por Ruy Moura
editor do Mundo Botafogo
Jordan da Costa, ex-lateral do São Cristóvão e do Flamengo, nasceu no Rio de Janeiro a 24 de novembro de 1932 e faleceu na mesma cidade a 17 de fevereiro de 2012, aos 79 anos de idade, tendo atuado como lateral esquerdo na grande conquista do Flamengo tricampeão carioca da década de 1950.
Torcedor de raiz do São Cristóvão, que o revelou, Jordan adotou o Flamengo como segundo clube e aí se destacou como um grande lateral, convocado para a Seleção Brasileira na disputa da Taça Oswaldo Cruz em 1955 e, quiçá, segundo algumas opiniões, o melhor marcador de Garrincha.
Jordan iniciou-se no campo do bandeirante, no Morro da Mangueira, e era um centroavante de sucesso, que recuava para ajudar a defesa e, por isso, quando foi treinar no São Cristóvão colocaram-no na lateral esquerda.
No São Cristóvão começou com 15 anos, progrediu rapidamente e aos 17 anos já jogava na equipe principal. A equipe jogava bem, chegou a vencer o Vasco da Gama por 2x0 e despertou a atenção do Flamengo. Jordan confessa que conversou com Flávio Costa sem o conhecimento do São Cristóvão, que não queria perdê-lo. Porém, um dia Flávio Costa foi à Figueira de Melo falar com os dirigentes e tudo se resolveu: Jordan ingressou no Flamengo em 1952, substituindo Bigode, que retornara ao Fluminense.
Entretanto, Fleitas Solich, o ‘Feiticeiro’, assumiu o Flamengo e Jordan foi campeão carioca em 1953. Com o treinador, Jordan foi titular absoluto do tricampeonato carioca em 1953-54-55.
Passado um tempo Flávio Costa
regressou ao Flamengo e mudou muito a equipe influenciando no seu rendimento,
segundo Jordan. Porém, o marcador de Garrincha continuou progredindo e acabou
por ser considerado, pela imprensa, como o melhor
marcador do fenomenal Garrincha.
Eis a narração do atleta sobre Garrincha e o modo como recebia o
elogio de ser o melhor marcador do maior driblador do mundo:
– Na decisão de 62 contra o Botafogo, o Flávio queria que o Gerson
desse o primeiro combate ao Mané. Todas às vezes que o Mané pegasse a bola, eu
recuava. Mas o Gerson não queria fazer isso. Eu fiz o que ele mandou. Recuava
para guardar a entrada da grande área. Se o Gerson não conseguisse tomar a bola
do Mané, eu sairia na cobertura dele. Na minha opinião, o Gerson não tinha de
maneira algumas condições de dar esse primeiro combate. Se o Flávio invertesse,
eu ir na frente e o Gerson vir por trás fazer a cobertura, seria muito melhor.
– Garrincha fez o que queria e infelizmente o Gerson levou um
baile. O Gerson falava: “Jordan, eu vou fingir que vou, mas não vou não.” Ele
não ia, sabia que tomaria o drible.
– Depois que o Gerson saiu daquela embaralhada, o homem [Flávio Costa]
mandou eu fazer aquele trabalho e o Gerson fazer o meu trabalho. Eu chegava
muito mais perto do Mané. Quando ele tentava o drible, eu parava para dar o
bote certo. Algumas vezes eu o pegava, outras não pegava. A gente ficou assim
nessa. Quando ele fazia aquela de passar o pé por cima da bola, eu parava e
ficava assistindo. Quando ele parava, eu dava o bote. Ele não tinha como se
mexer e se embaralhava e aí eu pegava.
– Mané tinha uma arrancada sensacional. Primeiro ele passava a
perna esquerda em cima da bola para apanhar com a direita. Eu ficava junto.
Quando ele passava, eu ficava junto porque sabia que ele não tinha perna
esquerda. Ele não chutava com a esquerda. Eu vinha, vinha, vinha e quando ele
fazia aquela de puxar com a direita eu já ia levando a minha perna direita na
bola. Às vezes ele passava, o que era normal, mas muitas vezes o desarmei.
– Eu não ligava muito para a imprensa. Eu fazia o normal de
sempre. Saber chegar nele numa bola. Quando enfrentei o Garrincha pela primeira
vez, eu me surpreendi, mas o marquei bem. A imprensa me elogiou. Ele vinha com
os dribles dele e eu nunca dei pontapé. Eu não sabia bater. Eu ia na bola. Dei
muita sorte também. Num dos últimos jogos que eu fiz contra o Mané, quando
terminou o jogo ele apanhou a bola e veio na minha direção e disse:
–
“Negão, hoje você merece tudo. Ela é sua.”
Fontes principais:
(a) https://historiadoresdosesportes.com/2017/12/21/jordan-da-costa-o-melhor-marcador-de-mane-garrincha/,
da autoria de José Rezende, jornalista,
torcedor do Fluminense, responsável pelo Blogue ‘Álbum dos Esportes’ e
autor dos livros “Hei de Torcer até Morrer”, sobre o América-RJ, “Eternamente
Bangu”, e co-autor, juntamente com o historiador Raymundo Quadros, do livro
“Vai dar Zebra”, sobre a história dos clubes pequenos do Rio de Janeiro.