por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo
O Mundo Botafogo divulgou a origem do nome BOTAFOGO em
artigos anteriores, designadamente a partir da história do Galeão São João
Batista, o mais poderoso navio de guerra do seu tempo, armado com 366 canhões
de bronze e cujo tremendo poder de fogo originou a designação popular de
‘Botafogo’, e da história do personagem João de Sousa Pereira que foi o
artilheiro do ‘Botafogo’ e cuja designação agregou ao seu próprio nome – sendo
essa a razão pela qual a sesmaria da enseada de Francisco Velho tenha ganho o
nome de Enseada de Botafogo, que entretanto se estendeu à Chácara de São Clemente,
atual Bairro de Botafogo.
Neste artigo descreve-se mais pormenorizadamente a
trajetória de João de Sousa Pereira Botafogo até chegar ao Rio de Janeiro.
João de Sousa Pereira nasceu em 1542, na cidade de Elvas,
Portugal, e faleceu a 23 de junho de 1627, na cidade do Rio de Janeiro, Brasil,
tendo sido um destemido Capitão-Mor ao serviço da Coroa Portuguesa como
artilheiro do Galeão São João Baptista, o ‘Botafogo’, designação que, tal como
foi mencionado anteriormente, João de Sousa Pereira juntou ao seu próprio nome
e foi a gênese da toponímia do Bairro de Botafogo e, consequentemente, do
Botafogo de Futebol e Regatas.
O Galeão foi
construído por João Galego, natural de Viana, pai do valente corsário Pedro
Galego, que no Mar Mediterrâneo fez grandes presas que navegavam para
Constantinopla e outros portos, regressando cheio de ouro e fazenda, cuja
história foi publicada em 1855 por Frei Manuel Homem e muitas vezes contada
pelo padre mestre Frei João de Valadares, da Ordem dos Pregadores.
João de Sousa Pereira Botafogo, filho de Francisco de
Sousa Pereira e de Inês de Brito de Carvalhais, casou-se com Joana Escórcia e
Maria da Luz Escórcio Drummond e foi pai de Ana de Sousa e Brito, Maria de
Sousa e Brito (n. 1555), Andreza de Sousa (n. 1577), João de Sousa, o ‘Moço’
(n. 1582), Pedro de Souza Pereira Botafogo (1584) e 5 outros.
A sua família foi perseguida na cidade de Elvas, em Portugal, onde seus pais e avós tiveram casa com pátio, em uma rua que ainda hoje chamam pátio e Rua dos Botafogos, patrimônio privado que foi confiscado por ordem régia devido às suas insistências e soberbas resistências à justiça portuguesa. João de Sousa Pereira, enquanto membro da família, foi por isso perseguido e acabou por migrar para o Rio de Janeiro para acabar com a perseguição de que era alvo, precisamente quando aí se travavam combates entre a Coroa Portuguesa e o gentio Tamoio.
Chegou ao Rio de Janeiro quando a Cidade Velha já estava
principiada e os seus habitantes guerreavam os índios tamoios. Como João de
Sousa Pereira era destemido e de reconhecida nobreza, foi feito Capitão de uma
das canoas de guerra e mandado a Cabo Frio para impedir o contrato do
pau-brasil em que os franceses estavam comerciando.
Foi tão bem-sucedido nesse empreendimento que, combatendo
com valor e ousadia contra os franceses, como Capitão de uma das canoas de
guerra, conseguiu vencê-los e aprisionar, entre outros, o Cabo da Armada Tucen
Grugel, valoroso francês que foi levado ao Rio de Janeiro e, mais tarde,
constituiu o tronco dos Amaraes Gurgeis em solo carioca, e que posteriormente
proliferou também em São Paulo.
Do Rio de Janeiro passou a São Vicente (1572), local onde
a guerra estava atiçada contra os ‘bárbaros’, e tornou a evidenciar a sua
destreza militar, tendo sido tomado por genro pelo Capitão do presídio, Manoel
da Luz Escórcia Drummond.
Foi Capitão-Mor Governador da Capitania de São Vicente,
em 1595, efetuou incursões pelo sertão como Bandeirante e foi testemunha no processo
do Padre Anchieta, em 1620 e 1627. Por todos os seus feitos, João de Sousa Pereira
Botafogo foi presenteado pelo Rei com uma extensa sesmaria primitivamente
designada por Enseada Francisco Velho, que se passou a designar Enseada de
Botafogo devido ao nome que o seu proprietário adotara.
O nome da enseada estendeu-se à antiga Chácara de São
Clemente, atual Bairro de Botafogo, mas somente se desenvolveu definitivamente
com a chegada da família real portuguesa ao Brasil, fugindo das tropas
napoleônicas que invadiram Portugal, tendo sido Carlota Joaquina, mulher de Dom
João VI, que imprimiu uma nova dinâmica à região ao erguer um palacete no final
da atual Marquês de Abrantes, e Botafogo foi gradativamente ocupado por casas
elegantes até ao início do séc. XX – algumas das quais ainda existentes.
E nesse Bairro de Botafogo foram fundados o Club de
Regatas Botafogo (1894) e o Botafogo Football Club (1904) que originaram o
Glorioso Clube da Estrela Solitária – o Botafogo de Futebol e Regatas.
Nota do Editor:
Existe um João Pereira de Souza, assassinado em 1606, cuja trajetória não se
deve confundir com a de João de Sousa Pereira Botafogo.
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no MB (clique): Galeão São João Batista - o 'Botafogo'; O Galeão Botafogo; Rua do Botafôgo;
Parabéns, Fogão! De Salomé a General Severiano – a origem
do nome Botafogo
Fontes principais: blogdojuca.uol.com.br;
Coelho, Jorge. Memória do celebrado galeão
São João chamado vulgarmente o Bota Fogo. Opúsculo editado por António da
Costa Valle. Lisboa: meados do séc. XVI; martin.romano.org; mundobotafogo.blogspot.com; Pedrosa, Fernando
Gomes. “A Pesca e o Corso nos Antecedentes da Expansão Marítima”. Ceuta e a Expansão Portuguesa. Lisboa:
Academia da Marinha, 2016. ISBN: 978-972-781-130-4;
www.genealogiabrasileira.com; www.geni.com
2 comentários:
Bom dia! Em tempos de mídia e rede social acho difícil o sr. ou alguém responder. Porém, quero aqui registrar minha alegria de ver na internet, em épocas sombrias de informações e desinformações, um artigo tão bacana, histórico e cultural que só enche meu coração de alegria por saber que ainda há pessoas que se importam com nossas origens e construção histórica e cultural; obrigado.
Boa tarde, Irapuan! Partilho da sua opinião. A mídia e as redes sociais tomaram o mundo de assalto com um perfil muito afastado do que era o jornalismo sério e de pesquisa, e nunca se sabe o que é verdade, o que é mentira, o que é fogo ou apenas fumo.
Felizmente, no caso de botafoguenses, há quem se preocupe em ser rigoroso e se interesse por TODA A HISTÓRIA DO GLORIOSO. É esse serviço que o Mundo Botafogo tem prestado diariamente há quase 17 anos, em mais de 18.000 publicações, segundo princípios editoriais que forjaram a aproximação de gente boa e o afastamento daqueles que ofendem, perseguem, insultam, mentem ou são mal-educados - e que, em geral, nem são botafoguenes.
Este meio de comunicação mantém a sua linha original de seriedade e pesquisa, respeitando a diversidade e opiniões diferentes, mas não aceitando atitudes difamatórias nem permitindo que, com o argumento da diversidade, haja ações que diminuem os valores universais que devem pautar a relação entre os humanos.
Talvez por termos essa linha o Mundo Botafogo se mantenha, desde a sua criação, como o meio privado e independente sem ligação à mídia que, entre os blogues botafoguenses, foi sempre o mais acessado, e ainda neste mês de maio atinjirá 7,5 milhões de acessos desde a contagem instituída pelo Blogger em 1º de julho de 2010.
Amanhã vou publicar mais sobre história. De uma Instituição que vai levar a história do Botafogo às ruas em 2025.
Apareça sempre!
Abraços Gloriosos.
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