domingo, 10 de agosto de 2025

Botafogo 5x0 Fortaleza - um sinal para sermos ousados e valentes

O zagueiro-artilheiro. Crédito: Vitor Silva / Botafogo.

por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo

Vitória graúda sobre o Fortaleza, que constitui, juntamente com a goleada de 1974 (6x1), a maior diferença de gols em confrontos com os cearenses.

É também uma boa dose de motivação para uma equipe que vem de uma derrota clara contra o Cruzeiro no seu próprio estádio, quebrando uma invencibilidade de um ano jogando em casa,  e de uma vitória ‘sofrível’ sobre um Bragantino em queda vertiginosa, evidenciando uma grande distância da ousadia, ânimo e valentia de 2024.

Todavia, convém que nenhum de nó nos enganemos – porque teremos provavelmente duas ‘pedreiras’ pela frente nos próximos dois jogos – sobre o rendimento coletivo da nossa equipe.

Apesar da goleada tivemos a sorte do nosso lado, e o Fortaleza o azar na estupidez de Gustavo Mancha que fez um carrinho bastante acima do nível do relvado e poderia ter lesionado seriamente Danilo.

É claro que o Fortaleza não é o Botafogo de 2024 e não conseguiu ser suficientemente forte e eficaz para sobreviver à expulsão, mas tentou reagir e aos 11’ desperdiçou a possibilidade do empate – e mesmo após o gol de Marçal aos 14’ não baixou os braços e esforçou-se pelo empate. Na verdade, o nosso gol nem sequer foi o resultado de uma grande pressão sobre o Fortaleza, mas sobretudo porque ao aproveitar uma falta em zona perigosa, beneficiou da mestria de Alex Telles em bolas paradas e da conclusão extraordinária de Marçal.

Atente-se, porque vale a pena, para o lance do 1º gol: a bola não fez um arco pronunciado, que tendencialmente acaba neutralizada por um zagueiro adversário, mas foi cobrada a meia altura, muito tensa e veloz, que permite a entrada fulgurante para um bom cabeceador testar direto para a baliza. Foi um lance isolado de mestria de dois jogadores: bola parada, cruzamento tenso e veloz, cabeçada fulminante, Botafogo 1x0.

Esperar-se-ia que o Botafogo passasse a amassar o Fortaleza. Não foi assim. Nós atacamos algumas vezes, é certo, e aos 22’ Savarino rematou com perigo ao lado, mas  o Fortaleza tomou conta da maioria das operações por largo tempo, não deixando o Botafogo sair com a bola e consequentemente não jogávamos de forma articulada e coletiva. A chegada do adversário à bola foi sempre mais rápida, as nossas perdas de bola eram constantes, as faltas perigosas próximas à nossa área eram temerosas, o nosso ataque era frouxo, sem força na pressão e acabava sempre em ‘chutinhos’ inofensivos à figura do guardião cearense.

Aos 32’, Marçal cometeu um erro defendendo a nossa área com um chutão em balão, Breno dominou a bola, infiltrou-se perigosamente e foi David Ricardo que nos salvou in extremis do empate; aos 39’, através de bola parada, o Fortaleza quase empatava de cabeça. A nossa sorte é que o Fortaleza não conseguiu, apesar do seu esforço, criar oportunidades flagrantes de gol, embora tivesse criado algumas jogadas perigosas.

Pela nossa parte, fizemos um remate aos 40’ ao lado e tudo indicava que apenas com 1x0 no placar e o Fortaleza nos enfrentando olhos nos olhos – apesar de lhe faltar a qualidade individual de alguns nossos jogadores – poderia vir a ser um caso sério a debelar. Eis senão quando Montoro esticou um soberbo passe para Arthur Cabral em deslocação, que recebeu a bola entre dois zagueiros, tirou o goleiro da jogada e empurrou para o fundo das redes, fazendo ‘explodir’ a torcida Gloriosa: Botafogo 2x0.

Como começar a 2ª parte?... Amornar o jogo para gerir o placar?... Resolver a partida com o 3º gol?... Apostar na posse de bola para gerir o placar?... Deixar o Fortaleza com posse de bola ineficaz e apostar no contra-ataque?...

O negócio mesmo era resolver a partida: Newton atirou um tirambaço ao poste com 1’ do segundo tempo; depois, pressão do Botafogo, escanteio, bola na área, Cabral tocou para a frente e Marçal – o artilheiro do jogo! – mandou afoitamente a bola para o fundo das redes. Botafogo 3x0 e jogo resolvido.

Obviamente restava gerir a partida para não haver muito desgaste tendo em conta o próximo confronto, mas, ainda assim, o Botafogo finalmente articulou jogadas coletivas e controlou clarissimamente a partida. E aos 53’ novo escanteio, cobrança exímia – creio que de Savarino – e novamente a nossa zaga brilhando no ataque com gol de David Ricardo. Botafogo 4x0.

Os 37 minutos seguintes – com lesão de assistente da arbitragem pelo meio – o Botafogo imperou em campo de tal modo que Daronco, em vez de dar 14 minutos de acréscimos, deu apenas 6 minutos. E ainda assim foi o suficiente para Matheus Martins receber a bola a meio campo, correr com ela até à entrada da grande área, escolher o canto e enviar um remate venenoso e bem colocado para ampliar o placar. Botafogo 5x0.

E para não piorar a goleada, Daronco apitou para o fim da partida antes ainda dos tais 6 minutos de acréscimos.

Ainda umas notas finais.

O placar e a facilidade de jogo no 2º tempo mascararam uma parte da nossa exibição não conseguida na base de jogadas coletivas articuladas e envolventes. Isso leva-nos a dois pontos importantes: (a) temos alguns jogadores de boa qualidade individual, mas falta mais dois ou três que nos deem maior profundidade e largura de terreno, além, evidentemente, de ainda nos faltar o entrosamento de jogo coletivo no novo desenho que Ancelotti procura implementar, ainda com escasso sucesso ao nível de um futebol consistente e efetivo; (b) o jogo contra o Fortaleza foi basicamente decidido em jogadas de bola parada, algo que não víamos há bastante tempo e que é fundamental para muitas das vitórias no atual contexto futebolístico.

Primeiro gol: falta cobrada por Alex Telles e gol de Marçal; terceiro gol: escanteio e na sequência Marçal amplia; Quarto gol: novo escanteio e goleada. E tanto o segundo como o quarto gol resultaram de dois lançamentos primorosos completados por Arthur Cabral e Matheus Martins com dois gols.

Em suma, foi uma vitória com muito aproveitamento de bolas paradas e, sobretudo, na base da qualidade individual dos atletas, já que nenhum dos cinco gols foi articulado de pé em pé entre vários jogadores. E isso deve-se realçar muito bem, porque podemos ganhar jogos explorando simultaneamente bolas paradas, jogadas coletivas e contra-ataques tendo por base os atributos individuais dos nossos atletas, já que alguns deles podem desequilibrar e resolver jogos em momentos decisivos das partidas – e, esperemos, com desenhos estratégicos e táticos diferenciados.

E que a sorte e o futuro estejam conosco!

FICHA TÉCNICA

» Botafogo 5x0 Fortaleza

» Gols: Marçal, aos 14’, Arthur Cabral, aos 45+5’, Marçal, aos 48’, David Ricardo, aos 53’, e Matheus Martins, aos 90+2’

» Competição: Campeonato Brasileiro

» Local: Arena Castelão, em Fortaleza (CE)

» Data: 09.08.2025

» Público: R31.645 espectadores

» Renda e público: R$ 577.377,00

» Árbitro: Anderson Daronco (RS); Assistentes: Michael Stanislau (RS) e Jorge Eduardo Bernardi (RS); VAR: Thiago Duarte Peixoto (SP)

» Disciplina: cartão amarelo – Gustavo Mancha, Adam Bareiro, Kuscevic e Renato Paiva – técnico (Fortaleza); cartão vermelho – Gustavo Mancha (Fortaleza)

» Botafogo: Léo Linck; Vitinho (Mateo Ponte), David Ricardo, Marçal e Alex Telles; Newton, Danilo (Huguinho) e Savarino (Joaquín Correa); Artur, Arthur Cabral (Mastriani) e Álvaro Montoro (Matheus Martins). Técnico: Davide Ancelotti.

» Fortaleza: Vinícius Silvestre; Tinga, Kuscevic, Gustavo Mancha e Weverson; Lucas Sasha, Matheus Pereira (Rossetto) e Lucca Prior (Yago Pikachu); Herrera (Adam Bareiro), Breno Lopes (Kervin Andrade) e Deyverson (Gastón Ávila). Técnico: Renato Paiva.

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