segunda-feira, 24 de maio de 2021

Garrincha e o seu ‘João’ paulista: Dalmo, do Santos (VII)

Crédito: revista Placar – 28 de janeiro de 1983

por RUY MOURA

Editor do Mundo Botafogo

Dalmo Gaspar nasceu a 19 de outubro de 1932, em Jundiaí, e faleceu a 2 de fevereiro de 2015 na mesma cidade, tendo-se destacado como lateral esquerdo do Santos FC entre 1957 e 1964.

Dalmo iniciou-se no São Paulo de Jundiaí e foi campeão juvenil da Liga Jundiaiense de futebol, profissionalizando-se mais tarde no Paulista de Jundiaí (1951-1954). Entre 1954 e 1957 jogou no Guarani como zagueiro e o seu desempenho chamou a atenção do Santos, que o contratou em 1957.

O atleta rapidamente se tornou titular como lateral esquerdo e conquistou sucessivos títulos oficiais: Taça Libertadores (1962 e 1963), Campeonato Brasileiro (1961 e 1964), Torneio Rio-São Paulo (1959) e Campeonato Paulista (1958,1960, 1961, 1962 e 1964). De entre os títulos não oficiais foi vencedor, entre outros, da Copa Intercontinental (1962 e 1963), Troféu Teresa Herrera (1959) e Torneio de Paris (1960 e 1961).

A partir de 1964 fez o percurso inverso da sua carreira: retornou ao Guarani (1964-1966) e mais tarde regressou ao Paulista (1967), terminando a sua carreira profissional onde a iniciou.

Dalmo foi o inventor da famosa ‘paradinha’, recurso que adotava desde os tempos do São Paulo de Jundiaí, já que era um especialista na cobrança de grandes penalidades. Mas foi durante um treino no Santos que Pelé viu o ato técnico de Dalmo e copiou a cena como se fosse o seu autor, levando-a depois ao mundo inteiro até a Fifa proibir o ato. Pepe foi quem confirmou o gesto de Dalmo, assistido presencialmente pelo ponta esquerda do Santos.

Encerrada a carreira de futebolista, Dalmo foi técnico do Catanduvense, do Santo André e do Taubaté, tornando-se mais tarde comentarista esportivo da Rádio Cidade Jundiaí - AM 730, na equipe comandada por Milton Leite.

Créditos: Revista Placar, 28 de janeiro de 1983

No entanto, quando o assunto era ‘Garrincha’, Dalmo já não tinha fama nem sorte, excepto a de ser mais um ‘João’ do maior driblador de todos os tempos. Permanentemente vencido pelo ponta direita, Dalmo tentava de tudo para travar o sempre temido Garrincha

Na década de 1960, durante uma exibição inesquecível de Garrincha contra o Santos de Pelé, pouco divulgada pela mídia, como de costume, opôs mais uma vez o ídolo botafoguense a Dalmo, seu marcador.

O lateral-esquerdo viveu uma tarde de terror, porque Garrincha ia levando Dalmo até dentro da grande área, onde o santista não podia fazer falta, e o Pacaembu não acreditava no que via: um ponta andar desde a intermediária até a área sem que o lateral tentasse tirar a bola, temeroso do drible desmoralizante.

Dalmo virou motivo de chacota dos torcedores, muitos dos quais nem santistas eram, mas que iam ao campo na certeza do espetáculo, e então resolveu bater antes de chegar à grande área: bateu uma vez, Garrincha caiu, o árbitro marcou a falta e repreendeu o paulista; bateu outra vez, Garrincha voltou ao chão, o árbitro marcou a falta e ameaçou Dalmo de expulsão; bateu novamente, e Garrincha ficou estirado no gramado.

Dalmo terá pensado que talvez fosse expulso, mas que arrebentaria Garrincha e ele não jogaria mais. Pensado e feito, o gênio das pernas tortas estava estirado no bico direito da área dos portões principais do Pacaembu e Dalmo expulso.

Porém, após a expulsão, Garrincha levanta-se, afasta os seus companheiros, envolve com o braço esquerdo o ombro de Dalmo e acompanha-o até a descida da escada para o vestiário. Saíram conversando, como se Garrincha fosse um pedagogo e justificasse a atitude porque Dalmo não tinha outro jeito de o parar.

O Botafogo foi aplaudido e Garrincha ovacionado como se fosse o Charlie Chaplin do futebol – divertido, anárquico, humano, sensível e solidário.

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