sexta-feira, 18 de julho de 2014

Sou brasileiro, com nenhum orgulho e pouquíssimo amor

Vídeo que o autor considera servir perfeitamente de "analogia para o que aconteceu não apenas na derrota do Brasil para a Alemanha, mas na maneira de nosso país – é, com minúsculas mesmo – no cenário internacional civilizado." (Regis Tadeu)

por REGIS TADEU
10/julho/2014

[NOTA DO MUNDO BOTAFOGO: Um brasileiro discernente que ama profundamente o seu país e dele exige trabalho e competência. Imperdível.]

Ontem foi feriado aqui em São Paulo. Independente disto, resolvi não publicar o texto que você vai ler a seguir apenas para que você tivesse um dia inteiro para refletir a respeito da vergonhosa derrota que a nossa seleção brasileira - é, em minúsculas mesmo - encarou anteontem diante da Alemanha.

E posso escrever isto com a autoridade de quem torceu contra o Brasil desde o primeiro minuto desta Copa. Caso não lembre disto, publiquei um texto no Yahoo exatamente um dia depois da cerimônia de abertura do evento, com o título “Para começar a melhorar como nação, o Brasil precisa perder de maneira vergonhosa esta Copa do Mundo”, que você ler e reler aqui.

Não, não vou discutir o que aconteceu em termos futebolísticos - aliás, os jogos foram sensacionais! - porque, a julgar pela comoção nacional causada pela lesão do Neymar – fruto de uma jogada que pode acontecer em qualquer partida de futebol, que é um esporte de contato -, muito pouca gente que taxou o zagueiro da Colômbia de “criminoso” sabe o que é uma bola ou calçou uma chuteira na vida. Portanto, não vou perder meu tempo explicando porque, taticamente e psicologicamente, a Alemanha transformou o time do Brasil em pó de traque.

O que espero que você tenha percebido é que a vexatória derrota em campo foi até pequena se comparamos com a absurda e hecatômbica derrota que tivemos como Nação ao longo da competição.

Foram pequenos sinais no início do evento – a animação de plástico da torcida, mais preocupada em tirar “selfies” dentro do estádio e fazer micagens quando focalizada no telão, a vibração ancorada em gritos ridículos e canções extraídas de comerciais de chinelos – que se transformaram em atitudes inacreditáveis de falta de civilidade.

Quer um exemplo? Ver a torcida inteira do Brasil vaiando o hino do Chile foi um dos momentos mais vexatórios de nosso país como nação que pretendia demonstrar alguma dignidade ao mundo. Conseguimos exibir ao mundo inteiro, via satélite, o quanto somos mal educados e grosseiros. De que adianta propagarmos comerciais de gente feliz e sorridente se mostramos ao mundo que não passamos de um monte de merda em termos diplomáticos?

Outro exemplo? Alguém se preocupou em estender uma faixa em solidariedade às famílias das pessoas mortas e machucadas na queda do viaduto em Belo Horizonte dias antes do jogo contra a Alemanha? Ou mesmo um minuto de silêncio antes do início das partida, que aconteceu na mesmíssima capital da tragédia? Não, né? Afinal, isto não faz parte do “padrão fifa” – é, em minúsculas mesmo – e não pega bem mostrarmos ao mundo a nossa incompetência. Legal mesmo é exibirmos nossa falta de sensibilidade...

Depois, a vergonha aumentou muito mais. Relatos em todos os meios de comunicação mostravam que locais de concentração de pseudo torcedores em várias capitais do País para assistirem aos jogos em telões e bares se transformaram rapidamente em centros de vandalismo explícito. Tudo temperado com hordas e hordas de gente mijando nas ruas, comprando drogas de traficantes que transformaram estes locais em verdadeiras feiras livres de maconha e cocaína, anunciando seus “produtos” aos gritos, exatamente como fazem os tradicionais feirantes. Aqui em São Paulo, as pessoas que moram na Vila Madalena, tradicional reduto da boêmia ‘mauricinho/patricinha’, sabem bem do que escrevo aqui, né?

Então veio a derrota do Brasil no campo. Isto apenas sacramentou a derrota que tivemos como Nação digna fora dele, incluindo aí um monte de ônibus queimados – temos tantos deles, né? –, saques a lojas e ao comércio em geral (leia aqui), já desesperado pela estagnação da economia causada pela Copa, ao contrário da propaganda oficial que tentou e ainda tenta fazer uma lavagem cerebral nos mais incautos. Só faltou a Rede Globo botar o Pedro Bial para fazer um “discurso de eliminação”...

Sinceramente, espero que tudo o que aconteceu sirva de lição ao Brasil inteiro. Precisamos entender de uma vez por toda que só seremos um País digno de se orgulhar de verdade quando tomarmos real consciência de que não podemos mais enaltecer a “malandragem brasileira”, a nossa capacidade de fazer “festa” em vez de trabalharmos com profissionalismo. Chega de nos desesperarmos por “badalação” e deixar de lado a disciplina e o comprometimento. Não, o tão propagado “jeitinho brasileiro” tem que ser abandonado para privilegiarmos educação, trabalho, esforço e dedicação.

Não podemos mais aceitar o assalto de trilhões aos cofres públicos para recebermos em troca um circo imbecilizante e pão mofado. Temos que largar a mão de sermos estúpidos e burros. Parar de sentir indiferença quando governantes sorridentes fazem alianças políticas escusas para conseguir mais benefícios próprios – não é mesmo, Lula e Paulo Maluf?

Temos que direcionar nossas prioridades para os objetivos certos. Não encarar como “normal” ver estádios cheios de torcedores endinheirados enquanto grande parte do País passa fome. Precisamos deixar de agirmos como seguidores estúpidos de uma seita imbecilizante na hora de discutirmos os inúmeros problemas políticos e sociais que temos.

Precisamos urgentemente de capacidade para ver e entender o que está se passando diante de nossos próprios olhos, banir de uma vez por todas a forma tosca com que enxergamos a nossa situação como Nação. Chega de patéticos discursos motivacionais de araque, basta de muletas de vidro para sustentar um País de pé.

Basta deste “patriotismo de trinta dias” a cada quatro anos entre uma Copa do Mundo e outra, que faz com que torcedores antes emocionados e chorões durante o Hino Nacional cantado em uníssono passem a tacar fogo na bandeira nacional depois da primeira derrota.

Somos, sim, uma das piores Nações do planeta em centenas de aspectos. Hoje estamos de joelhos não apenas no futebol. Onde estão agora os imbecis – jornalistas incluídos - que afirmavam que a Copa estava comprada para o Brasil? Cadê o Jorge Kajuru, que não se cansava de afirmar tal pusilânime acusação na frente de qualquer microfone e câmera apontada em sua direção?

Acreditamos que a malandragem é mais importante que a competência. Somos parasitas que preferem ter o peixe já na boca em vez de aprender a pescar. Amamos o Brasil na Copa do Mundo, mas não temos o menor pudor de roubá-lo no dia seguinte à desclassificação. Pagamos o preço por termos uma nociva soberba, acreditamos que temos um potencial maior do que a realidade esfregada na nossa cara. Não, não temos. Somos iludidos o tempo todo.

Torço para que toda esta geração de crianças que choram hoje pela desclassificação da seleção brasileira - é, em minúsculas mesmo – aprenda já na semana que vem que a gente tem que ralar pra caramba, tem que estudar e treinar para se dar bem na vida. Que ganhar dinheiro sem trabalhar e de modo desonesto é errado. Que “gingado esperto” não ganha jogo.

7 comentários:

Sergio Di Sabbato disse...

Perfeito retrato do nosso país, o que é triste para quem gostaria de vê-lo dar certo. Mas o que se esperar de uma nação que teve um presidente que se orgulha de nunca ter lido um livro na vida. Como disse o filósofo Olavo de Carvalho: "falar em cultura no país é crime, o que dirá falar em alta cultura". Basta vermos uma novela ou nosso programas televisivos para vermos o nível que esse país se tornou. Retrato fiel da nossa pobreza em todos os sentidos. Abs e SB!

Anónimo disse...

RUI, concordo plenamente com tudo que foi colocado pelo REGIS TADEU.
Acho até que ele foi muito bonzinho nas críticas a atual situação em que nos encontramos.
Hoje em dia,eu tenho vergonha de ser brasileiro, particularmente quando leio o que pensam do nosso país no exterior.JOTA.

Ruy Moura disse...

É uma grande pena, JOTA, que um grande país como o Brasil, que podia espreitar o futuro como uma grande nação, faça tudo para ser notícia mais ou menos escandalosa no estrangeiro. É lamentável que em 200 milhões de pessoas não se consiga escrutinar uma plêiade de políticos capazes de alavancarem a nação.

Abraços Gloriosos.

Sergio Di Sabbato disse...

Então o famoso FEBEABA do inesquecível Sergio Porto seria um livro adaptável a muitas e muitas nações do planeta. Essa do concerto de violino do Chopin foi ótima. Confundir o autor da Utopia com o do Dr Fausto também foi duro. Prá ser sincero essa falta de um conhecimento mínimo é triste. Abs e SB!

Anónimo disse...

Meu caro RUI,um resumo do resumo da ópera do que acontece por essas bandas.
O que explica a confusão da América Latina é o Foro de São Paulo.
Trata-se é uma organização que reúne de maneira promíscua partidos políticos legais, organizações terroristas e grupos narcotraficantes. Ele foi fundado em 1990 por Lula e Fidel Castro, que prometiam reconquistar na América Latina o que se havia perdido no Leste Europeu. Seu objetivo era traçar estratégias comuns e lançar “novos esforços de intercâmbio e de unidade de ação como alicerces de uma América Latina livre, justa e soberana”. A unidade estratégica dessas organizações visava tomar o poder em todo o continente, criando uma frente de governos socialistas em oposição aos Estados Unidos. Hoje, duas décadas depois, o Foro de São Paulo governa 16 países, nos quais aplica a mesma agenda de aparelhamento do Estado, de limitação das liberdades civis, de relaxamento no combate ao narcotráfico, de perseguição à oposição e à imprensa livre.
O “Plan de Acción” aprovado e publicado nas atas do seu 19.º Encontro, ocorrido em São Paulo no começo deste mês, confirma e reforça o pacto estratégico e o compromisso solidário estabelecidos 23 anos atrás. Os efeitos práticos dessa solidariedade política ficam claros quando observamos a submissão do governo petista às diretrizes do Foro, em detrimento dos interesses nacionais, como ilustram alguns casos da nossa política recente.
É muito triste, mas é a nossa realidade.JOTA.

Sergio Di Sabbato disse...

Rui, é muito triste tanta ignorância. Eu costumo dizer que a burrice é mundial, mas no brasil é elevada a 5ª potência. Você não tem ideia do que é ser músico com conhecimento, alguns chamam de erudito, fazer música de concerto num país como o nosso. Não importa o estilo de música que se faça, mas atualmente é de dar dó o nível musical do país. E não é por ser popular ou não, é porque é muito ruim mesmo. Pixiguinha fazia choro e foi um ótimo compositor e vários outros poderiam ser citados. E na literatura, ao dar uma olhada nos acadêmicos da ABM, dá vontade de chorar. Também paro por aqui, porque é triste ter que ficar falando da estultícia alheia. Mudando de assunto: você conhece a música de seu conterrâneo Fernando Lopes Graça? Grande compositor, provavelmente o maior compositor português do século XX, além de grande musicólogo, que foi perseguido na ditadura Salazar. Um amigo meu, compositor e maestro que está empolgadíssimo com a obra de Lopes Graça. Vale a pena conhecer sua música. Abs e SB!

Ruy Moura disse...

E é uma pena, Sergio, porque a música brasileira de outrora, assente em muita pesquisa musical por todos os cantos do Brasil, era absolutamente única. Agora é a cópia do costuma, sem nenhuma inovação e cheia de repetições.

Sobre o Fernando Lopes Graça direi que, além de extraordinário maestro e compositor, e antifascista a quem a ditadura bandalha de Salazar retirou direitos de autor, licença de professor, etc., também escreveu importantes obras literárias sobre música. O País é pequeno, mas a capacidade inventiva do povo português é inesgotável.

Eu ouço muitas vezes porque o acesso à rádio no computador e no automóvel faço sempre através da Antena 2, que é uma estação musical que passa toda a múdica clássica, assim como a música sacra que o Sergio gosta, e também muito jazz. Eu sempre preferi os músicos clássicos e o jazz - agrada-me muito os sons dos instrumentos de jazz.

Abraços Gloriosos.

O otorrino não me deu ouvidos

[Aos leitores interessados informa-se que as crônicas de Lúcia Senna no Mundo Botafogo foram publicadas em livro intitulado 'No embalo...