quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Quarentinha: o artilheiro que fazia sorrir

por CARLOS EDUARDO

Crônicas de Quinta, no Mundo Botafogo

Hoje é dia de celebrar mais um dos inúmeros ídolos que já vestiram a Camisa Gloriosa.

Esse craque nasceu em Belém do Pará e é o maior artilheiro de nossa história... com ‘apenas’ 298 gols ou 316… (*) Quarentinha é o homenageado da vez no "Crônicas de Quinta".

Filho de Luiz Gonzaga Lebrêgo (‘Quarenta’), ídolo e grande artilheiro do Paysandu nos anos de 1930 e 1940, Waldir Gonzaga Lebrêgo (‘Quarentinha’) nasceu em 15 de setembro de 1933, e sua família vivia na mesma rua do mítico estádio da Curuzu.

Morando perto da Curuzu e seu pai um ídolo do Paysandu, o destino só poderia ser um: tornar-se futebolista de primeira grandeza.

Seu Quarenta’, percebendo o talento do filho, rapidamente levou-o ao Paysandu, e o menino rumou aos juvenis da equipe no ano de 1949.

Pelas arquibancadas da Curuzu, os torcedores mais antigos do Paysandu, notando o talento do filho de ‘Seu Quarenta’, apelidaram aquele menino de ‘Quarentinha’. E, neste caso, mal sabiam os torcedores do Papão que filho de peixe, peixinho é.

Subiu aos profissionais do S. C. Paysandu em 1952. No final do mesmo ano, durante uma excursão vascaína do ‘Expresso da Vitória’ em terras paraenses, o time carioca derrotou o Papão por 9x3.

Apesar da derrota bicolor, Quarentinha marcou os 3 gols de seu time, e seu desempenho naquele jogo chamou a atenção do técnico cruzmaltino, Flávio Costa. E não foi só o Vasco que interessou-se no futebol de Quarentinha.

Sabendo da investida do ‘Time da Colina’, a imprensa local tratou logo de dizer que a contratação seria difícil. O Bahia já havia enviado uma proposta ao Paysandu, embora bem abaixo do pedido. Porém, o que a imprensa, o Bahia e o Vasco não sabiam era da proposta surpresa do Vitória, que (antes dos 2 clubes) já havia feito uma proposta um pouco superior à do Bahia e acabou levando a futura estrela para casa.

Seu destino na temporada de 1953 era o rubro-negro da ‘Boa-Terra’. Chegou ao Vitória-BA com o clube enfrentando um longo jejum de títulos baianos, o último fora em 1909. E ele chegou dando conta do recado!

A peça ideal e titular do time que quebraria um tabu de ‘Quarenta’ e quatro anos do ‘Leão Baiano’, só ocorreria se ‘Quarentinha’ estivesse no elenco.


O ano de 1953 entraria para as lembranças eternas dos torcedores rubro-negros. Quarentinha era titular e venceu o torneio estadual daquele ano, sendo o artilheiro-máximo da competição com 31 gols, e caindo nas graças da torcida.

O grande escritor João Ubaldo Ribeiro relatou, tempos depois, que enquanto esteve na Bahia nos anos de 1950, seu grande ídolo era Quarentinha.

Com seu desempenho em alta, despertaria o entusiasmo de outro clube carioca em sua contração, o Botafogo (numa excursão feita à Bahia).

Chegaria ao ‘Glorioso’ no meio da temporada de 1954 e rapidamente acostumou-se com a nova cidade.

Ao mesmo tempo que fazia muitos gols, convivia com a implicância dos dirigentes que percebiam a ‘frieza’ e a não-comemoração exacerbada dos gols que fazia. Diziam que nem esboçava um sorrisinho após balançar as redes adversárias.

Após inúmeras conversas sobre esse assunto, Quarentinha tornou-se um pouco rebelde e boêmio, e continuava não sorrindo após os gols.

Lá pelos anos de 1956, os diretores do Botafogo decidiram emprestá-lo ao Bonsucesso. Esse castigo imposto pelos cartolas alvinegros não foi capaz de derrubar o excelente futebol apresentado por ele em terras cariocas.

A melhor resposta de Quarentinha aos dirigentes alvinegros seria continuar fazendo GOLS. E fez muitos! Foi vice-artilheiro do estadual com 21 gols marcados pelo modesto time rubro-anil da Leopoldina.

Os dirigentes alvinegros percebendo o erro e logo trouxeram-no de volta para General Severiano, em 1957.

Mesmo com alguns diretores do clube ainda torcendo o nariz com seu retorno, Quarentinha logo viraria o xodó do técnico João Saldanha para aquela temporada histórica de 1957. E foi a partir daí que a carreira de Quarentinha definitivamente deslanchou.

Foi titular e um dos principais jogadores do elenco de 1957 (marcando 13 gols), e jogando ao lado de grandes jogadores do futebol brasileiro e mundial, como Didi, Garrincha, Nilton Santos, Pampolini, Paulo Valentim, ajudando o clube a encerrar um jejum de 9 anos sem a taça estadual.

Em 1958 (20 gols), 1959 (27 gols) e 1960 (25 gols), foi o goleador principal do ‘Cariocão’, e também o maior artilheiro do elenco em 1958 (53 gols), 1959 (56 gols) e 1960 (56 gols).


Quer um super-artilheiro de chutes potentes e certeiros?... No futebol brasileiro do fim dos anos 1950 até meados dos anos 1960, somente Quarentinha do Botafogo e Pepe do Santos.

Pelo Botafogo foi tri-campeão estadual e bi-campeão do Rio-São Paulo e também ajudou o ‘Glorioso’ a conquistar o tradicionalíssimo e importante Torneio de Paris, em 1963.

Pela Seleção Brasileira tem a melhor média de gols da história: 1 gol por jogo (17 jogos - 17 gols).

Quase foi para a Copa do Mundo de 1962, mas foi cortado devido à uma lesão... e isso não diminuiu sua relevância no futebol.

Por muito pouco não tivemos a célebre linha de frente botafoguense composta por Didi, Garrincha, Quarentinha, Amarildo e Zagallo numa Copa do Mundo, vestida de verde e amarelo.

Depois de quase 10 anos de Botafogo, Quarentinha tornou-se o maior artilheiro do clube.

Já consagrado no futebol, retornou ao Vitória-BA, que não vencia o estadual há 6 anos. E lá vai Quarentinha ajudar novamente o Vitória-BA a sair da fila e faturar não só o estadual de 1964, mas também o de 1965.

Vitória e Botafogo sabiam bem que ter Quarentinha no elenco era sinônimo de sorte, taças, quebra de jejuns e gols, obviamente.

Quarentinha atuou também pelo futebol colombiano (com relativo destaque) até encerrar a carreira no Clube Náutico Almirante Barroso, de Santa Catarina, em 1968.

Após aposentar as chuteiras, viu o Botafogo terminar os anos de 1960 no topo do futebol mundial, e de certa forma vitorioso nos anos de 1990...

Quarentinha faleceu em 1996 e entrou definitivamente no hall de grandes ídolos da história botafoguense.

Waldir Cardoso Lebrêgo, o ‘Quarentinha’, é mais uma grande estrela nessa constelação chamada Botafogo de Futebol e Regatas.

O melhor sorriso para ele era ver a bola estufando as redes adversárias e ver a torcida botafoguense comemorando... seja uma, duas ou duzentas e noventa e oito vezes pelos estádios mundo afora.

Afinal, Quarentinha é eterno!

(*) Nota do Mundo Botafogo: Em diversos locais da internet Quarentinha é creditado em 313 gols. Porém, tais números foram sendo corrigidos ao longo das pesquisas de Pedro Varanda, historiador do futebol botafoguense, que corrigiu os gols e os jogos de Quarentinha. Na verdade, Quarentinha assinalou 298 gols em 438 jogos pela equipe principal. Ao serviço das equipes de reservas e de aspirantes do Botafogo, Quarentinha assinalou mais 18 gols em 10 jogos, segundo as pesquisas rigorosas de Pedro Varanda. O leitor que escolha, de acordo com o critério que entender melhor, entre 298 gols em 438 jogos na equipe principal ou 316 gols em 448 jogos ao serviço de todas as categorias. Sobre Quarentinha e seus gols ver as rúbricas 'memorial quarentinha' e 'nomes e números - artilharias'.

Imagens: Autores desconhecidos. Fotos publicadas em diversos locais, incluindo o Mundo Botafogo.

Fonte principal: tardesdepacaembu.wordpress.com

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