por José de Oliveira Ramos
Jornal Pequeno, 8/junho/2008
Embora o primeiro
registro tenha sido feito na cidade uruguaia de Taquarembo, João Alves Jobim
Saldanha, o nosso João Saldanha ou “João Sem Medo”, nasceu na cidade gaúcha de
Alegrete, no dia 3 de julho de 1917.
Terceiro filho de
Gaspar Saldanha e Jenny Jobim Saldanha, João Saldanha foi um dos mais
importantes ícones do jornalismo brasileiro. Emérito contador de histórias,
Saldanha trabalhou duro como crítico de cinema, crítico de arte, gastrônomo,
enólogo, cronista esportivo e em mais de uma oportunidade, até como técnico de
futebol.
Maragato por
convicção e vontade própria (MARAGATO – s. m. (Do cast. Maragato) 1. Bras. (RS)
Revolucionário adepto do federalismo, que em 1893 lutou ao lado de Gaspar da
Silveira Martins, opondo-se ao partido dominante, chefiado por Júlio de
Castilhos, federalista – 2. Revolucionário do Partido Libertador, que em 1923
se opôs à política de Antônio Augusto Borges de Medeiros, governador do Rio
Grande do Sul (presidente, como se dizia na época). ENCICL.: A denominação
maragato surgiu no Rio Grande do Sul com a revolução federalista de 1893 e
persiste até hoje, por extensão, aos participantes do Partido Libertador, que
são, por assim dizer, herdeiros da ideologia do Partido Federalista. O vocábulo
nos veio do Uruguai, onde são chamados maragatos todos os nascidos no
departamento de São José. Os partidários de Júlio de Castilhos, então
presidente do Estado do Rio Grande do Sul, deram aos revolucionários
parlamentares o apelativo de maragatos, atribuindo-lhes propósitos
mercenários.), João Saldanha tinha seis anos de idade quando começou a ajudar
os pais, o Rio Grande do Sul e por extensão o país, ao se juntar aos irmãos
Aristides e Maria para transportar armas e muitas munições por debaixo das roupas,
garantindo, assim, a luta ferrenha contra os chimangos (CHIMANGOS – Brasil (RS)
- Nome dado ao partido moderado, durante as Regências Trinas; membro daquele
partido [oposto ao farroupilha (exaltado) e ao restaurador (caramuru)]; alcunha
que, na República, deram os federalistas aos membros do Partido Republicano.).
Os xiitas do PT da
década de 80, tinham algumas semelhanças com os Maragatos.
Gaspar Saldanha e
Jenny Jobim Saldanha os pais, Aristides, Maria, João, Ione e Elza os filhos,
viveram anos exilados em Taquarembo.
Ainda criança, João
Saldanha já fazia parte da história de luta do brasileiro.
”Em 1931, após terem
voltado ao Rio Grande do Sul, se aliado a Getúlio Vargas e ganhado do mesmo um
cartório no Rio de Janeiro, os Saldanhas mudaram-se para a Cidade Maravilhosa.
João, no auge de seus
14 anos, apaixonou-se pelo Rio de Janeiro, pelas praias, pelos bondinhos, pelo
Pão de Açúcar e pelo Botafogo, clube da estrela solitária, que acabara de ser
campeão carioca. Ali, surgia o gaúcho uruguaio mais carioca de todos. De
posição política sempre bem definida, João Saldanha era esquerdista de corpo e
alma. Fazia parte do PCB (Partido Comunista Brasileiro) e estava sempre
disposto a lutar contra, ou a favor do governo – Gustavo Grohmann”.
Mas chegaria o dia em
que os pais e os irmãos de João Saldanha cansariam dos desencontros da guerra.
Chegaria, também, o dia em que o Saldanhas entenderam que precisavam mudar de
Alegrete. Fixaram residência em Curitiba, para permitir, também que os meninos
concluíssem os primeiros estudos. Até entã, João Saldanha ainda era “uruguaio”
de Taquarembo. Quando completou 18 anos, ele mesmo resolveu fazer novo Registro
de Nascimento, optando por ser brasileiro e gaúcho. Mas já residia
definitivamente – com os pais e os irmãos – no Rio de Janeiro.
”Em 1947 resolveu
estudar História na França. Em uma de suas aulas na faculdade de Paris, João
conheceu o jornalista italiano Sandrino Saverio. Seu pai, Aldo Saverio estava
montando uma agência de notícias. Após saber que Saldanha já conhecia vários
lugares do mundo, Sandrino convidou-o a participar da agência. Foi o primeiro
contato de João com o jornalismo: amor à primeira vista.

Uma paixão - O
futebol sempre esteve presente na vida de João Saldanha. Desde a época que os
11 jogadores do Guarani de Alegrete passavam na porta da casa do menininho de
seis anos, que carregava armas para ajudar os maragatos revoltados, passando
pelo garoto de 14 anos, que se deslumbrou pelo futebol das praias da cidade
maravilhosa, e findando sua breve carreira como jogador em 1941, quando se
chocou com Perácio (ex-Flamengo), fraturando a perna. Depois disso, viajou, foi
para a Europa, voltou à praia, trabalhou no cartório do pai...
No fim da década de
70, a Seleção Brasileira deixava muito a desejar. Bicampeã mundial (1958/62)
não repetiu as boas atuações das copas anteriores na Copa da Inglaterra, em
1966, sendo eliminada pela Seleção Portuguesa do craque Eusébio. O povo
criticava demasiadamente a seleção nacional que vinha obtendo maus resultados
em campeonatos e amistosos. Saldanha, já como jornalista, era um deles, mas
fazia críticas objetivas, ponderadas e construtivas àquele time. Foi então que
os diretores da CBD (Confederação Brasileira de Desportos) tentaram uma última
cartada, convidando o então jornalista, crítico e audacioso, João Saldanha para
comandar a seleção. O pensamento era simples: que jornalista vai criticar um
colega de trabalho?
Saldanha aceitou. Já
tinha uma experiência vitoriosa, dirigindo o Botafogo no fim da década de 50.
Logo em sua primeira entrevista coletiva apresentou os 11 jogadores titulares e
os 11 reservas. Eram as Feras de Saldanha. De 4 de fevereiro de 1969 a 17 março
de 1970, João dirigiu a Seleção Brasileira de futebol. Teve mais erros do que
acertos. Apesar do time caminhar bem nas eliminatórias e se classificar para a
Copa de 70, no México, João se perdeu no meio do caminho, em seu temperamento
e, principalmente, em seu desequilíbrio. Paulo César Vasconcelos, acredita que
isso foi ponto preponderante para a queda de Saldanha: “Ele saiu porque o
processo de desgaste com os jogadores estava muito acentuado, e
conseqüentemente, com a comissão técnica também. Ele disse que o Pelé não
poderia jogar a Copa porque estava cego. Ele tentou invadir o Retiro dos Padres
pra dar um tiro no Yustrich (técnico do Flamengo). O fator determinante para a
sua saída foi seu desequilíbrio”. Era o fim de João Saldanha como técnico de
futebol.
Um homem - Apesar de
todas as brigas, de todas as histórias, de todos as verdades, de todos os
ataques, de sua personalidade extremamente forte e, muitas vezes, incômoda João
Saldanha foi um homem admirado por muitos, mesmo até por seus inimigos. Sua
história é tão rica que lamento não ter nascido antes e convivido com um homem
tão digno. Falta João Saldanha nos dias de hoje. Falta João Saldanha no
futebol. Falta João Saldanha no jornalismo. Falta João Saldanha na sociedade.
Ele morreu no dia 12 de julho de 1990, na Itália, após a ridícula participação
da Seleção Brasileira naquele mundial. E tem gente que não sabe quem foi João
Saldanha! Ou então pensa que foi um bêbado, um contador de histórias... O
brasileiro é muito duro com esses personagens históricos; muito cruel. Como
diria Nélson Rodrigues: “brasileiro vaia até minuto de silêncio. Coitado do
morto”.
Parafraseando Paulo
César Vasconcelos, vou dizer que o nosso elenco é muito ruim. Se fossemos fazer
figuração numa cena da Santa Ceia, roubaríamos o pão e venderíamos a mesa.
5 comentários:
Se tenho um idolo no futebol, com certeza eh o Joao
Rui,
E como falta um João Sem Medo Saldanha no atual Botafogo!
Abs e Sds, Botafoguenses!!!
Estou de acordo, Ronau. Apenas com um senão: o Saldanha queria acabar com as modalidades olímpicas, suprimindo a vida clubista de natureza social. Creio que o futebol e as demais modalidades podem conviver. Aliás, é assim em todo o mundo com os grandes clubes.
Abraços Gloriosos!
Pois Falta, Gil. Hoje e sempre.
Abraços Gloriosos!
Com o Saldanha a agitar e o Paulo Azeredo a presidir, seríamos o máximo. O único senão é que o Saldanha saiu do BFR com as candeias às avessas em relação ao PA, que não aprovou os seus intentos de exclusividade do futebol.
Abraços Gloriosos!
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