Nota preliminar: Emmanuel
Sodré Viveiros de Castro (n. 13 de janeiro de 1920 e f. 7 de dezembro de 2005),
carinhosamente tratado por ‘Maninho’, foi advogado, campeão de futebol e presidente
do Botafogo de Futebol e Regatas nos anos de 1983 e 1984. Homem de boa vontade
assumiu o risco de presidir ao Clube quando a nau estava corroída por muitos
rombos no casco. Maninho esforçou-se muito para levar a nau a bom porto, mas
acabou por não conseguir, tantos eram os obstáculos. Antes disso esboçara a sua
candidatura ao Clube em 1981, e o texto que se apresenta responde à indagação do
repórter botafoguense sobre “o que motivou, da sua parte, a aceitação da sua
candidatura à presidência do Botafogo?”
Gentileza de ANGELO
SERAPHINI, ex-dirigente do Glorioso.
«Emmanuel
Sodré Viveiros de Castro assim respondeu à pergunta desta Revista:
– “Olha, gente, muita coisa. Em primeiro lugar, acho que foi um problema de genética. O meu avô materno, Senador Lauro Sodré, foi feito sócio honorário do Botafogo porque muito ajudou o nosso Clube na posse e utilização do campo original, no Largo dos Leões. Depois ajudou, decisivamente, a obtenção do terreno de General Severiano, ainda quando eu nem havia nascido. O meu pai, Comandante Eurico Parga Viveiros de Castro, oficial de marinha, foi um dos fundadores do Botafogo, e seu atleta de futebol amador, na década de 1910. Foi Vice-Presidente e Diretor do Clube em mais de uma oportunidade. O desembargador Emmanuel de Almeida Sodré, meu tio, irmã da minha mãe, um dos dois fundadores vivos do Botafogo, foi campeão em 1910.
“O Almirante Benjamin
Sodré, o celebrado Mimi Sodré, outro irmão da minha mãe, foi atleta renomado, à
época (1910/1915), tendo sido Presidente do Botafogo. Minha mãe, Orminda Sodré
Viveiros de Castro foi, na sua santa vida de mãe, esposa, avó e bisavó
exemplar, uma botafoguense apaixonada. De certa feita telefonou para o Nilton
Santos, “dedurando” um atleta profissional que, em um programa de rádio, às 2
horas da madrugada, havia falado mal do Clube. “Dica” que levou o inteligente
(também fora do campo) Nilton Santos a replicar: “Mas D. Orminda, eu não sabia
que a Sra. era ouvinte do programa “bandeira 2”. Porém, vamos providenciar.”
E prosseguiu o nosso
“Maninho”:
– “A minha mãe, pouco
antes de morrer, telefonou para o Presidente Charle Borer, informando-o de que,
na Bahia, existia um excelente atleta, chamado Perivaldo. Foi sepultada envolta
na bandeira do Botafogo. O meu irmão Ormindo, o Padre Viveiros, jesuíta,
ex-Reitor do Colégio Santo Inácio e da PUC, e ainda professor na mesma
Universidade, foi meu companheiro no time infantil de 1932, campeão invicto da
categoria, na antiga AMEA.”
“O meu amigo João Saldanha está aí para atestar que o Ormindo foi um precursor do Pelé – “cobra” dos “cobras”, à época, com 14 anos de idade, quando se retirou para cursar o Seminário dos Jesuítas – que fazia o Nilo Murtinho Braga e o Martim Silveira irem assistir todos os jogos do infantil de 32, só para ver o Ormindo jogar. É isso aí.”
E continuou inda
Emmanuel Sodré Viveiro de Castro, na sua resposta:
– “Em segundo lugar, ou em “segundo primo
loco”, como dizia o Mendonça Falcão, estou atendendo a um chamamento, não só da
voz do sangue – e quem usaria desatender a uma convocação dessa ordem? – mas
também estou respondendo a encantos, e cantos, de um antigo, insistente
“namoro”. Eu resistindo – os interesses da minha família (mulher e filhos), e
mais os clientes, docemente constrangidos, “votando” contra – mas os amigos
botafoguenses (minha família também, pois não?) insistindo e insistindo, me convocando.
Então, realmente, não resisti. Tenho 6 (seis) filhos, já plantei muitas árvores
e já escrevi tanto e tanto, no campo da minha atividade profissional, que já
“escrevi” até vários livros. Então, pensei comigo mesmo: já não está na hora –
por pura paixão, pela paixão pura, esta a verdadeira mola da vida – já não está
na hora de assumir os riscos e responsabilidade de uma sadia… “maluquice”?”
E concluiu “Maninho”
a nossa indagação:
– “Porque, estou sabendo, presidir um clube de futebol, no Brasil, nos dias de hoje, mesmo que esse Clube tenha o amorável nome BOTAFOGO, mais do que um ato de coragem, não é um ato de audácia? Parece que é. Mas, estamos aí. EU VOU NESSA. E comigo venham, de alma aberta, todos os botafoguenses de coração, verdadeiramente, preto e branco!”.»
BIOGRAFIA ABREVIADA DE ‘MANINHO’
Campeão infantil em 1932. Campeão juvenil em
1935. Bicampeão amador em 1942-1943. Bicampeão universitário brasileiro pela
Seleção Carioca em 1941-1942.
Diretor Jurídico de 1948 a 1954,
representando o Clube em quase todas as federações e Tribunais Desportivos (de
futebol, remo, basquetebol, voleibol, etc.). Secretário-Geral da CBD (atual
CBF) em 1954-1955. Juiz do Superior Tribunal de Justiça Desportiva da CBD de
1970 a 1978, tendo integrado o Tribunal Disciplinar da FIFA. Membro do Conselho
Nacional de Desportos em 1981 com mandato de 4 anos, nomeado pelo Presidente da
República.
Candidato à Presidência do Botafogo pela
situação, perdeu as eleições para Juca Mello Machado (1981-1982), mas nas
eleições seguintes tornou-se presidente do Botafogo de Futebol e Regatas
(1983-1984).
Sócio Emérito, Benemérito e Grande Benemérito
do Botafogo. Sócio Benemérito da Confederação Brasileira de Desportos. Sócio
Benemérito da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro.
Profissional Liberal especializado em Direito
do Trabalho, tendo integrado por duas vezes Conselho Seccional da Ordem do
Advogados do Brasil e num dos mandatos foi Presidente da Comissão de Ética e
Disciplina da OAB-RJ.
Fonte: Boletim Informativo do Botafogo, n.º
241, capa e pp. 1, 2, 3, 12, 14 e 15.




Sem comentários:
Enviar um comentário