quinta-feira, 16 de julho de 2009

O dia de Quarentinha


por Gerson Soares
.
Mané ficou batendo bola com meu irmão Gilson, dono de potente chute, e eu naquele campinho situado atrás da minha casa. Gilson gabava-se da força do seu pé esquerdo. Não tinha talento para conduzir a bola. No entanto, realmente sabia bater muito bem nela.

Desafiou Mané a ir para o gol e tentar agarrar pelo menos uma bola chutada por ele. Mané gostava de desafios, foi para o gol. Gilson chuto cinco vezes, três para fora do campo, uma, o chão, arrancando tufos de grama, e uma outra Mané defendeu sem maiores dificuldades.

Meu irmão saiu aborrecido, havia perdido uma aposta e seu castigo era estudar. Mané tentou animá-lo, disse que aquilo acontecia, em dias em que nada dá certo. E para exemplificar, falou de um jogo do Botafogo na Argentina.

"Quarentinha era um atacante conhecido pelo forte chute. Talvez o único no time que tinha coragem de cabecear uma bola cruzada por mim, geralmente com chute forte também. E as bolas da época eram mais pesadas. O Botafogo jogava contra o Velez. Lá pelos minutos do primeiro tempo, Quarentinha recebeu um lançamento e partiu em velocidade, livre. Levantou a cabeça para saber o local exato onde chutaria a bola. O goleiro estava com o braço levantado, tranqüilo, despreocupado, apontando para o bandeirinha. Ele estava impedido e o árbitro marcou. O goleiro olhou para ele e riu. Quarentinha partiu em minha direção e pediu: 'Mané, esse goleiro me sacaneou, está brincando com a verdade. Role uma daquelas para mim, que eu vou enfiar esse cara para dentro do gol com bola e tudo.”

Mané prosseguiu a narrativa, após rápida pausa:

"Fui mais uma vez à linha de fundo, procurei Quarentinha e rolei na medida, como ele pedira. Ele chutou o chão, como você, Gilson, e a bola foi pererecando lentamente para as mãos do goleiro, que novamente olhou para o nosso atacante e fez um gesto provocativo, negativo, com a cabeça. Quarentinha ficou ainda mais furioso, queria a todo custo acertar um daqueles violento chutes. Seu objetivo era acertar o peito do goleiro. No intervalo, ainda O a O, ele foi para um canto do vestiário. Não queria falar com ninguém. Nem prestou atenção ao técnico. Aproximou-se mais uma vez de mim e me implorou: 'Garrincha, por favor, role outra daquelas...'"

A resposta de Mané:

"Vou tentar, Quarenta, mas o jogo de hoje não está fácil. Os caras estão marcando em cima e forte."

“Isso não é problema para você. Pelo amor de Deus, me deixe frente a frente com aquele goleiro” – implorou Quarentinha.

Mané se entusiasmou:

"Meninos, no segundo tempo Quarentinha tentou uma três vezes e o chute não saia como ele desejava. E olha que o homem tinha uma bomba naquele pé. O pior é que o goleiro realmente debochava dele. Mas não adiantava. Quanto mais vontade tinha de acertar, mais falhava. Houve uma que ele furou bisonhamente. O goleiro riu alto. O árbitro percebeu e lhe chamou a atenção. A um minuto do fim, houve uma falta na meia-lua. Quarentinha arregalou os olhos, olhou para o goleiro, pôs a bola na marca com carinho, virou-se para mim e disse: 'Ah, Mané! É agora. Era a oportunidade que eu precisava. Pode ter certeza de que dessa vez arranco a cabeça daquele cara.' E se preparou para bater a falta. Ficamos ao lado da bola, eu Mestre Didi e Quarenta, que pediu ao Mestre permissão para bater a falta. Quarentinha, com a permissão, tomou grande distância, apertou o laço da chuteira, suspendeu as meias, deu mais uma olhada terrível por cima da barreira, formada por sete argentinos, para saber onde estava o goleiro. O árbitro apitou. Ele bateu com a ponta da chuteira no gramado e partiu para a bola. Distante da bola, ganhou velocidade. Mas quando estava a três metros dela eu chutei e fiz o gol. Todos correram para me abraçar e eu fugia de Quarentinha, que queria me pegar. Depois, no vestiário, vitória assegurada, consegui amansar Quarentinha dizendo que pelo menos ele não arrancara a cabeça do goleiro."

Fonte: www.sosserve.com.br 

8 comentários:

Fernando Lôpo disse...

Rui, olha esse caso de um programa de rádio de Portugal:

http://www.chongas.com.br/2009/07/anabela-mais-de-4-kilos-e-meio-sua-burra/?24e0d280

Sensacional!

Ruy Moura disse...

Fernando, é magnífico. Conheço tantos disparates desses que às vezes me interrogo se são verdade. Creio que em muitos casos é feito propositadamente para divertir. Tal como fotos espantosas na Internet que não são mais do que montagem. Mas se o intuito é divertir, sem dúvida que é engraçado, porque não pude deixar de rir com esta gravação audio. A Anabela era persistente...

Abraços Gloriosos!

Saulo disse...

Muito bom o texto heim Rui.
Rui. Fiquei um tempo fora do ar e agora estou de volta para conversar sobre o nosso fogão.
Eu mudei algumas coisas no meu blog. Faz uma visita lá.
Valeu e até mais.

Ruy Moura disse...

Que tempão, heim, Saulo?! Seja bem-vindo outra vez.

O Saulo apagou o conteúdo anterior do blog?...

Abraços Gloriosos!

Fernando Gonzaga disse...

excelente texto Ruy...

seguinte meu amigo, estou fazendo uma pesquisa assídua sobre nosso glorioso e gostaria de solicitar de você, como consigo registros e fichas de jogos antigos do glorioso..fico no aguardo...pode entrar em contato comigo atravé do meu e-mail ou mesmo do blog

fernandopantro@gmail.com

abraço!!!

Ruy Moura disse...

OK, Fernando. Eu contato assim que puder.

Abraços Gloriosos!

Luis Eduardo Carmo disse...

Rui,

Essa história do Quarentinha é absolutamente fantástica!!! O Garrincha era um tremendo "contador de causos". Um gênio, não só dos gramados.

No artigo sobre os "melhores" jogadores brasileiros - coloco entre aspas porque Roberto Carlos, Cafu e Dunga estão entre os relacionados - o articulista inglês se refere ao Garrincha com a expressão: "enigmatic brilliance of the bow-legged Garrincha". Faltou dizer que eram tortas pro mesmo lado...

Saudações alvinegras!

Ruy Moura disse...

Biriba, sempre achei que os génios não se medem pela sua literacia... Conheço licenciados, mestres e doutores muito 'burros', e conheço 'analfabetos' muito inteligentes. Em minha opinião, Garrincha é mal apreciado, como se de um´tosco' se tratasse. Na verdade, o Mané tem respostas e comportamentos de génio, fora do gramado, claro. Porque dentro do gramado tratava-se mesmo de um 'deus'.

Abraços Gloriosos!

Botafogo 0x1 Palmeiras: quem desperdiça é castigado

Crédito: Vitor Silva / Botafogo. por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo Em futebol é costume dizer-se que, frequentemente, quem não ma...