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– Reprodução
por MICHEL LAURENCE
–
Comunista!
Já
teve época em que os jovens com ideias mais avançadas, mais revolucionárias,
mais parecidas com as ideias de hoje, eram chamados de…
–
Comunista!
Era
sério, podia até sair briga.
A
propaganda americana anticomunista na época da União Soviética transformava o
comunismo no partido que queria acabar com todos os outros partidos,
principalmente com a “liberdade” americana.
Os
jovens cabeludos e barbudos eram imediatamente taxados de…
–
Comunista!
No
Botafogo surgiu um rapaz vindo de Jaú, no interior de São Paulo, na categoria
de juvenis (naquela época não tinha esse negócio de categoria de base), quase
imberbe, com muito talento para o jogo de bola. No início era como qualquer
outro rapaz tentando fazer a vida jogando bola. Mas ao mesmo tempo ele continuou
a estudar. Na faculdade seus companheiros e alguns professores foram colocando
ideias em sua cabeça. Ideias que não faziam parte no seu dia-a-dia como
provável futuro jogador de futebol.
Os
outros jogadores estranhavam um pouco, a transformação pela qual o estudante
universitário, um fato muito raro na época, ia passando. Cabeludo, barbudo, que
era como seus companheiros de faculdade se comportavam. Mas tudo ia acontecendo
sem maiores atropelos, até que um novo e muito importante técnico assumiu o
Botafogo.
Mário
Jorge Lobo Zagallo, bicampeão do mundo como jogador em 1958 e 1962 e campeão do
mundo como técnico em 1970, logo notou que aquele cabeludo, barbudo, agora
jogando nos aspirantes, podia acabar com os problemas que enfrentava com o meio
de campo titular.
Chamou
o rapaz:
–
Afonsinho é isso, você vai ser o meia
armador do time titular! Mas é “preciso” que você corte o cabelo e tire a
barba.
Foi
um choque, primeiro porque Afonsinho nunca imaginou que poderia ser titular do
Botafogo, depois pelo fato de Zagallo o mandar cortar o cabelo e a barba.
–
Mas, seu Zagallo… – tentou
argumentar.
–
Não tem nem mais, nem menos. No meu time
não joga quem mais parece com um Che Guevara do que com jogador de futebol.
Não
era defeito de Zagallo, era a mentalidade da época.
–
Seu Zagallo, o senhor vai me desculpar,
mas não raspo a barba, nem corto o cabelo.
–
Então também não joga – finalizou
Zagallo.
Apenas
ninguém esperava que esse pequeno ato de rebeldia transformasse Afonso Celso
Garcia Reis em uma espécie de símbolo de resistência à ditadura militar do
general Garrastazu Médici.
A
longa luta de Afonsinho pelo passe livre que começou no próprio Botafogo e
verdadeiramente não terminou até quando encerrou sua carreira de jogador no
Fluminense e a tenacidade com a qual mostrou que valeu o primeiro verso da
música “Meio de Campo” criada por Gilberto Gil, Meu caro amigo, Afonsinho,
Quase uma reverência à importância de Afonsinho na vida do brasileiro.
2 comentários:
..Excelente.materia caro.Rui..é gratificante constatar que a história do nosso Botafogo se confunde com fatos históricos da nossa patria,por isso somos gigantes. Por outro lado, é angustiante conferenciar um certo apequenamento diante do resgate das ideias mais covardes, pusilânimes e sombrias que agora grassam . Já não podemos contar com personas como Afonsinhos, em um ambiente esportivo corrompido, mas suas idéias vão continuar nos encorajando a sair desse vale para a luz...viva à Afonsinho..abraços gloriosos caro Rui..ninguém pode deter essa chama..
O Botafogo de tanta história foi hipotecado por uma cambada de safados que se acharam/acham de 'elite' e de 'boas famílias'. Não passam depredadores com grandes responsabilidades que deviam ter sido denunciadas, processando-os, julgando-os e condenando-os. Restam os Moreira Salles para resgatar a nossa glória. Sem essa saída, saímos de cena definitivamente...
Ansioso por um SIM deles. Abraços Gloriosos, Filipe.
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