por FERNANDO VANNIER BORGES
Centro de Pesquisa e Estudos
Sociais da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Portugal
A produção de informação dentro
dos clubes de futebol
Para o
presente trabalho, vamos analisar a produção de conteúdos em três media de clube: a Benfica TV, a Botafogo
TV e a PSG TV. O Benfica usa um modelo de canal de TV paga, o Botafogo chama de
TV as suas plataformas oficiais, divulgada através da sua página e das redes
sociais, enquanto o PSG adota um modelo WebTV freemium, onde parte do conteúdo
é paga, e outra parte gratuita. Embora diferentes, é possível pensar numa
definição de que englobe os media de
clube na sua generalidade: são plataformas de comunicação geridas pelos clubes
de futebol. Podem funcionar em diferentes suportes, mas como o seu principal
elemento de criação de valor é o jogo, a imagem é fator fundamental, de modo
que a televisão ou plataformas multimédia são os principais veículos usados.
Assim, os
clubes passaram a ter os seus próprios núcleos de produção de conteúdos e
profissionais com formação e experiência em jornalismo desportivo passaram a
ser contratados para formar as redações. Esse deslocamento no ambiente de
trabalho permite pensar sobre a forma de produção da informação, refletindo
sobre a própria prática jornalística.
O nosso
trabalho vai usar como base o material empírico coletado através de
entrevistas-etnográficas (Beaud & Weber, 2010) com profissionais que
trabalham nos media de clube. Foram
ao todo 17 entrevistas no total, sendo 8 no Benfica, num universo de 18
pessoas, 5 no Botafogo, num universo de 6 profissionais, e 4 no PSG, num
universo de 8 empregados. As entrevistas foram realizadas nos locais de
trabalho dos entrevistados e duraram, em média, cerca de 30 minutos, entre
dezembro de 2013 e julho de 2014. Nas redações dos clubes havia a possibilidade
de interrupção da entrevista por motivos profissionais, contudo além dos dados
coletados durante a entrevista, isso permitiu complementar a investigação com a
observação dos espaços, da dinâmica organizacional e das formas de
relacionamento.
Cada um dos
clubes estudados apresentava características únicas que motivaram a sua
escolha. No início do processo de investigação, o Benfica era o único clube em
Portugal com um canal de TV próprio, sendo que já se falava na possibilidade do
clube transmitir os seus próprios jogos, o que acabou por acontecer. No Brasil,
os clubes de primeira divisão encontravam-se no mesmo patamar e com contratos
amarrados às operadoras de TV locais, de modo que o diferencial apresentado
pelo Botafogo era a sua criatividade e reconhecimento externo do trabalho
feito. Diferentemente de outros clubes franceses, tal como o Marseille e o
Lyon, que optaram por um modelo de canal pago, o PSG colocou em prática um
modelo de WebTV, oferecendo assim um contraponto tecnológico e comercial na
exploração do seu canal.
A abordagem
etnográfica permite uma maior profundidade no entendimento da prática
jornalística no seio dos clubes de futebol. Dessa forma, é possível analisar as
motivações dos clubes em produzir conteúdos e de que maneira a produção
mediática passa a fazer parte da sua organização. Entre as forças da
etnografia, destacadas por Cottle (2007), consideramos que algumas são
particularmente relevantes no presente trabalho: a observação participante
torna visível o mundo invisível do trabalho jornalístico; mostra como a
produção cultural é mais complexa do que normalmente imaginado; oferece
evidência empírica de que os media
não são isolados do resto da sociedade, uma vez que a produção cultural
responde a dinâmicas mais amplas.
Durante as
entrevistas surgiram algumas questões que valem a pena serem debatidas.
Primeiramente, a natureza comparativa da pesquisa, junto com o fato de ser
estrangeiro em dois dos três países contribuiu para que os entrevistados
assumissem uma postura mais pedagógica, descritiva e reflexiva sobre as suas
práticas profissionais. Em segundo, sendo o francês e o português – com a
variante de Portugal e do Brasil – as línguas dos entrevistados, houve uma dificuldade
na hora de harmonizar as transcrições, de modo que o discurso indireto foi
usado em complemento ao discurso direto dos entrevistados.
BORGES, F.
V. (2019). Os clubes de futebol e novas formas de produzir a informação
desportiva. In Media, comunicação e
desporto. Mediapolis – Revista
de Comunicação, Jornalismo e Espaço Público, nº 8, p. 122-124. https://doi.org/10.14195/2183-6019_8_8
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