por DINAFOGO | Coluna “Botafogo
Nisso” | Colaborador do Mundo Botafogo
Bom dia, Blog!
Não sei bem como começar esse texto, pois tudo que pensei
em escrever já foi dito aqui no blog ou externado ao longo das partidas do
Carioca diante das atuações pífias, tanto da base quanto do profissional. No
jogo volta da Recopa Sul-Americana o Botafogo fez mais uma atuação vexatória
(talvez a pior até aqui) diante da sua torcida, a qual, apesar de tudo que vem
acontecendo, compareceu em massa e fez de tudo para empurrar o clube. Porém, em
nenhum momento o time demonstrou corresponder em campo, e saímos
"aliviados" por não termos sofrido uma goleada histórica, a qual o
time argentino buscou insistentemente. A verdade é que o que vimos ontem e no
Carioca é resultado do que foi planejado — não dá para plantarmos limão e
acreditarmos que, com fé e discursos bonitos, vá nascer um pé de acerola.
Enfim, gostaria mais de fazer uma análise em alguns
pontos do que um texto longo. Vamos aos fatos:
1) Planejamento
O Botafogo iniciou 2025 sem treinador, dispensando
diversos jogadores do banco, perdendo jogadores-chave do elenco principal,
sofrendo ameaça de não apresentação dos jogadores por falta de pagamento e com
as falas de John Textor de que as competições que iríamos disputar não seriam
levadas a sério.
Em primeiro lugar, devemos levar em consideração que o
imbróglio em relação ao treinador já havia começado no final do ano passado,
com a indecisão de AJ, logo, o clube estava ciente de que poderia perder o seu
treinador e que seria necessário ir ao mercado. Mas, ao invés de ter um plano
B, fez uma novela com AJ e empurrou até onde foi possível a contratação do novo
treinador, perdendo um tempo precioso de preparação. A questão dos jogadores
também era previsível, pois sabemos que a nossa base é fraca e que os jogadores
do banco de reservas eram, em sua maioria, remanescentes do ano de 2023, que
não vinham apresentando um bom futebol quando substituíam os titulares,
demonstrando uma disparidade clara entre o elenco principal e o banco (talvez o
maior exemplo fosse o zagueiro Lucas Halter), além de alguns serem medalhões e
terem um alto salário.
Assim sendo, era óbvio que o nosso banco era um ponto
fraco do elenco, que muitos não ficariam no clube e que deveríamos ir ao
mercado procurar jogadores minimamente aceitáveis. Contudo, nesse início de
temporada, o Botafogo resolveu confiar na sua base, pois os reforços que
trouxemos, em sua maioria, chegaram com a temporada já em andamento e sem
condições de estreia imediata. Ainda tivemos as perdas no elenco principal de
dois dos principais nomes do ano passado, LH e Almada, que, desde o início do
contrato, estavam comprometidos com o futebol europeu, o que já nos obrigaria a
pensar em soluções na reta final das competições de 2024. Por fim, tivemos as
declarações desdenhosas de Textor sobre as competições que disputaríamos entre
janeiro e fevereiro, ignorando que o Carioca proporciona a vaga para a Copa do
Brasil de 2026, que a Supercopa era contra o nosso maior rival e que, assim
como a Recopa, é um título que não possuímos.
Diante de tudo isso, vimos os resultados em campo: um
time sem comando, desmanchado e sem opções no banco, dependente de uma base
improdutiva, apresentando um futebol vergonhoso no Campeonato Carioca e sem
conseguir sequer ir à Taça Rio. Ademais, o Botafogo levou um baile do Flamengo
e do Racing, sem que em nenhum momento competisse pela taça. Isso foi o
planejamento — ou melhor, a falta dele.
2) Uma questão lógica
O Botafogo não teve um planejamento decente para contratar um substituto para o AJ e acreditou que seria uma boa solução, para o início de temporada, um interino. Mas a escolha foi tão displicente, até mesmo para a classificação para a Taça Rio do Carioquinha, que trouxeram um treineiro do sub-20. Carlos Leiria não serviu para o modesto Resende, quando disputava a série A2 do Carioca, e nunca teve resultados expressivos nas categorias de base, mas, segundo os dirigentes do Glorioso, estaria apto a comandar o campeão da América e do Brasil. Seria o equivalente a dizer que a solução para um aluno que repetiu o ensino fundamental na pior escola do bairro fosse entrar para o ensino médio e cursá-lo na melhor escola daquele mesmo bairro. Muito inteligente, não é?
Os resultados não deixaram dúvidas: tínhamos apenas um fantoche e uma total falta de respeito com a história que o clube construiu no ano passado. Perdemos a Supercopa do Brasil para o rival da Gávea e comprometemos o Carioca, para depois chamarmos Cláudio Caçapa como o apagador de incêndio, baseado numa sequência positiva que o mesmo tivera no ano de 2023, mas ignorando o seu péssimo desempenho no fraquíssimo time da Bélgica, que culminou no seu rebaixamento.
Novamente, uma questão de lógica, porque, apesar de não ser uma ciência exata, os números e resultados do futebol não mentem. A verdade é que Caçapa é um baita treinador se comparado a Leiria, mas, diante de qualquer treinador efetivo e com o mínimo de experiência, não passa de um auxiliar. É bem verdade que ele teve pouco tempo de treinamento, mas, honestamente, não acredito que algo poderia ser diferente, até porque os jogadores ainda seriam os mesmos.
3) A imagem do clube
O Botafogo, por muitas décadas, teve a sua imagem comprometida pelo amadorismo dos seus dirigentes, o que culminou em ser ridicularizado pela torcida dos outros onze clubes grandes do Brasil, a levar goleadas históricas, sofrer rebaixamentos e perder títulos acessíveis.
O que vimos nesse início de 2025 foi a destruição da imagem do elenco vencedor, resiliente e com fome de títulos em 2024, transformando-o em um Botafogo presa fácil daqueles anos sombrios e deixando o torcedor temeroso com o futuro. O Alvinegro não conseguiu se classificar no Carioca e teve que ouvir das arquibancadas piadinhas sobre ser um time de bairro; na Supercopa, teve que aguentar a zoação da torcida do rival; e, na Recopa, ver o seu estádio ser transformado em salão de festas pelos argentinos. Uma vergonha! São manchas que não sairão da história do clube.
Perdemos dois títulos inéditos, o que é muito para um clube que ficou 30 anos sem ganhar títulos e que viu, nesse longo período, a diferença de taças em relação aos rivais se distanciar significativamente. O acionista maioritário da nossa SAF precisa entender que futebol não é apenas lucro, mas também paixão, histórias e rivalidade.
4) John Textor
Precisamos enxergar a figura de John Textor de duas formas: a primeira é termos conhecimento da sua capacidade de gestão, poderio financeiro, a importância da sua liderança nos bastidores, além de sermos gratos por ter nos presenteado com a maior temporada dos nossos 120 anos de história. A segunda é que devemos ter um olhar crítico e enxergarmos o lado centralizador, mimado, espetacularizador, excessivamente autoconfiante do nosso dirigente e, às vezes, desconhecedor da realidade futebolística do Brasil.
Nesse ano de 2025, é com esse lado negativo do nosso dirigente que estamos lidando. No jogo de volta da Recopa, por exemplo, diante da vergonha proporcionada, fez um teatrinho na arquibancada, se mostrando irritado com a obviedade dos fatos em campo, em uma competição que ele mesmo desprezou. Também vimos o seu lado centralizador nas contratações que tivemos até aqui, onde quase todas não têm um desfecho definido sem o seu aval e que, muitas das vezes, ficam emperradas.
5) Lições para aprender com Racing e Flamengo
O Flamengo, assim como qualquer time grande do futebol carioca, não prioriza o Estadual e costuma entrar em campo com garotos ou times mistos. A diferença é que possuem um banco qualificado que resolve quando solicitado e encontram, em uma base sólida e forte, soluções para derrotar times de menor investimento financeiro com relativa facilidade. Posso dizer sem medo de errar que, se o time da Gávea quisesse abrir mão da taça e apenas se classificar para a Taça Rio, não encontraria muita resistência e sofreria bem menos que o Botafogo, porque hoje não temos um banco de reservas e a nossa base segue sendo uma das piores do país. Isso acontece porque um elenco não é feito apenas dos onze que entram em campo, mas sim de um conjunto harmônico. Outra situação que salta aos olhos é que a equipe rubro-negra, mesmo possuindo mais títulos do certame estadual, não abdica de ganhar mais e, mesmo não pegando tão a sério, entra com seriedade e consegue vencer com um relativo desinteresse. O alvinegro ainda não aprendeu que é possível não priorizar e, ainda assim, apresentar um futebol aceitável, que agrade o público, principalmente em jogos longe de casa, onde a torcida local não tem a chance de assistir à sua equipe do coração sempre.
O nosso outro exemplo é o Racing, que, mesmo limitado e não tendo nem a metade do nosso investimento, tampouco sendo uma SAF, conseguiu montar um time competente e com vontade de vencer, fazendo escolhas sensatas e tendo um planejamento em mente. Levaram a sério, desde o início, a Recopa — um título inédito que não possuíam e sonhavam em conquistar —, depois de terem vencido a Sul-Americana, que, em 2023, o Botafogo abriu mão de disputar. O Racing, assim como o Botafogo, vinha de uma seca de títulos; contudo, ambos deram tratamentos diferentes para o momento histórico que findou suas respectivas filas de conquistas.
6) A chegada de Renato Paiva
Finalmente conhecemos o nosso novo treinador, trata-se do português Renato Paiva, que teve um trabalho bem contestado no Bahia, onde teve a sua saída iniciada depois de muita pressão da torcida. Também sofreu uma goleada de 6x0 para o Sport na Copa do Nordeste. Ele estava desempregado desde o final de 2024. Há quem defenda, alegando que o elenco do Bahia era fraco, que os problemas eram com a torcida e não com os jogadores e acionistas do grupo City, além disso, o treinador foi classificado como "nome certo" por John Textor, que disse em entrevista ser um grande fã da base do Benfica, onde o português iniciou a sua trajetória profissional.
O anúncio não agradou uma parte considerável da torcida, que estava esperando por Mancini ou um treinador mais gabaritado. Teremos que esperar agora para vermos os resultados em campo e sabermos se foi uma decisão acertada, pois já tivemos experiências amargas com Bruno Lage e LC antes da arrancada em 2023.
7) O que vem a seguir?
O Botafogo terá agora a sua atenção voltada para a Libertadores, Brasileirão, Super Mundial e Copa do Brasil. Segundo John Textor, as três primeiras são prioritárias e deverão receber um foco maior, logo, presume-se que reforços deverão chegar no meio do ano para dar conta da maratona de jogos e também se espera um desempenho muito acima do que foi apresentado nos meses de janeiro e fevereiro. O alvinegro terá que provar se continuaremos a nos consolidar como potência no cenário nacional ou se faremos um papelão como o Fluminense fez na temporada retrasada, mostrando a total falta de visão e planejamento a médio e longo prazo. Nosso primeiro desafio já será enorme, enfrentando o Palmeiras no Allianz Parque, pelo Brasileirão.
A SAF, sem sombra de dúvidas, salvou o Glorioso das mãos
dos amadores e o ano de 2024 foi mágico, mas não significa que devemos aceitar
tudo passivamente e que o grupo de dirigentes não cometa erros tão amadores
quanto os sócios-dirigentes na época do amadorismo. A temporada de 2025 será um
modelo do que esperarmos daqui para frente da SAF, se a priorização de algumas
competições será de fato um planejamento ou o desleixo de Textor, tentando
fazer malabarismo e administrar vários clubes pelo mundo afora. Independentemente
do que acontecer no futuro, no presente temos um grande e sonoro ponto de
interrogação.
3 comentários:
Excelente análise. Soma! Esclarece. Ratifica.
Esqueci de dizer. Gostei do cão perdidinho. Hilário!
A crônica é realmente excelente - contempla todos os aspectos da derrocada antecipadamente anunciada por Textor. O cão perdidinho é a síntese artística perfeita do produto promovido por Textor.
Abraços Gloriosos.
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