quarta-feira, 8 de setembro de 2021

BOTAFOGUENSES ANÔNIMOS (01): Fritz Engel

O Mundo Botafogo inaugura hoje a rubrica ‘Botafoguenses Anônimos’, cujo responsável será José Ricardo Caldas e Almeida, um amigo de longa data, que agora decidiu escrever no blogue sobre futebolistas botafoguenses muito pouco conhecidos do público e da torcida do Glorioso. São esses ‘ilustres anônimos’ que José Ricardo irá trazer para o palco do futebol botafoguense. Boas leituras!

por JOSÉ RICARDO CALDAS E ALMEIDA

Colaborador do Mundo Botafogo e Pesquisador de futebol

Fritz Engel nasceu na Alemanha em 3 de abril de 1910. Aos 19 anos era jogador do Rot-Weiss Frankfurt, clube que defendeu até o ano de 1933.

Nas temporadas 1929/1930 e 1930/1931, o Rot-Weiss alcançou o 2º lugar na Main District League, atrás do Eintracht Frankfurt, e avançou para a fase final do Campeonato do Sul da Alemanha.

As dificuldades surgiram para Fritz Engel em 1932, quando o Rot-Weiss Frankfurt e vários de seus jogadores foram condenados por violar o estatuto de amador.

Antes do primeiro jogo do campeonato da temporada, em 12 de setembro, a DFB (federação alemã) se recusou a permitir os profissionais alemães. No final de setembro, a DFB deu seu veredicto sobre o assunto: o presidente do clube Rot-Weiss Frankfurt, Paul Hahn, foi banido para sempre e dois outros dirigentes foram colocados na lista negra. Fritz Engel foi punido por dois anos.

Engel e outros dois jogadores do clube ainda tentaram continuar suas carreiras profissionais no campeão da Alsácia, o F. C. Mulhouse, na França. Lá, foram recebidos pelo austríaco Ferdinand Swatosch, que havia se posicionado contra os regulamentos amadores alemães alguns anos antes no SpVgg Sülz 07, de Colônia, e também foi banido. Contando com os três alemães, passou a preparar a equipe para a primeira temporada da era profissional na França. Mas também não deu certo.

No ano de 1933, a federação alemã, ligada ao amadorismo, limitou estritamente o subsídio para despesas dos jogadores de futebol. Muitos jogadores não gostaram disso, pois significava que eles estariam limitados aos seus salários mensais como mecânico de 180 marcos.

Foi quando surgiu na vida de Fritz Engel o Grasshoppers Club Zurich, da Suíça, contando com o patrocínio de seu presidente Willy Escher, acionista majoritário da Nestlé, que passou a fazer ofertas de salários de cerca de 500 marcos a alguns jogadores alemães.

No novo clube, Engel venceu a Copa da Suíça da temporada 1933/1934, treinado pelo húngaro Izidor “Dori” Kürschner, com quem Engel viria a trabalhar no Brasil também. Foram 51 jogos no Grasshoppers. Ainda teve uma rápida passagem, em 1935, pelo BSC Young Boys (dois jogos).

No final de dezembro de 1935, Fritz Engel desembarcou no Brasil para trabalhar como técnico da Paul J. Cristoph, empresa especializada em importação de máquinas de escrever e caixas registradoras, firma que o tinha sob contrato em Zurich.

Como era moço (25 anos) e não queria desperdiçar seu tempo, começou a procurar clube para jogar futebol.

Quando decidiu vir para o Brasil trouxe uma carta do Secretário da FIFA, através da qual foi recomendado ao Vasco da Gama, ao Fluminense e ao Flamengo.

No Vasco da Gama, sem nenhum compromisso, chegou a participar de um treino, deixando boa impressão, evidenciando conhecer bastante a posição e possuir apreciável controle de bola.

Aqui ele conhecia o veterano jogador Welfare, que tomou parte do treino de 26 de dezembro de 1935, mas resolveu aguardar por um clube que melhores vantagens oferecesse.

No começo de 1936, depois de rápida passagem pelo São Cristóvão, foi para o Fluminense, onde chegou a atuar bem no quadro de reservas. Como também não ficou satisfeito e suas pretensões não foram atendidas, resolveu se afastar.

Finalmente, em 15 de março de 1936, realizou seu primeiro treino no Flamengo, onde acabou acertando sua permanência até 1938. Formou a ala esquerda com Jarbas, houve-se muito bem, conseguindo marcar dois gols. Agradou plenamente e, no dia seguinte, assinou seu primeiro contrato com o clube rubro-negro.

No dia 19 de março de 1936 marcou um gol no treino do Flamengo. Ao findar o treino, Engel foi alvo de significativa manifestação por parte da torcida. Três dias depois, aconteceria o primeiro jogo de Engel com o time do Flamengo. No dia 22 de março de 1936, o Flamengo foi até São Paulo (SP) e perdeu para a Portuguesa de Desportos, por 6x4. Engel participou com dois passes para gol, mas não pôde evitar a derrota.

Depois de um período em que brilhou na equipe do Flamengo, Engel foi decaindo aos poucos e passou a figurar na reserva da equipe. E assim foi até o dia 3 de julho de 1938, quando Engel disputou seu último jogo com a camisa do Flamengo, justamente contra o Botafogo, clube que iria defender em seguida.

Logo após esse jogo, ele pediu rescisão de contrato, alegando que deveria parar com o futebol, dedicando seu tempo aos afazeres de seu emprego na firma comercial que trabalhava.

Não demorou para aparecer num treino no Botafogo, realizado no dia 7 de setembro de 1938. No dia 24 de setembro de 1938, Engel firmou um contrato de quinze meses com o Botafogo, recebendo a importância de quinze contos de réis.

Sua estreia no Botafogo aconteceu no dia 25 de setembro de 1938 contra o Bangu, em jogo válido pelo Campeonato Carioca desse ano, que terminou empatado em 2x2. Engel entrou no segundo tempo, no lugar de Nelson Juliani.

Sua entrada deu novo alento à ofensiva botafoguense, que passou a assediar insistentemente o arco do Bangu, chegando ao gol de empate quando faltavam poucos minutos para finalizar o encontro.

No primeiro treino após o empate com o Bangu, Engel chocou-se com Octacílio e sofreu violenta torsão em um dos joelhos.

No dia 30 de setembro de 1938, Engel foi examinado pelo zagueiro-médico Nariz e constatada a existência de uma fratura, razão pela qual Engel precisou submeter-se a um tratamento longo e rigoroso.

No começo do ano de 1939, depois de experimentar ligeiras melhoras, Engel verificou que não estava totalmente curado da contusão, sendo submetido a uma intervenção cirúrgica no menisco.

Em 13 de abril de 1939, Engel voltou aos treinamentos no Botafogo, sendo testado na equipe principal na posição de zagueiro esquerdo.

Depois que Martim machucou-se no jogo contra o Flamengo, o treinador do Botafogo, Carlito Rocha, convocou Engel para o seu lugar, voltando a atuar em uma partida de futebol no dia 30 de abril de 1939, em General Severiano, na vitória de 5x1 sobre o Madureira, válida pelo Campeonato Carioca. Mesmo com a goleada, Engel teve atuação discreta.

Depois dessa partida foram mais dez jogos, até que realizou seu último jogo no Botafogo, em 26 de novembro de 1939, em São Januário, no Rio de Janeiro-RJ, em jogo válido pelo Campeonato Carioca deste ano, com derrota de 5x4 para o América.

Aos 30 anos, em 1940, ainda tentou continuar no futebol, sendo contratado pelo São Cristóvão, mas logo desistiu para trabalhar em sua firma comercial.

Com 70 anos, teve que dirigir, incansavelmente, sua pequena oficina mecânica.

Morreu anonimamente no Hospital de Bonsucesso, no Rio de Janeiro-RJ, em 1º de abril de 1983.

Fontes: O Jornal; Jornal dos Sports; Sites e blogs na internet.

13 comentários:

jornal da grande natal disse...

Simplesmente sensacional. Parabéns ao blog e ao colaborador.

Eduardo Samico disse...

Excelente iniciativa ! Parabéns, meus caros ! Que venham muitas outras histórias. Abraços.

José Ricardo Caldas e Almeida disse...

Grato, amigos, tentaremos colocar histórias de outras estrelas, esquecidas com o tempo...

Anónimo disse...

Histórias que só o Mundo Botafogo possui. Abraços, Rui !!!

Patinhas.

Sergio disse...

Fantástico, parabéns amigo Ruy. Abs e SB!

Ruy Moura disse...

Obrigado, amigo José Vanilson.
Abraços Gloriosos.

Ruy Moura disse...

Pois é, Eduardo, tenho a certeza que o José Ricardo vai produzir fulgurosas histórias.
Abraços Gloriosos.

Ruy Moura disse...

Verdade, Patinhas! Este Mundo Botafogo tem pesquisadores históricos de 1ª linha!
Abraços Gloriosos.

Ruy Moura disse...

Sergio, mesmo quando o futebol do Botafogo não conhece os melhores dias, as nossas histórias levantadas pelos nossos torcedores-historiadores são um bálsamo de alegria!
Abraços gloriosos.

Unknown disse...

Parabéns pelo resgate desta história.

Ruy Moura disse...

Agradeço a parabenização em nome do José Ricardo.
Abraços Gloriosos.

Anónimo disse...

Conheci ele lá na empresa de sua propriedade Sr. Angel me mostrou todos os jornais da época onde ele era um grande dedtaque ate nas primeiras páginas e dava pra ver o orgulho dele ais seus feitos no futebol. Bela homenagem ao Dr. Fritz Angel.

Ruy Moura disse...

As memórias dos momentos felizes conseguem estender a alegria e o prazer por anos e anos afora. Imagino que na sua memória estejam esses momentos extraordinários vividos com Fritz Angel. Que sorte!

Abraços Gloriosos.

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