quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Paulo Azeredo: excelência de gestão, expansão do clube e regresso de Didi

por REVISTA DO ESPORTE | 1960 (respeitando a ortografia da época)

«Em seu escritório da Rua do Carmo, o presidente Paulo Azeredo foi logo falando à Revista do Esporte:

– O Botafogo desfruta de ótima situação financeira por ter adotado uma política certa para o atual regime do futebol profissional. Explico: valorizou o seu plantel onde só há craque na acepção da palavra, pois um grande time sempre obtém grandes rendas. Depois disso, o Botafogo só se exibe em outros Estados por 400 mil cruzeiros (cada jôgo), livres. Se o nosso faturamento não é maior no Rio deve-se ao ridículo preço das entrada, pois não se concebe que um jôgo de futebol do melhor nível possa custar sòmente (arquibancada) 34 cruzeiros, quando se paga num cinema 60 cruzeiros e o dobro num teatro para assistir, às vezes, espetáculos mais inferiores. Acho que nem no país maus sub-desenvolvido os ingressos para jogos de futebol são assim tão irrisório como aqui na terra dos campeões mundiais.

Sempre empolgado quando fala do seu Botafogo o Dr. Paulo Azeredo prosseguiu:

– É um orgulho e um prazer ver o Botafogo em ascenção em todos os setores. Temos dez mil sócios (ó no Rio), que proporcionam excelente arrecadação mensal. O balanço do ano passado deu a clube o apreciável lucro (líquido) de 190.500.000 de cruzeiros. Isso diz tudo, não?

Atendeu a um amigo ao telefone e quando voltou revelou os planos de expansão do clube:

– O Botafogo está ampliando seu patrimônio e pretendo fazê-lo cada vez mais. O ginásio do Mourisco, por exemplo, ficará pronto, segundo os engenheiros, em janeiro do próximo ano. Onde é a quadra (provisória) atual faremos outro ginásio que será mais completo, com capacidade para oito mil pessoas e com sáunas, duchas, sala de massagens, garage de barcos, motores pequenos, restaurante e píer. Outra idéia nossa é a de mudar o estádio de General Severiano para outro lugar que prefiro não revelar, a fim de não atrapalhar as planificações. Onde é o atual campo, faremos, então, quadras de tênis, piscina, quadras, de basquete, de volei, etc. para os nossos associados. Tudo isto fará parte da ampliação do nosso Botafogo, que será cada vez maior para glória e honra dos seus milhares de associados e torcedores em todo êste imenso Brasil.

– Porque o Botafogo contratou um superintendente, Dr. Paulo?

– Porque terá nova organização administrativa que dentro em breve será uma das melhores do país. E foi pensando nisso que contratamos o experimentado desportista Adolfo Schermam para ser nosso superintendente. Êle receberá todo o apoio do clube e terá excelentes colaboradores, entre os quais o Sr. Válter Santos, que organizou, recentemente, o Campeonato Mundial de Pentaplo Militar, d qual o Brasil foi campeão. Isso também faz parte do plano de expansão do clube que mais cresce no Rio. Aliás, voltando à situação financeira, posso dizer sem mêdo de errar que a tesouraria d Botafogo tem mais movimento do que muita casa comercial importante aqui no Rio.

E chegamos a um dos temas que mais interessam à torcida. Referimo-nos à volta de Didi. Presidente botafoguense contou:

– A Constantemente recebia cartas de Didi. Numa delas êle disse, com amargura: “Estou arrependido de ter vindo para o Real Madrid”. Com a sua volta ao Botafogo, creio que todos ficaram felizes: o dirigente, a torcida e o jogador.

Pedimos ao presidente alvi-negro sua opinião sôbre o Real Madrid. Êle foi duro na reposta:

– Há exagêro quando se fala no Real. Deve ser, realmente, um clube organizado e quanto aos valores que possui são de primeira linha, incontestàvelmente. Mas o Botafogo não o imita, pis tem personalidade e um programa traçado. E também é bom frisar que o Botafogo não contrata ninguém da imprensa para fazer propaganda de seu time… Na minha opinião, o Real, se criar coragem para jogar no Brasil, perderá facilmente para qualquer clube grande do Rio e de São Paulo.

Sôbre as temporadas do alvi-negro no exterior, revelou:

– Acho difícil fazermos as excursões de clube para clube. Não podemos evitar os empresários. Nesse ponto, aliás, não temos queixas a fazer: os Srs. José da Gama e Sílvio Maresca sempre agiram com muita correção com o Botafogo.

Finalizando, o Dr. Paulo Azeredo declarou que Paulo Amaral está prestigiado como sempre acontece aos treinadores, pois o clube não costuma mudar de técnico por causa de duas derrotas consecutivas… e que o Botafogo está pagando tributo às contusões de Garrincha e Quarentinha que “reputo os melhores homens da nossa linha da frente” e que foram emprestados à CBD para aquela excursão à RAU contra minha vontade. Por isso, o time do Botafogo ainda não conseguiu mostrar o que é, neste campeonato”.»

Nota do Mundo Botafogo: Paulo Azeredo foi o mais brilhante dirigente do Glorioso. Conquistou 8 dos 12 campeonatos cariocas vencidos pelo Botafogo até à sua aposentadoria em 1963. No seu reinado construíram-se duas sedes; três formidáveis equipes de futebol – a do tetracampeonato 1932-33-34-35, a de 1957-1962 com cinco campeões do mundo em 1958-62 e a geração do tetracampeonato juvenil de 1961-62-63-64 com várias revelações de futebolistas que se sagrariam tricampeões do mundo em 1970; desenvolveu um clube multieportivo com títulos continentais e brasileiros no atletismo, basquetebol, natação, pólo aquático e voleibol, entre muitas outras modalidades olímpicas; estabeleceu um recorde de 80 campeonatos e 40 vice-campeonatos em 1962, o ano do inédito título de campeões de “Terra, Mar e Ar”; deixou-nos um Clube financeiramente sólido e de reputação mundial. Um verdadeiro legado de visão, estratégia e competência!

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