domingo, 6 de maio de 2012

O melhor da história


por Rui Dias
jornal Record, 05.05.2012

“Já lá vai o tempo em que precisava só de saltar barreiras para prosseguir o caminho vitorioso que o talento lhe reservou Hoje tem de escalar um Evereste todos os anos para ser feliz. Há oito anos foi para um Chelsea com meio século de jejum e ganhou; seguiu para o Inter Milão e, entre os arautos da tática, voltou a ganhar; foi para o Bernabéu, em confronto direto com a melhor equipa do mundo, e não é que venceu outra vez? Acusam-no de ser um treinador racional, que valoriza o resultado e recusa a aventura. Mas como explicar este Real Madrid que já bateu recorde absoluto da liga espanhola, com 115 golos marcados a duas jornadas do fim? E como enquadrar uma equipa que, se vencer os dois últimos jogos (em Granada e com o Maiorca), chega aos 100 pontos, meta que nem o Barcelona todo-poderoso de Pep Guardiola conseguiu atingir? (…)

Apesar dos 19 títulos, de ser campeão em quatro países diferentes e ter uma aura divina cada vez maior e mais brilhante, faltará a José Mourinho a associação a uma equipa de referência mundial. (…) Se der ao Real Madrid um ciclo hegemónico, será mais fácil atingir o reconhecimento como o único treinador de todos os tempos a conjugar o domínio de ciência e empirismo; discurso e método; coragem e inteligência; independência e inovação; estrutura e pormenor; liderança e vitórias. (…) Para ser o primeiro mito como treinador na lenda merengue (…) precisa que o madridismo se una à volta do seu conceito de liderança; que os adeptos apoiem a causa e levem mais longe a sua paixão pelos jogadores; que o clube funcione segundo as suas pretensões estratégicas. È fundamental que todos acreditem no comandante e se comprometam com o seu trabalho. E que sejam contraponto aos vampiros do mérito alheio que, por ignorância e despeito, olham para um génio absoluto do futebol e só vêem arrogância, provocação, capricho e insolência. (…)

Numa era em que tudo é espetáculo e negócio, Mourinho responde com o talento de quem aceita as regras e as transforma a seu favor. Está um degrau acima dos outros, porque domina todos os fatores relevantes para a sua atividade. Ninguém marcou tanto o futebol por dentro e por fora; na gestão mediática e no treino; na soma de títulos e na paixão que gera nos clubes que representa. Sendo agora difícil de aceitar a ideia, porque a contemporaneidade é inimiga do raciocínio e a inveja é a marca eterna dos medíocres, Mourinho está cada vez mais perto do lugar que tem reservado: o de melhor treinador da história do futebol. (…) No final da carreira (…) estará para o treino como Pelé e Maradona estão hoje para a bola.”

2 comentários:

Gil disse...

Rui,

Se os números do Mourinho, fosse ele treinador do barça e o do Real fossem do Barcelona seriam muito mais valorizados.
Aqui no Brasil temos a flapress e acho que no mundo temos a barçapress.

Abs e Sds, Botafoguenses!!!

Ruy Moura disse...

Isso, Gil. Flapress e Barçapress. Mas até concordo com as posições deles.Já viste se os energúmenos estivessem a realçar os feitos do Mou e do Real?... Certamente que alguma coisa estaria errada conosco... Teríamos que rever o que andamos a fazer de errado (rs).

Sempre tive muita desconfiança de mim quando alguém que não gosta de mim concorda comigo...

Abraços Gloriosos!

John Textor, a figura-chave: variações em análise

Crédito: Jorge Rodrigues. [Nota preliminar: o Mundo Botafogo publica hoje a reflexão prometida aos leitores após a participação do nosso Clu...