Crédito: Vitor Silva
/ Botafogo.
por RUY MOURA |
Editor do Mundo Botafogo
Ontem foi uma noite futebolística inteiramente banal para
os botafoguenses e simultaneamente uma noite resultadista inteiramente
sensacional para o Botafogo; os torcedores não assistiram a um bom duelo, mas a
Instituição teve uma noite soberba com uma vitória robustecida pelas derrotas
dos seus mais próximos seguidores – o Palmeiras anteontem por margem mínima e o
Flamengo ontem por uma robusta goleada de quatro gols.
Efetivamente, o líder não exerceu supremacia sobre o
Cuiabá em nenhum momento da partida, não criou grandes jogadas articuladas, praticamente
não rematou à baliza, mal entrou na grande área do adversário e… o goleiro
auriverde cometeu um único erro em toda a partida, que resultou numa grande
penalidade que Tiquinho Soares aproveitou para converter e estabelecer o placar
final.
Dito de outro modo: quando o Botafogo joga bem, ganha; quando
joga mal, ganha também. Como disse Felipão no final do ano passado, “vai ser
difícil bater o Botafogo”. Sorte de Campeão?
Não sei se é sorte campeão; o que sei é que há 11 rodadas
o Botafogo está no topo, desde o início da competição, e vai continuar.
Segundo Tchê Tchê a equipe sabia “que seria um jogo
difícil, com poucas oportunidades e quando as tivéssemos teríamos que matar, e
fomos felizes. Somos um time que sabe bem como se camuflar diante de algumas
adversidades”, isto é, o Botafogo gira, gira, gira e o alvo é aproveitar uma
oportunidade. Algumas vezes, a única do jogo, mas suficiente para vencer.
O Botafogo combinara antes do jogo colocar em prática
essa técnica de camuflagem, e também sabemos que Luís Castro mudou o jogo com
as substituições que efetuou de modo a conseguir conter melhor o meio campo e o
ataque do Cuiabá, mas, ainda assim, foi uma vitória com muitos erros
desnecessários.
O Botafogo entrou demasiado frouxo (ou talvez demasiado
‘camuflado’, como diria Tchê Tchê), errou inúmeros lançamentos sem destino,
muitos passes errados, perdas de bola imperdoáveis. E depois dos primeiros 15
minutos em que o Botafogo teve alguma vantagem, o Cuiabá passou a criar mais
perigo com o Botafogo muito recuado e com pouca velocidade nas transições, mas
provavelmente com a ideia de atrair conscientemente o Cuiabá a um domínio de
bola artificial para depois dar o golpe fatal.
Entretanto, na 1ª parte, os pontas do Botafogo não
funcionaram, especialmente Júnior Santos que errou tudo o que tentou fazer,
sempre com aquela ideia de cortar para dentro e perder todas as bolas. Tiquinho
também esteve muito apagado na 1ª parte. Por seu lado, os pontas do Cuiabá
funcionavam bem nas suas investidas laterais, mas se é verdade que com isso os
auriverdes conseguiram rematar muitas vezes, também é verdade que chutavam
muito mal. E se chutavam bem lá estava o seguríssimo Lucas Perri para agarrar a
redondinha.
Após o intervalo o Cuiabá ainda apareceu melhor do que o
Botafogo, mas logo o Botafogo equilibrou a partida com as três substituições ao
intervalo e após o gol colocou os auriverdes em banho-maria o resto do jogo. Talvez
umas três boas defesas de Lucas Perri, que o destacaram na rodada, e nada mais.
O Cuiabá não chegou a ser verdadeiramente perigoso, quer porque caía no enredo
dos alvinegros, quer porque concluía mal, e a equipe sentiu isso, entendeu bem o
jogo e conseguiu alguma tranquilidade na reta final em que o Cuiabá estava
praticamente rendido pelo cansaço.
Dois pênaltis – um não assinalado pelo árbitro nem
revisto no VAR – e uma incrível perda de gol por Matías Segovia, cara a cara
com o goleiro Walter na última jogada do desafio, mostraram claramente que a
camuflagem orientada para a criação de uma oportunidade súbita funcionou.
Em suma, parecia que a paragem do campeonato seria
vantajosa para descansar os nossos jogadores, mas, na verdade, parece ter
quebrado o ritmo. Porém, sabe-se que numa temporada tão longa como a do futebol
brasileiro nem sempre impera a regularidade, pelo que podem vir alguns jogos com
menos regularidade e que a ‘camuflagem’, ou qualquer outra técnica, possa
compensar faltas de inspiração.
Façamos votos para que em São Paulo realizemos um grande jogo com a cara de Líder mais adequada às circunstâncias e que contra o Deportes Magallanes consolidemos um novo ritmo de jogo com a passagem à fase seguinte da Sula em 1º lugar.
FICHA TÉCNICA
Botafogo 1x0 Cuiabá
» Gols: Tiquinho Soares, 59' (pen)
» Competição: Campeonato Brasileiro
» Data: 22.06.2023
» Local: Arena Pantanal
» Público: 13.981 espectadores
» Árbitro: Flávio Rodrigues de Souza (SP); Assistentes: Luanderson Lima dos Santos (BA) e Daniel Paulo
Ziolli (SP); VAR: Wagner
Reway (PB)
» Disciplina: cartão amarelos – Victor Sá (Botafogo) e Matheus Alexandre e Filipe
Augusto (Cuiabá)
» Botafogo: Lucas Perri; Rafael, Adryelson (Philipe Sampaio), Victor Cuesta e
Hugo; Danilo Barbosa (Gustavo Sauer), Marlon Freitas e Tchê Tchê; Júnior Santos
(Matías Segovia), Tiquinho Soares (Matheus Nascimento) e Victor Sá (Luís
Henrique). Técnico: Luís Castro.
» Cuiabá: Walter; Matheus Alexandre, Marllon, Alan Empereur e Rikelme; Fernando
Sobral (Filipe Augusto), Raniele (Ronald) e Denilson (Ceppelini); Jonathan Cafú
(Quagliata), Pitta e Wellington Silva (Iury Castilho). Técnico: António
Oliveira.
6 comentários:
Jogo fora. Com um gol. Passo a passo. Eis o que o treinador deve ter colocado na cachola do elenco.
Caro Ruy, excelente análise.
Junior Santos, não é de ontem, vem atuando mal, fazendo escolhas equivocadas, pouco produzindo, por vezes quase entregando o jogo. LH foi outro que, a despeito de ter sofrido a falta que redundou no solitário gol, manteve a regularidade de não jogar bem. Para piorar, ainda perdeu uns 3 ou 4 lances em que saímos em veloz contra-ataque. Irritou-me profundamente.
Finalmente, importante ressaltar as ausências de ontem, e nem falo do Patrick de Paula, gravemente contundido. Fomos a campo sem Marçal, Carlos Eduardo, Gabriel Pires e Lucas Fernandes, com o Danilo voltando, ainda sem ritmo de jogo. Kayque é outro que ainda não reencontrou seu melhor futebol. São muitos os desfalques.
Abs.
Foi exatamente o que ele colocou na cabeça dos jogadores. É também assim que trabalham treinadores como Klopp, Sérgio Conceição, Rubem Amoorim, Guardiola, Mourinho... É essencial pensar-se assim para não criar tensão nos jogadores. Por isso às vezes fico descontente com análises da nossa torcida, que numa boa parte só sabe falar no título. O título pode ser uma meta, mas não é um objetivo, o objetivo é APENAS ganhar o próximo jogo, sempre o próximo jogo e "de grão em grão a galinha enche o papo" (ou será o cachorro a encher papo?!... rsrsrs).
Compreendo a ansiedade da torcida por um título tão importante, mas não é vantajoso a tocida pensar assim, porque os atletas lêem o que a torcida diz e ficam tensos, além de eventualmente impedir uma maior racionalidade no acompanhamento da equipe semana a semana e deixar os próprios torcedores tensos perante uma derrota, afluindo a emoção sobre a razão da análise.
Agora, felizes estamos todos! É uma grande campenha até aqui.
Abraços Gloriosos.
Meu amigo Eduardo, o J. Santos é já de anteontem e trasantontem. Ele não sabe decidir e corta sempre para dentro. Quem tenha topado o seu jogo facilmente o desarma porque vai sempre para o mesmo lado, e como não é Garrincha fica sem a bola. É possante, mas não sabe aproveitar o próprio físico. Não creio que tenha futuro no Botafogo se não mudar de esquema. Em minha opinião, ontem foi o pior de todos os jogadores. Mas pior ao nível de nota 1.
O LH é fraco. Admito que seja fraco para sempre. Não apoiei o seu regresso.
As faltas que senti mais fortemente foram as de Marçal e Eduardo. A seguir a eles senti a falta de Gabriel Pires. Eles municiam muito o ataque, e sem eles o ataque ontem não fez quase nada. No 1º tempo, se não me falha a memória, o Walter não fez uma única defesa. E mesmo no 2º tempo, quase nenhuma.
Eu tenh muita fé no Kayque. espero que ele regresse à melhor forma e desenvolva o seu bom potencial mais lá para a frente.
Uma coisa que me espantou ontem: Rafael fez, talvez, a melhor partida a que assisti dele.
Abraços Gloriosos.
O time do Cuiabá, ao contrário do que muitos imaginavam, não é um time tão fraco, é um time bem chatinho e bem treinado diga-se de passagem. Sobre o jogo de ontem tenho algumas observações:
1 - o primeiro tempo do time foi bem ruim e atribuo isso aos desfalques importantes nesse setor, principalmente o Eduardo e o Gabriel Pires. Felizmente o Castro corrigiu esse problema no intervalo.
2- acho que esses 10 dias foram prejudiciais não pelo descanso, mas achei que o time estava sem ritmo de jogo, estava sem o mesmo ímpeto dos jogos anteriores.
3 - os dois pontas no primeiro tempo foram uma lástima, o que naturalmente prejudicou o desempenho do time.
4 - falem que quiser do Luís Castro, mas mais uma vez ele ganhou o jogo com as mexidas precisas.
5 - o Segovinha foi um achado, é um jogador diferenciado e muito inteligente, a tendência é ele se tornar titular e, se o Diego Hernandes jogar o que está jogando nos treinos a situação vai ficar muito boa pro Botafogo. Quanto ao gol perdido pelo Segovinha, nós o perdoamos, afinal foi dele o lance decisivo a nosso favor.
5- o fato do Castro orientar seus jogadores sobre jogo a jogo torna o time bastante pragmático, cara jogo o time adota uma percepção diferente.
Como o Castro e elenco, começo a pensar jogo a jogo, não projeto jogos no futuro e esqueci os problemas do passado.
O que tem né deixado com uma curiosidade grande é a ação do var em jogos do Botafogo, dois pênaltis nos dois últimos jogos e sem revisão, curioso.
Além da enorme alegria em ver o Botafogo fazendo uma campanha sensacional, ver o espanto e decepção dos anti Botafogo com a campanha do time, não tem preço. ABS e SB!
Meu querido amigo, em minha opinião, o Cuiabá pode estar bem treinado (e acredito que sim) em termos de organização com linhas recuadas, mas os jogadores tiveram oportunidades de fazer muito melhor e acabaram por fazer muito pior. O Botafogo de ontem até teve sorte, porque um melhor acerto dos auriverdes poderia ter sido fatal para nós. Por pontos:
1 - Sim!
2 - Sim!
3 - Sim!
4 - Sim!
5 - Sim! Diego Hernandes, se conseguir corrigir algumas deficiências que ainda tem, poderá ser um jogador de topo. Porém, Matías Segovia perdeu uma oportunidade única de ter sido consagrado já ontem, com a jogada do pênalti e o gol da confirmação. Perdeu um gol ao grande estilo pereba. Tinha imenso espaço para superar o goleiro e chutou no único sítio em que o adversário podia defender. Também precisa melhorar algumas deficiências, porque ele é realmente bom jogador.
6 - Sim! Sim! Sim! É crucial para a objetividade, foco na partida e disponibilidade para entender o jogo. Quando os jogadores estão mentalmente soltos entendem melhor o jogo e jogam-no diferentemente segundo as necessidades de cada ocasião. Defendo essa perspetiva há muitíssimo tempo e o torcedor botafoguense deve compreender que essa é a melhor forma de pensar: ganhar o próximo jogo, não outro qualquer nem se dispersar por títulos que depois não chegam. Não fomos campeões brasileiros em 2007 provavelmente porque Cuca transportava pesadelos do passado para o presente e sonhava no presente com o futuro. E os jogadores interiorizavam e foi o descalabro depois do doping do Dodô. Entretanto sobreveio a eliminação na Argentina pelo River Plate depois de Cuca mandar a equipe recuar (tomando 3 gols de rajada) e tudo acabou desastrosamente no famoso chororô de Cuca, Bebeto e Túlio. Com Castro seria o inverso: barraria o passado, focaria no presente e não se encantaria por futuros incertos. O esquema de Cuca à época, com a mentalidade à Castro, talvez nos tivesse levado a campeões brasileiros, vencido o River Plate na Argentina e evitado o chorrô que foi da nossa responsabilidade.
Então, meu amigo, é gozar este presente delicioso em que ganhamos jogando bem ou jogando mal, focados no jogo do 'hoje' e, evidentemente, fruindo de algum prazer vendo o desespero da CBF, das arbitragens e dos nossos inimigos, que infelizmente temos muitos, em vez de sermos todos verdadeiros desportistas no ganhar e no perder como conta a extraordinária passagem do Hino da A.A. Portuguesa: "Vencer, vencer com galhardia. Perder, perder com fidalguia."
Abraços Gloriosos.
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