Artigo reproduzido a partir do seguinte endereço: http://extra.globo.com/esporte/botafogo/fernanda-gandula-botafoguense-tem-medo-de-nao-atuar-na-final-do-estadual-4779362.html
“Fernanda, a gandula
botafoguense, tem medo de não atuar na final do Estadual
Ao repor a bola com rapidez e iniciar o
lance do primeiro gol da vitória que deu o título da Taça Rio ao Botafogo, a
gandula Fernanda Maia não imaginava a repercussão que um simples lateral
poderia tomar. Em menos de 24 horas, a jovem viu sua agenda ser tomada por
entrevistas — foram oito só no dia seguinte ao clássico com o Vasco. Uma
realidade que até poderia deslumbrar a jovem, não fosse a preocupação em ser
afastada da decisão do Campeonato Estadual.
— Não dormi a noite toda pensando nisso.
Fico imaginando que a administração do Engenhão pode me enxergar como
oportunista e me vetar do jogo. Eu torço para o Botafogo sim, mas sou
profissional. Todo mundo tem um time — desabafou a jovem, que, desde que
começou a gandular, há três anos, não teve mais tempo para assistir jogos das
arquibancadas: — Ganho R$ 40 por partida, mas faço por amor. Se for afastada
vou ao estádio do mesmo jeito, mas quero muito estar no campo trabalhando.
A agenda cheia não é novidade para
Fernanda, só que normalmente sua rotina é muito trabalho. Em um dia normal, a
professora de Educação Física se desdobra em uma jornada tripla, que inclui
aulas de personal training, a coordenação técnica de um projeto na Prefeitura,
e o emprego em uma academia na Tijuca, bairro onde mora. Compromissos mais do
que suficientes para acabar com qualquer suspeita de ligação ao Botafogo.
— Não tenho contato com ninguém. Só chego
ao Engenhão uma hora antes do jogo, para fazer as unhas. Essa história de que
treino com o time é absurda. Nem tenho tempo para isso.”
[Nota
de Mundo Botafogo: Fernanda Maia tentou por duas vezes o seu tempo de glória
candidatando-se a Musa do Botafogo, e não conseguiu. Então, enveredou por uma
carreira de muito trabalho: professora de educação física, coordenação de um
projeto, emprego numa academia e gandula no Engenhão, mantendo-se deste modo
nos estádios de futebol, que é coisa que ela realmente gosta. Fernanda mostrou
que não ficou à espera de benesses ‘caídas do céu’ e pôs-se a trabalhar. E em
especial no Engenhão – que é o que se pode constatar ao vivo – Fernanda
desempenhou a sua função exatamente de acordo com as instruções: lançar a bola
para a cobrança de lateral tão rapidamente quanto possível. E que tem feito
Fernanda, então? Colocou uma bola debaixo do braço e assim que a do jogo sai
ela lança a bola de reserva. Faz isso em todos os jogos e com todos os clubes.
Na final da Taça Rio fez o mesmo, e com tanta naturalidade que assim que lançou
a bola para Maicosuel virou costas ao lance e foi buscar a bola que saíra, não
esperando o desenrolar da jogada e provando que só fizera o que
profissionalmente devia fazer. O gol de Loco Abreu abriu a Fernanda Maia o seu
instante de glória; não apenas por sorte, mas porque a competência dela
permitiu criar esse momento de sorte. Se alguém punir esta garota por ter sido
escrupulosa e competente, estarão punindo todas as pessoas que são éticas,
empenhadas, capazes, honestas e produtoras de um mundo baseado no trabalho, e
estarão ilibando todas as pessoas inéticas, preguiçosas, incapazes,
incompetentes, desonestas e que nada produzem – e igualando-se a elas num puro
ato de lesa-majestade. Por isso, a bem da ‘Ordem e Progresso’, Fernanda Maia
tem que ser gandula da final do campeonato carioca.]
6 comentários:
Belo texto, Rui!
Eu acho que se ela for inteligente - e parece ser - deixará de ser gandula muito brevemente e enveredará por outras atividades. Mas enquanto não for merece todo o nosso apoio.
Abraços Gloriosos!
RUI,
a bola foi isolada com a clara intenção de fazer que a cobrança fosse demorada, para que a defesa vascaína tivesse tempo de se reagrupar.
ó lateral é tambem uma infração que não tira pontos da carteira, mas nos casos de intecional beneficiamento, gera como efeito o beneficiamento do infrator, que alem de antijogo é tambem anti-ético.
a sua descrição é perfeita, pois no segundo tempo, a outra gandula remeteu uma bola para o juninho bater o lateral, com a outra bola que estava em jogo, já fora de campo, mas no altõ.
é um caso similar a cobrança rápida de falta, que os argentinos e europeus sempre fazem e que os nossos jogadores papam mosca.
as gandulas do engenhão são eficientes e todas ficam com a bola reserva debaixo do braço, a entregam imediatamente, independente do clube e partem em direção a que saiu.
abraços,
LSCUNHA
É exatamente isso, Luiz. Na Europa a reposição de bola é imediata. Não sabia que na Argentina também.
A reposição imediata da bola minimiza os eventuais prejuízos que a bola chutada fora terá para a equipa que cobra a lateral. No futebol tudo devia ser muito mais rápido do que é. O espetáculo ganhava com isso.
Abraços Gloriosos!
Rui,
Espero que algum conhecido da Fernanda leia o teu texto e passe para ela, pois precisará de defesa!
Infelizmente no Brasil o que mais vemos são justamente o que você bem descreveu:
"estarão ilibando todas as pessoas inéticas, preguiçosas, incapazes, incompetentes, desonestas e que nada produzem – e igualando-se a elas num puro ato de lesa-majestade".
Abs e Sds, Botafoguenses!!!
Algum dia a decência tem que ocorrer. Não podemos baixar os braços e deixar que façam impunemente o que querem fazer os 'senhores' do futebol.
Abraços Gloriosos!
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