por João Saldanha
Jornal do Brasil,
20.09.1980
“Outro
dia afirmávamos que muito poucos jogadores brasileiros sabiam o que taticamente
estaria acontecendo nos campos de jogo durante uma partida, do ponto-de-vista
prático. Claro que sempre souberam resolver com alta capacidade técnica e
espírito de improvisação vários problemas. Mas também é verdade que andamos
sendo envolvidos por equipes bem medíocres por falta de um pequeno conhecimento
teórico.
A
percepção de nossos homens e sua inteligência são bem-acentuadas. Mas que
nossos times se enredam quando enfrentam táticas diferentes das que são
empregadas aqui no Brasil, isto é muito comum. Falta-nos criar o ensinamento da
teoria. A educação de nossos jogadores, para o bem e para o mal, é empírica,
visual. Tudo que fazem em cima, nos times e escalões superiores, é repetido nos
escalões inferiores.
E
entre os jogadores com os quais lidei, indubitavelmente quatro deles se
destacavam. Sabiam logo de cara o que estava acontecendo: o Ronald, o Zagalo, o
Gerson e o Fontana. Lógico que outros, vários outros até, individualmente
sabiam sair melhor. Mas estes quatro se destacaram nitidamente. Principalmente
o Zagalo. Um simples olhar e já dava para saber o que se passava. O Fontana foi
outro, mesmo no final da carreira, com os dois joelhos bombardeados. O Fontana
sabia das coisas. Daí sua capacidade maior de dar ordens rápidas dentro de
campo. As que vêm de fora, por vezes, não dão mais tempo. Em futebol deve ser
mais ganhador o time que possuir os melhores jogadores. E se este time também
domina as diferentes taticas empregadas terá mais facilidade ainda de fazer
valer sua categoria. Nos tempos atuais, o alto nível de preparação física faz o
campo encurtar e faz com que algumas táticas de marcação se tornem mais
eficazes. Um time que não saiba sair do homem a homem com libero, se enreda
fatalmente. Poderá livrar-se num outro jogo mas nem sempre nos 90 minutos
porque o tempo é curto para arrumar as coisas. O mesmo quando um time fica com
mais gente do que outro. Claro que o time de menos gente vai-se fechar. Qual a
saída? Taticamente é a de abrir bem os pontas, bem avançados e mandar mais um
para cima de um dos zagueiros de área. Mas em quanto tempo isto será
solucionado? É realmente um problema difícil de resolver. Nossos jogadores não
gostam de discutir teoria de futebol. Respondem com um: “Vamos lá meter os
peitos e correr”. Ou então aquela solução pessoal, muitas vezes genial.
O
Garrincha, sempre resolveu a questão do “libero” e a de seu marcador, driblando
os dois. Mas quantos Garrinchas andam por aí? Devemos reconhecer que por várias
causas (uma delas é que a última guerra já ficou longe) a habilidade dos
jogadores está sendo vista por muitas outras partes. Não podemos ficar somente
no empirismo. Já seria tempo de formação de cursos de ensinamento. As
Escolinhas, além de selecionar garotos, têm o dever de ensinar sobre o jogo. De
um modo geral, sabemos pouco.”
2 comentários:
Imprima-se e distribua-se à próxima comissão técnica e jogadores que permanecerão em 2014. Aliás, João Saldanha deveria ser leitura obrigatória a qualquer um que tenha pretensões de botar os pés em General Severiano.
Nem mais, Antonio. Mas os homens parece que aprendem pouco com a sabedoria que o passado construiu. Pensam que o futebol nasceu depois da década de 1980...
Abraços Gloriosos!
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