«Matéria cada vez
mais relevante no futebol e na sociedade, a saúde mental se tornou mais uma
muleta para justificar resultados, quase sempre só o que importa. Fala-se de
confiança como se fosse um item aleatório, fruto do acaso. […]
Quem ganha está mentalmente
forte; o perdedor, evidentemente, anda fragilizado. O Botafogo, então, saiu do
calvário ao olimpo mental em um ano. O anormal poder de concentração e
resiliência de um time diante da ingrata missão de disputar uma final
continental inteira com um jogador a menos e, ainda assim, sagrar-se campeão
sem deixar qualquer dúvida acerca de sua superioridade, só pode estar sustentado
em bases extremamente sólidas.
Ao optar por não fazer
substituições e manter seu quarteto mais ofensivo depois da expulsão de
Gregore, Artur Jorge propôs um acordo aos atletas. Deixou claro que apostava na
capacidade técnica de cada um para superar tal adversidade, mas pedia em troca
doses extras de dedicação, sacrifício e senso coletivo. A impressão é de que o
time demorou alguns minutos para aceitar e entender a proposta. E, a partir
desse momento, como num simbólico aperto de mão entre todos, arrefeceu a
sensação de que o gol do Atlético seria questão de tempo.
Ao contrário, quanto mais o
relógio se adiantava, mais clara era a impressão de que Gabriel Milito, se
pudesse, chamaria Gregore de volta à final para sua equipe não precisar mais
enfrentar o compacto e solidário 6-3-0 botafoguense, com Marlon Freitas e Luiz
Henrique recuados à primeira linha de marcação, e o trio Almada, Savarino e
Igor Jesus protegendo o meio-campo. […]
É perfeitamente possível dizer
que o Botafogo se defendeu com mais jogadores e ofereceu menos espaços com 10
do que se estivesse completo. O roteiro do título foi totalmente diferente do
que a equipe havia se preparado para escrever. E a pergunta é sempre a mesma:
como o Botafogo conseguiu?
Acreditando que poderia conseguir.
Isso é construção. É o resultado, sobretudo, de bons treinamentos, de uma
temporada que, sessão após sessão, incutiu na mente e no corpo de cada atleta a
convicção de que o que se praticava ali poderia levar a equipe ao sucesso. Do
fato de nem as grandes vitórias nem as poucas derrotas terem causado alterações
drásticas no rumo traçado. […]
O destemor do Botafogo no mais
glorioso de seus dias não é um acaso. Talvez, enganados estejamos nós, ao dizer
que a equipe teve um homem a menos durante a maior parte da decisão. O Botafogo
estava jogando essa partida há muito tempo.»
4 comentários:
“Meu Botafogo não é lugar de covardes!”.
Um dia Helênico para o Glorioso! A sua história é destemor puro.
Bem lembrado, Dinali! O Heleno merecia ter visto tão grandiosa alegria.
Abraços LIBERTADORES!
O Heleno deveria ter visto essa conquista, mas sobretudo merecia ter ganho um título com o Botafogo. Posso estar errado, mas não conheço no Brasil nenhum clube tão corajoso como o Botafogo, consegui resistir a tudo e a todos. Abs e SB!
Não há nenhum clube brasileiro tão corajoso, ousado e criativo como o Botafogo! mesmo que tenha que ir contra os valores 'instalados'.
O Clube de Regatas Botafogo foi criado na luta contra as apostas no remo; os rapazes que fundaram o Botafogo Football Club abandonaram a federação em 1911 por solidariedade ao companheiro Abelardo, mesmo em prejuízo próprio; Althemar Castilho enfrentou a Ditadura em 1968 condenando a invasão da PM em General Severiano para prender estudantes, mesmo em prejuízo próprio. E por aí vai, porque tais histórias são muitas, eticamente valiosas e configuram o perfil do Botafogo e da maioria dos Botafoguenses.
ABRAÇOS GLORIOSOS.
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