sexta-feira, 23 de junho de 2023

Botafogo 1x0 Cuiabá: a técnica da camuflagem

Crédito: Vitor Silva / Botafogo.

por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo

Ontem foi uma noite futebolística inteiramente banal para os botafoguenses e simultaneamente uma noite resultadista inteiramente sensacional para o Botafogo; os torcedores não assistiram a um bom duelo, mas a Instituição teve uma noite soberba com uma vitória robustecida pelas derrotas dos seus mais próximos seguidores – o Palmeiras anteontem por margem mínima e o Flamengo ontem por uma robusta goleada de quatro gols.

Efetivamente, o líder não exerceu supremacia sobre o Cuiabá em nenhum momento da partida, não criou grandes jogadas articuladas, praticamente não rematou à baliza, mal entrou na grande área do adversário e… o goleiro auriverde cometeu um único erro em toda a partida, que resultou numa grande penalidade que Tiquinho Soares aproveitou para converter e estabelecer o placar final.

Dito de outro modo: quando o Botafogo joga bem, ganha; quando joga mal, ganha também. Como disse Felipão no final do ano passado, “vai ser difícil bater o Botafogo”. Sorte de Campeão?

Não sei se é sorte campeão; o que sei é que há 11 rodadas o Botafogo está no topo, desde o início da competição, e vai continuar.

Segundo Tchê Tchê a equipe sabia “que seria um jogo difícil, com poucas oportunidades e quando as tivéssemos teríamos que matar, e fomos felizes. Somos um time que sabe bem como se camuflar diante de algumas adversidades”, isto é, o Botafogo gira, gira, gira e o alvo é aproveitar uma oportunidade. Algumas vezes, a única do jogo, mas suficiente para vencer.

O Botafogo combinara antes do jogo colocar em prática essa técnica de camuflagem, e também sabemos que Luís Castro mudou o jogo com as substituições que efetuou de modo a conseguir conter melhor o meio campo e o ataque do Cuiabá, mas, ainda assim, foi uma vitória com muitos erros desnecessários.

O Botafogo entrou demasiado frouxo (ou talvez demasiado ‘camuflado’, como diria Tchê Tchê), errou inúmeros lançamentos sem destino, muitos passes errados, perdas de bola imperdoáveis. E depois dos primeiros 15 minutos em que o Botafogo teve alguma vantagem, o Cuiabá passou a criar mais perigo com o Botafogo muito recuado e com pouca velocidade nas transições, mas provavelmente com a ideia de atrair conscientemente o Cuiabá a um domínio de bola artificial para depois dar o golpe fatal.

Entretanto, na 1ª parte, os pontas do Botafogo não funcionaram, especialmente Júnior Santos que errou tudo o que tentou fazer, sempre com aquela ideia de cortar para dentro e perder todas as bolas. Tiquinho também esteve muito apagado na 1ª parte. Por seu lado, os pontas do Cuiabá funcionavam bem nas suas investidas laterais, mas se é verdade que com isso os auriverdes conseguiram rematar muitas vezes, também é verdade que chutavam muito mal. E se chutavam bem lá estava o seguríssimo Lucas Perri para agarrar a redondinha.

Após o intervalo o Cuiabá ainda apareceu melhor do que o Botafogo, mas logo o Botafogo equilibrou a partida com as três substituições ao intervalo e após o gol colocou os auriverdes em banho-maria o resto do jogo. Talvez umas três boas defesas de Lucas Perri, que o destacaram na rodada, e nada mais. O Cuiabá não chegou a ser verdadeiramente perigoso, quer porque caía no enredo dos alvinegros, quer porque concluía mal, e a equipe sentiu isso, entendeu bem o jogo e conseguiu alguma tranquilidade na reta final em que o Cuiabá estava praticamente rendido pelo cansaço.

Dois pênaltis – um não assinalado pelo árbitro nem revisto no VAR – e uma incrível perda de gol por Matías Segovia, cara a cara com o goleiro Walter na última jogada do desafio, mostraram claramente que a camuflagem orientada para a criação de uma oportunidade súbita funcionou.

Em suma, parecia que a paragem do campeonato seria vantajosa para descansar os nossos jogadores, mas, na verdade, parece ter quebrado o ritmo. Porém, sabe-se que numa temporada tão longa como a do futebol brasileiro nem sempre impera a regularidade, pelo que podem vir alguns jogos com menos regularidade e que a ‘camuflagem’, ou qualquer outra técnica, possa compensar faltas de inspiração.

Façamos votos para que em São Paulo realizemos um grande jogo com a cara de Líder mais adequada às circunstâncias e que contra o Deportes Magallanes consolidemos um novo ritmo de jogo com a passagem à fase seguinte da Sula em 1º lugar.

FICHA TÉCNICA

Botafogo 1x0 Cuiabá

» Gols: Tiquinho Soares, 59' (pen)

» Competição: Campeonato Brasileiro

» Data: 22.06.2023

» Local: Arena Pantanal

» Público: 13.981 espectadores

» Árbitro: Flávio Rodrigues de Souza (SP); Assistentes: Luanderson Lima dos Santos (BA) e Daniel Paulo Ziolli (SP); VAR: Wagner Reway (PB)

» Disciplina: cartão amarelos – Victor Sá (Botafogo) e Matheus Alexandre e Filipe Augusto (Cuiabá)

» Botafogo: Lucas Perri; Rafael, Adryelson (Philipe Sampaio), Victor Cuesta e Hugo; Danilo Barbosa (Gustavo Sauer), Marlon Freitas e Tchê Tchê; Júnior Santos (Matías Segovia), Tiquinho Soares (Matheus Nascimento) e Victor Sá (Luís Henrique). Técnico: Luís Castro.

» Cuiabá: Walter; Matheus Alexandre, Marllon, Alan Empereur e Rikelme; Fernando Sobral (Filipe Augusto), Raniele (Ronald) e Denilson (Ceppelini); Jonathan Cafú (Quagliata), Pitta e Wellington Silva (Iury Castilho). Técnico: António Oliveira.

6 comentários:

jornal da grande natal disse...

Jogo fora. Com um gol. Passo a passo. Eis o que o treinador deve ter colocado na cachola do elenco.

Eduardo Samico disse...

Caro Ruy, excelente análise.
Junior Santos, não é de ontem, vem atuando mal, fazendo escolhas equivocadas, pouco produzindo, por vezes quase entregando o jogo. LH foi outro que, a despeito de ter sofrido a falta que redundou no solitário gol, manteve a regularidade de não jogar bem. Para piorar, ainda perdeu uns 3 ou 4 lances em que saímos em veloz contra-ataque. Irritou-me profundamente.
Finalmente, importante ressaltar as ausências de ontem, e nem falo do Patrick de Paula, gravemente contundido. Fomos a campo sem Marçal, Carlos Eduardo, Gabriel Pires e Lucas Fernandes, com o Danilo voltando, ainda sem ritmo de jogo. Kayque é outro que ainda não reencontrou seu melhor futebol. São muitos os desfalques.
Abs.

Ruy Moura disse...

Foi exatamente o que ele colocou na cabeça dos jogadores. É também assim que trabalham treinadores como Klopp, Sérgio Conceição, Rubem Amoorim, Guardiola, Mourinho... É essencial pensar-se assim para não criar tensão nos jogadores. Por isso às vezes fico descontente com análises da nossa torcida, que numa boa parte só sabe falar no título. O título pode ser uma meta, mas não é um objetivo, o objetivo é APENAS ganhar o próximo jogo, sempre o próximo jogo e "de grão em grão a galinha enche o papo" (ou será o cachorro a encher papo?!... rsrsrs).

Compreendo a ansiedade da torcida por um título tão importante, mas não é vantajoso a tocida pensar assim, porque os atletas lêem o que a torcida diz e ficam tensos, além de eventualmente impedir uma maior racionalidade no acompanhamento da equipe semana a semana e deixar os próprios torcedores tensos perante uma derrota, afluindo a emoção sobre a razão da análise.

Agora, felizes estamos todos! É uma grande campenha até aqui.

Abraços Gloriosos.

Ruy Moura disse...

Meu amigo Eduardo, o J. Santos é já de anteontem e trasantontem. Ele não sabe decidir e corta sempre para dentro. Quem tenha topado o seu jogo facilmente o desarma porque vai sempre para o mesmo lado, e como não é Garrincha fica sem a bola. É possante, mas não sabe aproveitar o próprio físico. Não creio que tenha futuro no Botafogo se não mudar de esquema. Em minha opinião, ontem foi o pior de todos os jogadores. Mas pior ao nível de nota 1.

O LH é fraco. Admito que seja fraco para sempre. Não apoiei o seu regresso.

As faltas que senti mais fortemente foram as de Marçal e Eduardo. A seguir a eles senti a falta de Gabriel Pires. Eles municiam muito o ataque, e sem eles o ataque ontem não fez quase nada. No 1º tempo, se não me falha a memória, o Walter não fez uma única defesa. E mesmo no 2º tempo, quase nenhuma.

Eu tenh muita fé no Kayque. espero que ele regresse à melhor forma e desenvolva o seu bom potencial mais lá para a frente.

Uma coisa que me espantou ontem: Rafael fez, talvez, a melhor partida a que assisti dele.

Abraços Gloriosos.

Sergio disse...

O time do Cuiabá, ao contrário do que muitos imaginavam, não é um time tão fraco, é um time bem chatinho e bem treinado diga-se de passagem. Sobre o jogo de ontem tenho algumas observações:
1 - o primeiro tempo do time foi bem ruim e atribuo isso aos desfalques importantes nesse setor, principalmente o Eduardo e o Gabriel Pires. Felizmente o Castro corrigiu esse problema no intervalo.
2- acho que esses 10 dias foram prejudiciais não pelo descanso, mas achei que o time estava sem ritmo de jogo, estava sem o mesmo ímpeto dos jogos anteriores.
3 - os dois pontas no primeiro tempo foram uma lástima, o que naturalmente prejudicou o desempenho do time.
4 - falem que quiser do Luís Castro, mas mais uma vez ele ganhou o jogo com as mexidas precisas.
5 - o Segovinha foi um achado, é um jogador diferenciado e muito inteligente, a tendência é ele se tornar titular e, se o Diego Hernandes jogar o que está jogando nos treinos a situação vai ficar muito boa pro Botafogo. Quanto ao gol perdido pelo Segovinha, nós o perdoamos, afinal foi dele o lance decisivo a nosso favor.
5- o fato do Castro orientar seus jogadores sobre jogo a jogo torna o time bastante pragmático, cara jogo o time adota uma percepção diferente.
Como o Castro e elenco, começo a pensar jogo a jogo, não projeto jogos no futuro e esqueci os problemas do passado.
O que tem né deixado com uma curiosidade grande é a ação do var em jogos do Botafogo, dois pênaltis nos dois últimos jogos e sem revisão, curioso.
Além da enorme alegria em ver o Botafogo fazendo uma campanha sensacional, ver o espanto e decepção dos anti Botafogo com a campanha do time, não tem preço. ABS e SB!


Ruy Moura disse...

Meu querido amigo, em minha opinião, o Cuiabá pode estar bem treinado (e acredito que sim) em termos de organização com linhas recuadas, mas os jogadores tiveram oportunidades de fazer muito melhor e acabaram por fazer muito pior. O Botafogo de ontem até teve sorte, porque um melhor acerto dos auriverdes poderia ter sido fatal para nós. Por pontos:
1 - Sim!
2 - Sim!
3 - Sim!
4 - Sim!
5 - Sim! Diego Hernandes, se conseguir corrigir algumas deficiências que ainda tem, poderá ser um jogador de topo. Porém, Matías Segovia perdeu uma oportunidade única de ter sido consagrado já ontem, com a jogada do pênalti e o gol da confirmação. Perdeu um gol ao grande estilo pereba. Tinha imenso espaço para superar o goleiro e chutou no único sítio em que o adversário podia defender. Também precisa melhorar algumas deficiências, porque ele é realmente bom jogador.
6 - Sim! Sim! Sim! É crucial para a objetividade, foco na partida e disponibilidade para entender o jogo. Quando os jogadores estão mentalmente soltos entendem melhor o jogo e jogam-no diferentemente segundo as necessidades de cada ocasião. Defendo essa perspetiva há muitíssimo tempo e o torcedor botafoguense deve compreender que essa é a melhor forma de pensar: ganhar o próximo jogo, não outro qualquer nem se dispersar por títulos que depois não chegam. Não fomos campeões brasileiros em 2007 provavelmente porque Cuca transportava pesadelos do passado para o presente e sonhava no presente com o futuro. E os jogadores interiorizavam e foi o descalabro depois do doping do Dodô. Entretanto sobreveio a eliminação na Argentina pelo River Plate depois de Cuca mandar a equipe recuar (tomando 3 gols de rajada) e tudo acabou desastrosamente no famoso chororô de Cuca, Bebeto e Túlio. Com Castro seria o inverso: barraria o passado, focaria no presente e não se encantaria por futuros incertos. O esquema de Cuca à época, com a mentalidade à Castro, talvez nos tivesse levado a campeões brasileiros, vencido o River Plate na Argentina e evitado o chorrô que foi da nossa responsabilidade.

Então, meu amigo, é gozar este presente delicioso em que ganhamos jogando bem ou jogando mal, focados no jogo do 'hoje' e, evidentemente, fruindo de algum prazer vendo o desespero da CBF, das arbitragens e dos nossos inimigos, que infelizmente temos muitos, em vez de sermos todos verdadeiros desportistas no ganhar e no perder como conta a extraordinária passagem do Hino da A.A. Portuguesa: "Vencer, vencer com galhardia. Perder, perder com fidalguia."

Abraços Gloriosos.

O otorrino não me deu ouvidos

[Aos leitores interessados informa-se que as crônicas de Lúcia Senna no Mundo Botafogo foram publicadas em livro intitulado 'No embalo...