao treinador inglês. Acompanhou-o posteriormente no FC Porto e, mais tarde, foi com ele para o Barcelona. Quando Robson saiu do Barcelona, Mourinho continuou humilde e preferiu ficar como treinador–adjunto para aprender ainda mais com… Louis Van Gaal, grande treinador holandês.

Tendo elaborado humildemente a sua cátedra de saberes, José Mourinho aceitou um convite para treinar o Benfica (11 jogos) e, mais tarde, da mediana equipa da União de Leiria (31 jogos). No Benfica não ficou devido a eleições, porque o novo presidente levava já um outro treinador, que, diga-se, não vingou no clube. Após os excelentes trabalhos feitos nesses 42 jogos, José Mourinho entrou, então, na senda do sucesso com todos os seus raros atributos.

Em dez anos, ou melhor, em nove anos, porque esteve uma ano sem treinar à espera de um convite de um grande clube no final da temporada de futebol europeia de 2008, José Mourinho conquistou o que jamais algum treinador conseguiu conquistar em tão pouco espaço de tempo e em quatro dos mais importantes do mundo (Portugal, Inglaterra, Itália e Espanha). Não existe, na história do futebol, um treinador campeão português, inglês, italiano e espanhol, e cuja média de títulos é superior a dois por temporada. Porém, com a idade que possui (49 anos), José Mourinho ainda pode ganhar muito mais do que os 19 títulos de alto nível conquistados em apenas nove temporadas futebolísticas (incluindo o título espanhol deste ano e sem contar que pode ainda vir a ganhar a Liga dos Campeões Europeus).

As novidades e inovações trazidas por José Mourinho ao mundo do futebol, seja no domínio da preparação física, da exploração dos potenciais individuais de cada atleta, das metodologias de treino, das táticas e das estratégias em campo ou das novas modalidades de gestão das conferências de imprensa, são novidades e inovações absolutamente notáveis e únicas.

Como as palavras são escassas para falar desta figura simplesmente raríssima no mundo do futebol, cujo lema é “ganhar, ganhar, ganhar” e a que só o treinador franco-argentino Helenio Herrera (16 títulos de alto nível) se pode comparar como figura revolucionária do ‘desporto rei’, limito-me a listar os títulos de José Mourinho em apenas nove temporadas futebolísticas (19 títulos):

FC PORTO (Portugal): janeiro de 2002 a junho de 2004, duas temporadas (2002/2003 e 2003/2004).

» Campeonato Português (2002/2003 e 2003/2004)
» Taça de Portugal (2002/2003)
» Supertaça de Portugal (2003/2004)
» Taça UEFA, atual Liga Europa (2002/2003)
» Liga dos Campeões Europeus (2003/2004)

Nota: o FC Porto não era campeão europeu há 17 anos e nunca ganhara uma Taça UEFA; desde Mourinho não tornou a ser campeão europeu.

CHELSEA (Inglaterra): junho de 2004 a setembro de 2007, três temporadas (2004/2005, 2005/2006 e 2006/2007).

» Premier League (campeonato inglês): 2004/2005 e 2005/2006
» FA Cup: 2006/2007
» FA Community Shield: 2005
» Carlin Cup: 2004/2005 e 2006/2007

Nota: José Mourinho foi contratado com a condição de, num espaço de quatro anos, ser campeão inglês; Mourinho foi bicampeão inglês logo nos dois primeiros anos, quebrando um jejum de 49 anos do Chelsea sem conquistar o título nacional máximo; desde Mourinho não tornou a ser campeão inglês.

SEM CLUBE (2007/2008)

José Mourinho saiu do Chelsea em colisão com o russo dono do clube em setembro de 2007, em plena temporada futebolística a decorrer e teve que aguardar pelo final da época para receber novo convite de um grande clube europeu.

INTERNAZIONALE (Itália): junho de 2008 a maio 2010, duas temporadas (2008/2009, 2009/2010).

» Série A (campeonato italiano): 2008/2009 e 2009/2010
» Coppa Italia: 2009/2010
» Supercoppa Italiana: 2008
» UEFA Champions League (Liga dos Campeões Europeus (2009/2010)

Nota: José Mourinho tornou-se campeão europeu pela segunda vez num espaço de seis anos, terminando com o jejum de 45 anos da Internazionale sem conquistar o título de campeã da Europa; desde Mourinho não tornou a ser campeã italiana nem europeia.

REAL MADRID (Espanha): maio de 2010 até à atualidade, duas temporadas (2010/2011 e 2011/2012)

» Copa del Rey: 2010/2011
» Campeonato Espanhol: 2011/2012

Vale lembrar que José Mourinho eliminou o tão propalado e favorecido Barcelona da Liga dos Campeões Europeus em 2005 com o Chelsea e em 2010 com a Internazionale, e que os últimos jogos que realizou pelo Porto e pela Internazionale foram as finais da Liga dos Campeões Europeus, que conquistou fácil e brilhantemente por 3x0 contra o Mónaco e 2x0 contra o Bayern de Munique (note-se que o designado campeonato do mundo de clubes nunca foi considerado importante para os clubes europeus, já que se tratava, até há poucos anos atrás, de um jogo único amistoso patrocinado por uma fábrica japonesa de automóveis que opunha o campeão europeu ao campeão sul-americano).
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Mourinho nunca falhou, nem no Porto, nem no Chelsea, nem na Internazionale, nem no Real Madrid, conquistando para os clubes títulos que há muito tempo não se obtinham, e em diversas ocasiões Mourinho foi premiado por essas façanhas com os títulos de melhor treinador europeu e do mundo. Em oito anos consecutivos obteve 16 títulos:


» UEFA Treinador do Ano: 2003
» UEFA Equipa do Ano, Treinador do Ano: 2003, 2004 e 2005
» Onze d'Or, Treinador Europeu do Ano: 2005
» IFFHS Melhor Treinador do Mundo: 2004, 2005 e 2010
» Melhor Treinador do Ano (World Soccer): 2004, 2005 e 2010
» BBC Sports Personalidade do Ano, Treinador do Ano: 2005
» FA Premier League Treinador do Ano: 2004/2005 e 2005/2006
» Oscar del Calcio, Treinador do Ano: 2009
» Bola de Ouro da FIFA – Treinador do Ano: 2010

José Mourinho ainda inspira a ciência, tendo sido caso de estudo científico pioneiro mundial coordenado pelo Diretor do Laboratório de Expressão Facial da Emoção (FEELab), realizado e publicado sob o título A Neuropsicofisiologia da face: os movimentos e linguagens em figuras públicas. Estudo de caso com José Mourinho.

7 comentários:

Lorismario disse...

Rui. Mourinho no Botafogo. Acho que se o Eike "comprar" o Botafogo, o que deverá ocorrer em breve, há chances. Loris

Ruy Moura disse...

Ah! Ah! Ah! Impossível! Nenhum dos melhores treinadores do mundo sai da Europa. Só se o Brasil mudar de caminho (leia-se: Confederação, Federações, Comissões de Arbitragens, Dirigentes de clubes, etc.), é que haveria alguma hipótese, mas pelo que todos os envolvidos no futebol têm feito, creio que o futebol de clubes na América do Sul continuará a cair inapelavelmente.

Veja que o Carlos Queiroz rejeitou a proposta do Vasco da Gama; e o Queiroz, em minha opinião, está muitíssimo longe de se encontrar entre os melhores do mundo.

Por isso, entendo que o teu post é pura ironia com o Botafogo e com o Eike, creio. Boa malha...

Abraços Gloriosos!

Ruy Moura disse...

Mas também te digo, Loris, que se o Mourinho estivesse no Botafogo conseguiria, face ao medíocre cenário nacional, ser campeão brasileiro com ESTE TIME!

Porque o Mourinho leva cada jogador a explorar o MÁXIMO das suas potencialidades.

Quando o Mourinho assumiu o Real Madrid eu comentei, neste blogue, que ele levaria o Real Madrid finalmente à glória, porque ele sabe exatamente onde estão os 'males' e quais são os 'bens' a introduzir. E por isso o Mourinho conseguiu brilhantemente afastar o eterno Raúl que dominava o balneário e o eterno Valdano que dominava o departamento de futebol. Agora, jogando politicamente, 'ameaçou' que regressaria a um clube inglês, e o presidente do Real tremeu. Tremeu tanto que tornou a dar-lhe mais poder, a melhorar os salários dos seus adjuntos e a estender o seu contrato de trabalho a 2014.

O homem é notável dentro e fora do campo!

Abraços Gloriosos!

Lorismario disse...

Rui. O Eike deverá comprar o Botafogo sim. Não é gozação. Agora quanto ao Mourinho vir, não sei. Loris

Ruy Moura disse...

Estou longe dessa, Loris. O que é que sabes sobre isso? De concreto eu nunca vi nada realmente sério. A ser verdade apoio, porque acho que o futuro dos clubes é com um 'patrão' á moda dos clubes ingleses. Conta-me tudo. Aqui ou por e-mail, se quiseres.

Abraços Gloriosos!

Gil disse...

Rui,
Para corroborar tua mensagem sobre o Mourinho extrair o máximo de cada atleta, vi uma entrevista, não recordo qual foi o ano, do Mourinho no canal Sportv. Ele estava de férias aqui no Brasil!
Lembro dele falando sobre o Kaká. Disse que aguardaria a recuperação dele e olharia nos olhos para saber se estava com vontade de jogar bola. Disse que conversa nos olhos é a melhor maneira de conhecer e não se deixar enganar. Deu exemplos de outros jogadores que estavam afastados e recuperou por onde passou.

Abs e Sds, Botafoguenses!!!

Ruy Moura disse...

Gil, essa é uma das grandes competências de José Mourinho: falar olhos nos olhos, respeitar a capacidade de cada um e exigir ao máximo que essas capacidades expludam em campo. As equipas muitíssimo coesas de Mourinho mostram a sua enorme capacidade de liderar e unir um vestiário. Quando os jogadores deixam de pertencer aos planteis de Mourinho chegam a chorar quase convulsivamente. Eu nunca vi nada assim no futebol. Seja que clube for, o rasto de elogios que Mourinho recebe é absolutamente notável. Imagina, eu, que nunca fui adepto do estilo 'pessoal' de Mourinho, sou absolutamente fã do 'profissional' Mourinho. E olha que para eu ser fã de alguém é preciso muita demonstração de classe e ética. Se todos nós colocassemos nas nossas vidas o rigor profissional e a determinação de trabalho do Mourinho, as condições da sociedade seriam muitíssimo melhores.

Abraços Gloriosos!

O otorrino não me deu ouvidos

[Aos leitores interessados informa-se que as crônicas de Lúcia Senna no Mundo Botafogo foram publicadas em livro intitulado 'No embalo...