quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Por que eu torço para dois times de futebol?

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por Gustavo do Carmo
[flamenguista alvinegro...]

Hoje é aniversário do meu pai. Por isso, vou homenageá-lo falando de futebol e reprisando uma crônica publicada no Dia dos Pais do ano passado, na qual tentei explicar porque eu torço para dois clubes aqui no Rio de Janeiro: Flamengo e Botafogo.

Sempre fui uma daquelas crianças que "viravam a casaca”. Ainda não entendia de futebol, mas queria torcer de qualquer maneira por um time. Só que, indeciso, mudava de time a cada semana. Já torci até para o Cruzeiro, sem saber que ele era de Belo Horizonte e de outro estado. Minha mãe comprou uma camisa do clube mineiro, daquelas da coleção da Hering. Depois, com um pouco de influência da minha mãe e da televisão, que dava grande destaque a boa fase do Flamengo no início dos anos 80, decidi torcer para o rubro-negro. Mas, logo depois, dizia que torcia para o Vasco, para o Fluminense e, depois de algumas conversas com o meu pai, virava botafoguense doente como ele.

A paixão pelo rubro-negro acabou ficando. Decidi que ia torcer definitivamente para o Flamengo. Para o desgosto do meu pai que, procurando manter o respeito e a sua autoridade na família, além de querer me educar, me proibia de mencionar o nome do meu time. Dizia que era palavrão.

Com o tempo, o meu pai respeitou a minha torcida pelo Flamengo. No estresse do trabalho, nem tinha tempo para falar de futebol. Precisava se preocupar com coisas mais importantes.

Veio a decisão do Campeonato Carioca de 1989. O Botafogo tinha a primeira chance e, talvez a última, de acabar com o jejum de 21 anos sem título. Indiferente ao martírio alvinegro, eu ia torcer para o meu Flamengo. Na época, já gostava de Fórmula 1 e colecionava o álbum de figurinhas. Claro que eu era dependente financeiramente do meu pai e não podia comprar várias de uma vez. Solidário, meu pai se dispôs a ajudar a completar o álbum comprando um grande maço de figurinhas com a condição de... o leitor deve imaginar qual.

Torci como nunca. Para o Botafogo. Fim de jogo e comemorei com Coca-Cola, ao lado do meu pai, o fim do jejum de duas décadas e as novas figurinhas que enriqueceriam o meu álbum. Meu pai cumpriu a promessa. No mês seguinte já torcia de novo para o Flamengo.

Flamenguista, eu só teria direito à camisa do clube pedindo para a minha mãe. Ir ao Maracanã, nem pensar. Eu mesmo tenho medo. Só podia comentar sobre o meu time com uns poucos colegas de escola. Os mais próximos não gostavam de futebol. Dos que gostavam, a maioria era vascaína.

Na família, só tenho três primos flamenguistas. Bem mais velhos do que eu e de pouco contato pessoal. Outros primos eram vascaínos. Já o único primo da minha idade é botafoguense. Assim como o pai, o tio e o primo dele e o pai português de um dos meus dois primos flamenguistas. Eu parecia torcer sozinho.

Aos quase quinze anos, a minha idade já pedia para não ficar mudando de time.

Com tanta influência alvinegra, decidi assumir a minha torcida dupla. A decisão do Campeonato Brasileiro de 1992 foi a final dos meus sonhos. Dois clubes cariocas e pelos quais eu torço. Escolhi o Botafogo para torcer porque ele ainda nunca havia sido campeão brasileiro. O Flamengo conquistara quatro vezes. Acabou vencendo pela quinta vez e fiquei feliz do mesmo jeito.

O sonho do título brasileiro do Botafogo tornou-se realidade três anos depois. A expectativa pelo título coincidiu com outro bom momento alvinegro: a reinauguração e a volta para a antiga sede da Rua General Severiano, que estava abandonada há anos. O clube lançou uma intensa campanha para atrair novos sócios e o meu pai resolveu comprar um título em meu nome. E eu aceitei.

Ele até queria comprar um título do Flamengo (na Gávea), mas eu preferi o Botafogo por achar mais perto e a condução (desde Bonsucesso) mais fácil. No ano seguinte eu estudaria em uma faculdade do bairro e acreditava que freqüentaria mais o clube. Puro engano. A faculdade ficava muito distante. Era possível ir a pé, mas a caminhada era longa. Quando eu ia ao Rio Sul, passava sempre por perto, mas sempre faltava um comprovante de residência, um recibo de pagamento, uma foto ou simplesmente encontrar a secretaria aberta. Nunca fiz a carteira de sócio. Deixei até de pagar. Achei melhor apenas torcer para o Botafogo.

E foi torcendo para ele que fui ao Maracanã apenas duas vezes na minha vida. A primeira foi em um amistoso que terminou empatado contra o Palmeiras e a segunda, a decisão da Taça Guanabara de 1997 contra o Vasco. O Botafogo venceu por 1 a 0 e conquistou, não só o turno disputado no jogo, como também o próprio campeonato estadual.

Quem leu esse trecho da crônica deve ter concluído que eu virei a casaca mais uma vez e me assumi exclusivamente botafoguense. Enganou-se. Também fiquei muito feliz com os estaduais de 1996, 1999, 2000, 2001, 2004, a Copa Mercosul de 1999, a Copa dos Campeões 2001 e a Copa do Brasil de 2006, conquistados pelo Flamengo. O Estadual de 2007 foi mais uma decisão que me deixou feliz com qualquer resultado. E o Flamengo ganhou nos pênaltis, acabando com o sonho do bi do Botafogo.

Às vésperas do dia dos pais do ano passado ganhei uma camisa nova do Botafogo. Branca, oficial da Kappa, com o patrocínio da Liquigás. Era um presente do meu primo flamenguista para o meu pai. Acabei ficando com o uniforme. Somou-se às três camisas (duas oficiais dos anos 90) do Flamengo e uma do Botafogo (comprada na reinauguração de General Severiano, em 1995, por 42 reais) que eu já tinha.

Neste ano a decisão do estadual se repetiu. Desta vez, ganhou um ingrediente a mais: as cobranças de um terceiro primo flamenguista para torcer pelo Flamengo. Mas continuava torcendo para os dois. Dentro de campo, o tempero foi o canto do "chororô" que o Botafogo ganhou na final da Taça Guanabara, quando houve uma briga envolvendo os botafoguenses Jorge Henrique e o goleiro uruguaio Castilho e o rubro-negro Souza. A fama aumentou quando o presidente do alvinegro ameaçou renunciar e quase cumprir a promessa ao tirar licença. Mesmo também sendo botafoguense, eu também achava (e ainda acho) que o Botafogo reclama demais.

A decisão do campeonato não teve chororô. Eu, como "botafoguista" e "flamenguense" torci para qualquer um. Mas fiquei com pena quando o Botafogo perdeu. Ao mesmo tempo, fiquei feliz com o bi do Flamengo que escapara do Botafogo no ano passado.

Satisfação dupla tive quando a mídia começou a tratar o clássico como a maior rivalidade do futebol carioca, superando a rixa entre Flamengo e Vasco.

É mais um motivo para a maioria monoclubista me chamar de louco. Mesmo assim, continuo sem ter vergonha de dizer que torço para dois times de futebol. Quando alguém me pergunta o motivo eu respondo que sou flamenguista para torcer sozinho e botafoguense para torcer com o meu pai.

7 de Junho de 2008

Fonte: http://tudocultural.blogspot.com/2008/06/por-que-eu-toro-para-dois-times-de.html

6 comentários:

Lorismario disse...

Meu caro Gustavo. Com todo o respeito que eu possa ter relativo ao seu conjunto de motivos relatados para dizer que torce para o Flamengo e Botafogo, lhe digo e sem qualquer estereótipo de agressividade verbal de minha parte que você não é botafoguense. A confirmação desta minha afirmativa ocorrerá quando da separação definitiva do seu querido pai. Eu espero siceramente que isto demore muito a ocorrer pois conviver com a ausência eterna de nossos pais é muito difícil.Assim sendo, continue como um fiel amigo do seu pai e um bom torcedor do Flamengo. Forte abraço de quem só é torcedor do Botafogo e compreende aqueles que amam aos pais.Meus pais eram vascainos. Loris.

Iran Schleder disse...

Caraca hein, que sopa de times. O Lorismario aí disse tudo: "você não é botafoguense". Sério, não me leve a mal, mas acho que nem de futebol você gosta. Torcer pra um monte de times não dá né e infelizmente o Botafogo não escolheu você, pois se tivesse escolhido certamente você saberia. Só sabe quem sabe, sabe como? Grande abraço!!!

Ruy Moura disse...

Seja como for, a história é engraçada, não é, Loris?

Abraços Gloriosos!

Ruy Moura disse...

Ele deve ser um torcedor muito bem disposto e muito pacífico. Tem a vantagem de poder sorrir a dobrar e a desvantagem de chorar a dobrar. Quando um ganha e o outro perde, sempre ficará contente. Quando empatarem os dois, não sofrerá muito com os quatro pontos perdidos (rs).

Contente também estou eu porque consegui responder aos comentários, pelo menos hoje...

Abraços Gloriosos!

Lorismario disse...

Rui. Não sei se o relato do Gustavo é engraçado mas que é muito diferente é. Já ví de tudo ou quase tudo na vida, pois isto que lí eu ainda não havia visto nem lido. Certeza, no entanto, eu tenho. Gustavo não é botafoguense. Como disse o nosso amigo Iran Schleder, nem gostar de futebol ele gosta. Mede-se se uma pessoa gosta de algo pelo número de vezes que ele faz a "coisa". A medida pelo número de vezes que se fala da "coisa" é fragil. Falar do Botafogo e ir apenas duas vezes ao Maracanâ é muito pouco. Por isto tenho convicção que nosso amigo Gustavo AMA O PAI mas torce para o Flamengo. Rui você gostou da palavra coisa escrita entre aspas? Deu para entender? Não se esqueça que sou psicólogo. Forte abraço grande Rui e amigos do blog. Loris

Ruy Moura disse...

Rsrsrs... Eu acho que o Gustavo se diverte imenso com a escolha dele e do pai... Eu acho que ele acaba corintiano, gremista ou atleticano... Mas jamais se esquecerá que um dia torceu pelo Glorioso... Porque isso não esquece nunca... rsrsrs...

Abraços Gloriosos!

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