[Nota
preliminar: Em tempo de tragédia para a instituição Flamengo é bom lembrar que
os torcedores e as suas rivalidades – se forem sãs – é que asseguram a vida
duradoura dos seus clubes, independentemente dos momentos históricos em que os
maus dirigentes os conduzem.]
Desde que o
Club de Regatas Botafogo e o Club de Regatas do Flamengo se emularam nas águas
da baía da Guanabara ainda no século XIX e continuaram os seus combates no
futebol e nos demais desportos até aos dias de hoje, inaugurou-se a maior rivalidade
entre dois clubes no Rio de Janeiro, a cidade brasileira mais conhecida em todo
o mundo.
Sem
rivalidade – saudável! – o desporto não despertaria as poderosas emoções que
desperta. E se Flamengo e Fluminense fazem o ‘Clássico das Multidões’, se Flamengo
e Vasco da Gama fazem o ‘Clássico dos Milhões’, se Fluminense e Vasco da Gama
fazem o ‘Clássico dos Gigantes’, se Botafogo e Fluminense fazem o ‘Clássico
Vovô’, se Botafogo e Vasco da Gama fazem o ‘Clássico da Amizade’, quem faz o
‘Clássico da Rivalidade’ são… o Botafogo e o Flamengo!
Os mais
fantásticos eventos de rivalidade clubista no Rio de Janeiro tiveram, e ainda
têm, como protagonistas, o Botafogo de Futebol e Regatas e o Clube de Regatas
do Flamengo. Estejamos a falar das vitórias e das derrotas, ou das histórias
mais bonitas e mais feias, tais como o nascimento do ‘urubu’ como símbolo
flamenguista – saído da provocação botafoguense – até ao ‘chororô’ como estigma
botafoguense – saído da provocação flamenguista – não há, em todo o estado do Rio
de Janeiro, clubes mais ligados entre si ao longo das suas histórias
centenárias.
Se o
Botafogo ganha por 9x2 ao Flamengo, o Flamengo desforra-se em um 8x1. Se o
Botafogo ‘humilha’ o Flamengo com 6x0 no dia do seu aniversário, o Flamengo
desforra-se com outro 6x0 anos depois. Se o Botafogo derruba o Flamengo numa
decisão por 3x0 (1962), o Flamengo desforra-se em outra decisão por 3x0 (1992).
Se o Flamengo zoa o Botafogo com a expressão ‘chororô’ após uma conquista em
cima do Glorioso, eis que logo surge Loco Abreu para ‘humilhar’ o Flamengo com
uma ‘cavadinha’ que conquista o título carioca e nega o tão desejado
tetra-campeonato ao Flamengo.
O Botafogo é
maior quando enfrenta o Flamengo nos campos, nas quadras, nas piscinas ou nas
águas; o Flamengo é maior quando enfrenta o Flamengo nos campos, nas quadras,
nas piscinas ou nas águas.
Pesquisa de
Rui Moura (editor do blogue Mundo Botafogo).
6 comentários:
Quando pensamos no futebol brasileiro vem logo à nossa mente algumas clássicas rivalidades. Uma delas é o Botafogo X Flamengo. Essas rivalidades , acho eu, são imprescindíveis ao futebol. O resultado é um interesse enorme das torcidas e da mídia. Os estádios ficam lotados, com bandeiras dos times a tremular ao som dos hinos cantados fervorosamente pelos torcedores. É um verdadeiro espetáculo! Bonito de se ver é que diante de uma tragédia toda essa rivalidade some, dando lugar à solidariedade entre todos os clubes. Emocionante a presença de torcedores do Botafogo e de outros times, dando um abraço simbólico em volta do estádio do Flamego na Gávea, por ocasião do falecimento absurdo dos 10 meninos no Ninho do Urubu. Alí, não existia Botafoguenses, Vascaínos ou Fluminenses. Havia tão-somente seres humanos chorando a dramática morte de futuros jogadores que deixaram a vida muito, muito antes da hora.
Tua pesquisa, Ruy, está excelente. Parabéns, querido!
Beijos Gloriosos
Rui, só um adendo em mais um maravilhoso texto de tua autoria: aquele 3x0 foi em 1962, não em 1960.
Verdade, Lúcia. Só é pena que a mídia continua sendo a mesma escória desportiva de sempre. O Botafogo foi dos primeiros clubes a solidarizar-se, a baixar a bandeira, a disponibilizar, entre outras coisas, a sua psicóloga para apoiar as famílias dos jovens que pereceram. Porém, o programa 'Fantástico' da Globo juntou 19 cavalinhos (clubes da Série A) em torno do cavalinho do Flamengo, ladeado pelos cavalinhos de Vasco e Fluminense, enquanto o cavalinho do Botafogo ficou lá atrás, na última fila, sem visibilidade. É um nojo esta escória desportiva da mídia até nas homenagens. Nem na tragédia têm vergonha nem pudor.
Beijos.
Claro, José Carlos, foi no 'Ano do Mané', obviamente. Muito obrigado pelo alerta!
Abraços Gloriosos.
Que texto lindo, é exatamente isso.
Cresci vendo o Zico dizer que o clube que o mais fez sofrer foi o Botafogo, sofrimento que diminuiu justamente com a geração de Zico como protagonista.
Mas o destino é tão mágico e mais mágico se torna quando essas camisas se confrontam, que a última final de Zico foi justamente a volta do Botafogo as conquistas em 1989.
Me lembro muito bem desse campeonato, íamos a minha família de Rubro Negros, com a família Botafoguense de um grande amigo.
Aquele time do Botafogo que era excelente , me lembro de Gottardo, Mauro Galvão e seu gol de peixinho, Maurício e o folclórico Mazolinha, tinha um exuberante Josimar, como jogou aquele campeonato!
Aliás, como jogava quando era um pouco responsável o Josimar, um craque em potencial que infelizmente não soube explorar por toda carreira.
Naquele campeonato de 89 ao menos nas minha memórias, Josimar fazia chover.
Foi a primeira vez que vi meu pai chorar por futebol, perguntei o motivo e ele disse que o Zico não merecia terminar a carreira assim.
Quase 30 anos se passaram, e a última final do Zico foi daquelas eternas, gigantesca e se naquela oportunidade perdemos, teve o gigantismo que a carreiro do Zico merecia.
Esse jogo ficou e ainda mora no meu peito, depois fomos a forra em 92 e vcs em 95, vcs em 2010, nós em 2013 e estamos nessa como sempre estivemos.
Que bom que o Flamengo tem um rival gigante como o Botafogo.
Abraço Rui!
Gentil como sempre, Leymir... E como Você gosta de futebol!!! Lembra-se de tudo, e com muita emoção! Espetacular!
PS: Cá por mim não atribuo nenhuma importância ao Zico ter perdido a última final. No momento, a emoção transborda as pessoas, mas à distância do tempo, o que fica não é a última decisão, mas a carreira toda. Veja: a carreira de Zidane terminou com a sua expulsão após dar uma violenta cabeçada no peito do adversário. Foi feio, mas a carreira foi fabulosa e a de treinador, que começou muito bem, ainda promete no futuro...
Grande Abraço, Leymir!
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