JORGE AVANCINI
Especialista em Marketing Esportivo e Diretor da Jorge Avancini Marketing
& Serviços
31.07.2019
Em
artigo publicado neste MKT Esportivo em maio passado, falei
sobre uma nova onda de investimentos privados nos combalidos e endividados
clubes brasileiros de futebol.
Não
estava nos meus planos voltar ao tema tão cedo. Contudo, não pude evitar
fazê-lo após a enxurrada de notícias – com grandes doses de altas expectativas
– dos últimos dias, sobre o possível futuro do Botafogo de Futebol e Regatas
nas mãos de um grupo de investidores liderados pelos irmãos Moreira Salles,
membros de uma das mais ricas e tradicionais famílias do Brasil.
Segundo
noticiou este próprio MKT Esportivo,
uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) pode nascer em breve pelos lados de
General Severiano. E será dela a gestão do futebol do tradicional Alvinegro carioca.
A
se concretizar conforme especula a imprensa, o negócio representa investimentos
de R$ 300 milhões clube da Estrela Solitária, para saneamento de dívidas de
curto e médio prazo e montagem de elenco competitivo – para a realidade do
mercado brasileiro, registre-se. O objetivo é tirar o Botafogo da UTI,
restabelecer sua saúde financeira e recolocá-lo no caminho das grandes
conquistas.
Pessoalmente,
sempre defendi a ideia de clube-empresa. Mas não aquela fake, que pipocou no País nos anos 90
e que só causou transtorno e frustração para agremiações e torcedores.
Refiro-me a um modelo de gestão profissional que engaje investidores sem
desrespeitar a história, as raízes e o DNA dos clubes.
É
justamente neste ponto que, para mim, reside o grande diferencial do projeto
botafoguense em relação às demais experiências já tentadas no Brasil: à frente
da empreitada estão torcedores verdadeiramente apaixonados pelo clube. Isso sem
falar, claro, na evidente (e geracional) habilidade que possuem enquanto homens
de negócio – e de sucesso e credibilidade – no voraz e complexo mercado
financeiro.
E
antes que algum(a) leitor(a) entenda, equivocadamente, que louvo o messianismo,
explico: não, não acho que torcedores ricos e ilustres tenham obrigação de
salvar seus clubes do coração. O que chamo de “grande diferencial” é a ligação
afetiva que essas figuras têm com a nova empresa que se propõem a gerir.
O
futebol, pela perspectiva de negócio, é diferente de qualquer outra corporação:
ele envolve paixão – e uma paixão compartilhada, muitas vezes, com milhões de
outras pessoas.
Impera
nesse negócio um sentimento de posse, de propriedade. Todo(a) torcedor(a) se
sente, em alguma medida, responsável por sua agremiação. Ainda que não integre
o quadro social, vá a jogos ou mesmo ostente uma camisa oficial, um vínculo
visceral – e eterno – une clube e aficionado(a). É disso que falo.
Entendo
que a gestão profissional de um clube de futebol também pede paixão – e isso
não necessariamente é um pré-requisito para gestores que atuem em outros
segmentos.
O
desafio, penso, é a justa medida entre razão e emoção – quase um dilema
shakespeariano.
A
preponderar a razão, a administração tende a se distanciar daquele que é o
principal ativo de um clube: sua torcida. E aí está um erro crasso de quem
precisa ter nesta uma base permanentemente motivada e consistente de consumo.
Por
outro lado, caso a voz mais alta dos bastidores seja a da emoção, o fundo do
poço pode ser o destino de qualquer bem-intencionado projeto profissional já
desenhado para um clube de futebol brasileiro.
Impossível
prever o que pode ser do Botafogo nas próximas duas ou três décadas se este
negócio realmente sair do papel. Mas acredito, e muito, que unir capacidade
comprovada de gestão a amor incondicional e insubstituível é a receita para o
surgimento de uma nova e promissora realidade no futebol brasileiro. Não a
única, claro. Mas a mais tropical e plausível dentre as possíveis.
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