FESTA DE EXALTADO SENTIMENTO CÍVICO
AS SOLENIDADES DE
ONTEM NO C. R. BOTAFOGO
Bilac, o poeta que uniu indissoluvelmente os civis e as
classes armadas do Brasil, com a pregação do sorteio militar – As orações
vibrantes do Sr. Luiz Aranha e do poeta Augusto Frederico Schmidt – O
importante discurso do general Eurico Gaspar Dutra, ministro da Guerra
A festa que o Club
de Regatas Botafogo, o mais antigo club esportivo do país, realizou ontem,
marcou um acontecimento cívico de repercussão nacional. Escolhendo o insigne
poeta Olavo Bilac para patrono dos festejos do seu aniversário, o grêmio da
“estrela solitária” transformou uma comemoração íntima e que parecia interessar
apenas ao nosso mundo esportivo, em reunião de exaltada vibração patriótica.
E que batizando um
barco que recebeu o nome de “Via Láctea” e inaugurando o retrato do poeta que
fez no Brasil a campanha do sorteio militar em memoráveis orações que ligaram
indissoluvelmente os civis e militares da época e das gerações presentes, o
Club de Regatas Botafogo levou à sua sede os ministros Eurico Gaspar Dutra,
titular da pasta da Guerra, o ministro Oswaldo Aranha, titular da pasta das
Relações Exteriores, o prefeito Henrique Dodsworth, altas autoridades civis e
militares, dirigentes do sport e numerosos representantes dos Tiros de Guerra
desta capital.
A solenidade teve
início com a entrega da bandeira Nacional à Escola de Instrução Militar 411 do
club, que foi feita ao mesmo tempo que os jovens soldados cantavam o hino do
nosso pavilhão. Em seguida, o Sr. Luiz Aranha, membro do Conselho Nacional de
Desportos e presidente da C. B. D., dirigindo-se aos dois ministros presentes e
ao prefeito, pronunciou importante discurso. A Sra. Augusto Frederico Schmidt [Nota: trata-se de Ieda Schmidt, esposa
de Augusto Frederico Schmidt, presidente do Club de Regatas Botafogo], entre palmas,
logo depois batisava o “out-rigger” a 4 remos, que recebeu o nome de “Via
Lactea” [Nota:
trata-se do título de uma das mais belas poesias de Olavo Bilac].
Inaugurado o retrato de Bilac pelo ministro Dutra
Não foi menos
brilhante a outra parte do programa da grande festa promovida pelo C. R.
Botafogo. No salão de honra, presentes todas as autoridades e numerosíssima
assistência, bem como os soldados dos tiros de guerra, o ministro Eurico Gaspar
Dutra descerrou o retrato de Olavo Bilac, sob aplausos.
Três orações de exaltado sentimento nacional
O salão do C. R.
Botafogo transformou-se então num ambiente de profundo sentimento cívico. O
discurso do Sr. Luiz Aranha, belíssimo, e que definia o verdadeiro sentido do
sport como escola de educação física e de brasilidade, completou-se com o do
poeta Augusto Frederico Schmidt, presidente do club, e, finalmente, com a
importante oração do ministro Eurico Gaspar Dutra. A reunião tomou então, com
esses discursos, feição cívica. Inaugurado o retrato de Bilac, o presidente do
grêmio local, referiu-se à união dos civis e dos militares do Brasil, que
confiava no seu exército. A análise do orador sobre a situação internacional e
brasileira, a influência e Bilac e o papel dos brasileiros que formam o
Exército, constituiu notável e oportuna pregação.
Falou então,
encerrando a solenidade, o ministro da Guerra. Delirantemente aplaudido, logo
que iniciou o seu discurso, o general Eurico Gaspar Dutra teve ocasião de fazer
mais algumas afirmações de grande solenidade e firmeza, apontando a decidida
orientação das nossas classes armadas, que mais do que nunca, disse: estão
vigilantes e dispostas a confirmar a união nacional.
Notas: [1] O evento comemorava os 48
anos de existência do CR Botafogo (01.07.1894), tendo-se realizado na manhã de
3 de julho de 1942, sábado, no salão nobre do Pavilhão Mourisco. [2] A
exaltação nacional deve ser interpretada à luz dos acontecimentos da II Grande
Guerra: em fevereiro de 1942 os submarinos alemães e italiano iniciaram o
torpedeamento das embarcações brasileiras no oceano Atlântico em represália ao
Brasil ter aderido à ‘Carta do Atlântico’; após meses de torpedeamento, o povo
invadiu as ruas e o Governo Brasileiro declarou guerra à Alemanha nazista e à
Itália fascista, em agosto de 1942, embora se tenha remetido a um modesto papel
em virtude da sua política internacional isolacionista e da inexistência de uma
infraestrutura industrial-médico-educacional que pudesse sustentar material e
humanamente um esforço de guerra num conflito tão exigente de natureza
mundial.]
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