domingo, 22 de dezembro de 2019

Clube-empresa: será que agora vai?


JORGE AVANCINI
Especialista em Marketing Esportivo e Diretor da Jorge Avancini Marketing & Serviços
31.07.2019

Em artigo publicado neste MKT Esportivo em maio passado, falei sobre uma nova onda de investimentos privados nos combalidos e endividados clubes brasileiros de futebol.

Não estava nos meus planos voltar ao tema tão cedo. Contudo, não pude evitar fazê-lo após a enxurrada de notícias – com grandes doses de altas expectativas – dos últimos dias, sobre o possível futuro do Botafogo de Futebol e Regatas nas mãos de um grupo de investidores liderados pelos irmãos Moreira Salles, membros de uma das mais ricas e tradicionais famílias do Brasil.

Segundo noticiou este próprio MKT Esportivo, uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) pode nascer em breve pelos lados de General Severiano. E será dela a gestão do futebol do tradicional Alvinegro carioca.

A se concretizar conforme especula a imprensa, o negócio representa investimentos de R$ 300 milhões clube da Estrela Solitária, para saneamento de dívidas de curto e médio prazo e montagem de elenco competitivo – para a realidade do mercado brasileiro, registre-se. O objetivo é tirar o Botafogo da UTI, restabelecer sua saúde financeira e recolocá-lo no caminho das grandes conquistas.

Pessoalmente, sempre defendi a ideia de clube-empresa. Mas não aquela fake, que pipocou no País nos anos 90 e que só causou transtorno e frustração para agremiações e torcedores. Refiro-me a um modelo de gestão profissional que engaje investidores sem desrespeitar a história, as raízes e o DNA dos clubes.

É justamente neste ponto que, para mim, reside o grande diferencial do projeto botafoguense em relação às demais experiências já tentadas no Brasil: à frente da empreitada estão torcedores verdadeiramente apaixonados pelo clube. Isso sem falar, claro, na evidente (e geracional) habilidade que possuem enquanto homens de negócio – e de sucesso e credibilidade – no voraz e complexo mercado financeiro.

E antes que algum(a) leitor(a) entenda, equivocadamente, que louvo o messianismo, explico: não, não acho que torcedores ricos e ilustres tenham obrigação de salvar seus clubes do coração. O que chamo de “grande diferencial” é a ligação afetiva que essas figuras têm com a nova empresa que se propõem a gerir.
O futebol, pela perspectiva de negócio, é diferente de qualquer outra corporação: ele envolve paixão – e uma paixão compartilhada, muitas vezes, com milhões de outras pessoas.

Impera nesse negócio um sentimento de posse, de propriedade. Todo(a) torcedor(a) se sente, em alguma medida, responsável por sua agremiação. Ainda que não integre o quadro social, vá a jogos ou mesmo ostente uma camisa oficial, um vínculo visceral – e eterno – une clube e aficionado(a). É disso que falo.

Entendo que a gestão profissional de um clube de futebol também pede paixão – e isso não necessariamente é um pré-requisito para gestores que atuem em outros segmentos.

O desafio, penso, é a justa medida entre razão e emoção – quase um dilema shakespeariano.

A preponderar a razão, a administração tende a se distanciar daquele que é o principal ativo de um clube: sua torcida. E aí está um erro crasso de quem precisa ter nesta uma base permanentemente motivada e consistente de consumo.

Por outro lado, caso a voz mais alta dos bastidores seja a da emoção, o fundo do poço pode ser o destino de qualquer bem-intencionado projeto profissional já desenhado para um clube de futebol brasileiro.

Impossível prever o que pode ser do Botafogo nas próximas duas ou três décadas se este negócio realmente sair do papel. Mas acredito, e muito, que unir capacidade comprovada de gestão a amor incondicional e insubstituível é a receita para o surgimento de uma nova e promissora realidade no futebol brasileiro. Não a única, claro. Mas a mais tropical e plausível dentre as possíveis.

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