quinta-feira, 2 de julho de 2020

Botafogo 0x0 Portuguesa

por RUY MOURA
Editor do Mundo Botafogo

Três bolas nas traves no 1º tempo poderiam ter decidido o jogo se a sorte tivesse ajudado. Mas… parece que o Botafogo esgotou a inspiração e os gols contra a Cabofriense e secou durante o jogo, atuando com sonolência, tanta sonolência que eu próprio adormeci…

Digamos que esta atuação foi tão ‘normal’ quanto muitas das anteriores comandadas por diferentes técnicos, o que se me afigura, mais uma vez, que os técnicos brasileiros estão desinspirados e gastos. Em vez de uma estratégia ambiciosa e bem montada de ataque, optou-se mais pelo seguro, já que um empate deveria ser mais do que suficiente para a classificação, supondo-se que o Boavista seria derrotado no estádio ao lado do hospital de campanha da pandemia.

O Botafogo esteve ‘preso’ o tempo todo e praticamente só o goleiro e a defesa saíram razoavelmente incólumes da partida. O meio campo não funcionou: Honda retraído, Bruno Nazário desinspirado, Luiz Fernando menos mau; o ataque ressentiu-se da falta de criação, Luís Henrique ficou ‘preso’ na marcação, não teve apoio do lateral também muito ‘preso’, e sendo um criativo deveria ter autorização para percorrer zonas mais amplas, e Pedro Raul, sendo um 9, depende da criação e também da sorte que manifestamente não teve.

Sem laterais verdadeiramente ofensivos nem meio campo criativo, o ataque claudicou e as investidas fulgurantes de Luís Henrique ficaram para outra ocasião, assim como a criação de melhores oportunidades para Pedro Raul.

A Portuguesa estava numa posição bem diferente da Cabofriense na tabela classificativa e apresentou-se fisicamente melhor preparada do que a equipe do Botafogo. Poderia ter valido substituições capazes de mudar o perfil do jogo, mas…

Mas… Paulo Autuori desiludiu. Quando foi contratado considerei um erro: deveria ter sido contratado para o cargo de dirigente e não de treinador, e ainda hoje penso que pode dar um bom dirigente no Clube devido ao seu impoluto perfil pessoal, mas não um treinador atualizado, criativo, ambicioso. Não se viu nenhuma ousadia, nenhuma ambição, nenhuma intervenção realmente relevante do treinador.

A sua conversa pós-jogo evidencia o mesmo tipo de argumentos dos seus antecessores: ficou “satisfeito” e viu “coisas interessantes com estruturas diferentes” que permitirão “variações táticas”.

Por mim fiquei muito insatisfeito, não vi nem coisas interessantes nem estruturas diferentes capazes de promover variações táticas. O que vejo é a necessidade absoluta de se criar um modelo de jogo e aprofundá-lo para mecanização da equipe – assegurando um ano certamente sem conquistas, mas também sem sobressaltos a caminho de um 2021 mais consistente e à ‘Botafogo Glorioso’.

Talvez a concretização da Botafogo S.A. permita, finalmente, não apenas melhores jogadores, mas também um treinador moderno, de preferência sul-americano, que evidencie potencial, ousadia, garra e ambição.

FICHA TÉCNICA
Botafogo 0x0 Portuguesa
» Gols: -
» Competição: Campeonato Carioca
» Data: 01.07.2020
» Local: Estádio Luso-Brasileiro, no Rio de Janeiro (RJ)
» Público e Renda: portões fechados
» Árbitro: Rafael Martins de Sá (RJ); Assistentes: Silbert Faria Sisquim (RJ) e Thiago Rosa de Oliveira Esposito (RJ)
» Disciplina: cartão amarelo – Fernando, Bruno Nazário, Marcelo Benevenuto, Keisuke Honda e Guilherme Santos (Botafogo); Marcão, Dilsinho e Mauro Gabriel (Portuguesa) 
» Botafogo: Diego Cavalieri; Fernando (Barrandeguy), Marcelo Benevenuto, Kanu, Guilherme Santos; Caio Alexandre, Keisuke Honda (Alex Santana); Luiz Fernando (Ênio), Bruno Nazário (Gabriel Cortez), Luís Henrique; Pedro Raul. Técnico: Paulo Autuori.
» Portuguesa: Milton Raphael; Luís Gustavo, Dilsinho, Marcão, Mauro Gabriel; Diego Guerra, Henrique (Matheusinho), Romarinho (Pimenta); André Silva (Maicon Adriano, Chay. Técnico: Rogério Corrêa.

2 comentários:

Sergio disse...

Ruy, perfeita análise. Eu tenho a impressão que o Paulo Autuori é uma espécie de mandato tampão: quando sair a SA ele será diretor técnico e um novo técnico será contratado. Não vi o jogo contra a Cabofriense, mas pelo que entendi, o time estava mais solto quando dirigido pelo auxiliar.
Realmente eu acho que o PA está desatualizado e seus últimos trabalhos não foram bons. O time ontem estava engessado, sem movimentação não há como dar opções ofensivas e, defensivamente o time carece de um volante que saiba marcar e jogar. Sobre os laterias, o Botafogo não tem um que preste e no futebol atual os laterais são fundamentais. Em suma, um time engessado, até perece um time de botão: cada jogador fica fixo numa posição, para agravar é um time lento sem criatividade, sem jogadas trabalhadas e variações táticas. Ou o clube contrata dois laterais decentes, um volante de razoável prá bom (muito embora o razoável no futebol atual é mais próximo do cabeça de bagre) e faz um banco que possa modificar o padrão de jogo durante uma partida, ou vamos sofrer mais um ano. Me arrependi de ter visto a horrorosa pelada ontem. Abs e SB!

Ruy Moura disse...

"Engessado" +e o termo exato, Sergio!

Tenho quase a certeza que a 'fixação' dos jogadores foi ordens do treinador, e eles obedeceram. Como se a ideia fosse apenas não sofrer gols e passar assim à semifinal. Frustrante!

Abraços Gloriosos.

John Textor, a figura-chave: variações em análise

Crédito: Jorge Rodrigues. [Nota preliminar: o Mundo Botafogo publica hoje a reflexão prometida aos leitores após a participação do nosso Clu...