domingo, 16 de agosto de 2020

Os clubes de futebol e novas formas de produzir a informação desportiva – estudo de casos Benfica, Botafogo e PSG (III)

por FERNANDO VANNIER BORGES
Centro de Pesquisa e Estudos Sociais da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Portugal

A produção de informação dentro dos clubes de futebol

Para o presente trabalho, vamos analisar a produção de conteúdos em três media de clube: a Benfica TV, a Botafogo TV e a PSG TV. O Benfica usa um modelo de canal de TV paga, o Botafogo chama de TV as suas plataformas oficiais, divulgada através da sua página e das redes sociais, enquanto o PSG adota um modelo WebTV freemium, onde parte do conteúdo é paga, e outra parte gratuita. Embora diferentes, é possível pensar numa definição de que englobe os media de clube na sua generalidade: são plataformas de comunicação geridas pelos clubes de futebol. Podem funcionar em diferentes suportes, mas como o seu principal elemento de criação de valor é o jogo, a imagem é fator fundamental, de modo que a televisão ou plataformas multimédia são os principais veículos usados.

Assim, os clubes passaram a ter os seus próprios núcleos de produção de conteúdos e profissionais com formação e experiência em jornalismo desportivo passaram a ser contratados para formar as redações. Esse deslocamento no ambiente de trabalho permite pensar sobre a forma de produção da informação, refletindo sobre a própria prática jornalística.

O nosso trabalho vai usar como base o material empírico coletado através de entrevistas-etnográficas (Beaud & Weber, 2010) com profissionais que trabalham nos media de clube. Foram ao todo 17 entrevistas no total, sendo 8 no Benfica, num universo de 18 pessoas, 5 no Botafogo, num universo de 6 profissionais, e 4 no PSG, num universo de 8 empregados. As entrevistas foram realizadas nos locais de trabalho dos entrevistados e duraram, em média, cerca de 30 minutos, entre dezembro de 2013 e julho de 2014. Nas redações dos clubes havia a possibilidade de interrupção da entrevista por motivos profissionais, contudo além dos dados coletados durante a entrevista, isso permitiu complementar a investigação com a observação dos espaços, da dinâmica organizacional e das formas de relacionamento.

Cada um dos clubes estudados apresentava características únicas que motivaram a sua escolha. No início do processo de investigação, o Benfica era o único clube em Portugal com um canal de TV próprio, sendo que já se falava na possibilidade do clube transmitir os seus próprios jogos, o que acabou por acontecer. No Brasil, os clubes de primeira divisão encontravam-se no mesmo patamar e com contratos amarrados às operadoras de TV locais, de modo que o diferencial apresentado pelo Botafogo era a sua criatividade e reconhecimento externo do trabalho feito. Diferentemente de outros clubes franceses, tal como o Marseille e o Lyon, que optaram por um modelo de canal pago, o PSG colocou em prática um modelo de WebTV, oferecendo assim um contraponto tecnológico e comercial na exploração do seu canal.

A abordagem etnográfica permite uma maior profundidade no entendimento da prática jornalística no seio dos clubes de futebol. Dessa forma, é possível analisar as motivações dos clubes em produzir conteúdos e de que maneira a produção mediática passa a fazer parte da sua organização. Entre as forças da etnografia, destacadas por Cottle (2007), consideramos que algumas são particularmente relevantes no presente trabalho: a observação participante torna visível o mundo invisível do trabalho jornalístico; mostra como a produção cultural é mais complexa do que normalmente imaginado; oferece evidência empírica de que os media não são isolados do resto da sociedade, uma vez que a produção cultural responde a dinâmicas mais amplas.

Durante as entrevistas surgiram algumas questões que valem a pena serem debatidas. Primeiramente, a natureza comparativa da pesquisa, junto com o fato de ser estrangeiro em dois dos três países contribuiu para que os entrevistados assumissem uma postura mais pedagógica, descritiva e reflexiva sobre as suas práticas profissionais. Em segundo, sendo o francês e o português – com a variante de Portugal e do Brasil – as línguas dos entrevistados, houve uma dificuldade na hora de harmonizar as transcrições, de modo que o discurso indireto foi usado em complemento ao discurso direto dos entrevistados.

BORGES, F. V. (2019). Os clubes de futebol e novas formas de produzir a informação desportiva. In Media, comunicação e desporto. Mediapolis – Revista de Comunicação, Jornalismo e Espaço Público, nº 8, p. 122-124. https://doi.org/10.14195/2183-6019_8_8

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