por RUY MOURA |
Editor do Mundo Botafogo
Vitória graúda sobre o Fortaleza, que
constitui, juntamente com a goleada de 1974 (6x1), a maior diferença de gols em
confrontos com os cearenses.
É também uma boa dose de motivação para uma
equipe que vem de uma derrota clara contra o Cruzeiro no seu próprio estádio,
quebrando uma invencibilidade de um ano jogando em casa, e de uma vitória ‘sofrível’ sobre um
Bragantino em queda vertiginosa, evidenciando uma grande distância da ousadia,
ânimo e valentia de 2024.
Todavia, convém que nenhum de nó nos
enganemos – porque teremos provavelmente duas ‘pedreiras’ pela frente nos
próximos dois jogos – sobre o rendimento coletivo da nossa equipe.
Apesar da goleada tivemos a sorte do nosso
lado, e o Fortaleza o azar na estupidez de Gustavo Mancha que fez um carrinho
bastante acima do nível do relvado e poderia ter lesionado seriamente Danilo.
É claro que o Fortaleza não é o Botafogo de
2024 e não conseguiu ser suficientemente forte e eficaz para sobreviver à
expulsão, mas tentou reagir e aos 11’ desperdiçou a possibilidade do empate – e
mesmo após o gol de Marçal aos 14’ não baixou os braços e esforçou-se pelo
empate. Na verdade, o nosso gol nem sequer foi o resultado de uma grande
pressão sobre o Fortaleza, mas sobretudo porque ao aproveitar uma falta em zona
perigosa, beneficiou da mestria de Alex Telles em bolas paradas e da conclusão
extraordinária de Marçal.
Atente-se, porque vale a pena, para o lance
do 1º gol: a bola não fez um arco pronunciado, que tendencialmente acaba
neutralizada por um zagueiro adversário, mas foi cobrada a meia altura, muito
tensa e veloz, que permite a entrada fulgurante para um bom cabeceador testar
direto para a baliza. Foi um lance isolado de mestria de dois jogadores: bola
parada, cruzamento tenso e veloz, cabeçada fulminante, Botafogo 1x0.
Esperar-se-ia que o Botafogo passasse a
amassar o Fortaleza. Não foi assim. Nós atacamos algumas vezes, é certo, e aos
22’ Savarino rematou com perigo ao lado, mas
o Fortaleza tomou conta da maioria das operações por largo tempo, não
deixando o Botafogo sair com a bola e consequentemente não jogávamos de forma
articulada e coletiva. A chegada do adversário à bola foi sempre mais rápida, as
nossas perdas de bola eram constantes, as faltas perigosas próximas à nossa
área eram temerosas, o nosso ataque era frouxo, sem força na pressão e acabava
sempre em ‘chutinhos’ inofensivos à figura do guardião cearense.
Aos 32’, Marçal cometeu um erro defendendo a
nossa área com um chutão em balão, Breno dominou a bola, infiltrou-se perigosamente
e foi David Ricardo que nos salvou in extremis
do empate; aos 39’, através de bola parada, o Fortaleza quase empatava de
cabeça. A nossa sorte é que o Fortaleza não conseguiu, apesar do seu esforço,
criar oportunidades flagrantes de gol, embora tivesse criado algumas jogadas perigosas.
Pela nossa parte, fizemos um remate aos 40’
ao lado e tudo indicava que apenas com 1x0 no placar e o Fortaleza nos enfrentando
olhos nos olhos – apesar de lhe faltar a qualidade individual de alguns nossos
jogadores – poderia vir a ser um caso sério a debelar. Eis senão quando Montoro
esticou um soberbo passe para Arthur Cabral em deslocação, que recebeu a bola
entre dois zagueiros, tirou o goleiro da jogada e empurrou para o fundo das
redes, fazendo ‘explodir’ a torcida Gloriosa: Botafogo 2x0.
Como começar a 2ª parte?... Amornar o jogo
para gerir o placar?... Resolver a partida com o 3º gol?... Apostar na posse de
bola para gerir o placar?... Deixar o Fortaleza com posse de bola ineficaz e
apostar no contra-ataque?...
O negócio mesmo era resolver a partida:
Newton atirou um tirambaço ao poste com 1’ do segundo tempo; depois, pressão do
Botafogo, escanteio, bola na área, Cabral tocou para a frente e Marçal – o artilheiro
do jogo! – mandou afoitamente a bola para o fundo das redes. Botafogo 3x0 e jogo
resolvido.
Obviamente restava gerir a partida para não haver
muito desgaste tendo em conta o próximo confronto, mas, ainda assim, o Botafogo finalmente
articulou jogadas coletivas e controlou clarissimamente a partida. E aos 53’
novo escanteio, cobrança exímia – creio que de Savarino – e novamente a nossa
zaga brilhando no ataque com gol de David Ricardo. Botafogo 4x0.
Os 37 minutos seguintes – com lesão de
assistente da arbitragem pelo meio – o Botafogo imperou em campo de tal modo
que Daronco, em vez de dar 14 minutos de acréscimos, deu apenas 6 minutos. E
ainda assim foi o suficiente para Matheus Martins receber a bola a meio campo,
correr com ela até à entrada da grande área, escolher o canto e enviar um
remate venenoso e bem colocado para ampliar o placar. Botafogo 5x0.
E para não piorar a goleada, Daronco apitou
para o fim da partida antes ainda dos tais 6 minutos de acréscimos.
Ainda umas notas finais.
O placar e a facilidade de jogo no 2º tempo mascararam
uma parte da nossa exibição não conseguida na base de jogadas coletivas
articuladas e envolventes. Isso leva-nos a dois pontos importantes: (a) temos
alguns jogadores de boa qualidade individual, mas falta mais dois ou três que
nos deem maior profundidade e largura de terreno, além, evidentemente, de ainda
nos faltar o entrosamento de jogo coletivo no novo desenho que Ancelotti procura
implementar, ainda com escasso sucesso ao nível de um futebol consistente e
efetivo; (b) o jogo contra o Fortaleza foi basicamente decidido em jogadas de
bola parada, algo que não víamos há bastante tempo e que é fundamental para
muitas das vitórias no atual contexto futebolístico.
Primeiro gol: falta cobrada por Alex Telles e
gol de Marçal; terceiro gol: escanteio e na sequência Marçal amplia; Quarto
gol: novo escanteio e goleada. E tanto o segundo como o quarto gol resultaram
de dois lançamentos primorosos completados por Arthur Cabral e Matheus Martins
com dois gols.
Em suma, foi uma vitória com muito aproveitamento
de bolas paradas e, sobretudo, na base da qualidade individual dos atletas, já
que nenhum dos cinco gols foi articulado de pé em pé entre vários jogadores. E
isso deve-se realçar muito bem, porque podemos ganhar jogos explorando
simultaneamente bolas paradas, jogadas coletivas e contra-ataques tendo por
base os atributos individuais dos nossos atletas, já que alguns deles podem
desequilibrar e resolver jogos em momentos decisivos das partidas – e,
esperemos, com desenhos estratégicos e táticos diferenciados.
E que a sorte e o futuro estejam conosco!
FICHA TÉCNICA
» Botafogo 5x0 Fortaleza
» Gols: Marçal, aos 14’, Arthur Cabral, aos 45+5’, Marçal, aos 48’, David
Ricardo, aos 53’, e Matheus Martins, aos 90+2’
» Competição: Campeonato Brasileiro
» Local: Arena Castelão, em Fortaleza (CE)
» Data: 09.08.2025
» Público: R31.645 espectadores
» Renda e público: R$ 577.377,00
» Árbitro: Anderson Daronco (RS); Assistentes: Michael
Stanislau (RS) e Jorge Eduardo Bernardi (RS); VAR: Thiago Duarte Peixoto (SP)
» Disciplina: cartão amarelo – Gustavo Mancha, Adam Bareiro, Kuscevic e Renato Paiva – técnico (Fortaleza); cartão vermelho – Gustavo Mancha
(Fortaleza)
» Botafogo: Léo Linck; Vitinho (Mateo Ponte), David Ricardo, Marçal e Alex
Telles; Newton, Danilo (Huguinho) e Savarino (Joaquín Correa); Artur, Arthur
Cabral (Mastriani) e Álvaro Montoro (Matheus Martins). Técnico: Davide
Ancelotti.
» Fortaleza: Vinícius Silvestre; Tinga, Kuscevic, Gustavo Mancha e
Weverson; Lucas Sasha, Matheus Pereira (Rossetto) e Lucca Prior (Yago Pikachu);
Herrera (Adam Bareiro), Breno Lopes (Kervin Andrade) e Deyverson (Gastón Ávila).
Técnico: Renato Paiva.
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