
A propósito dos incidentes do Recife contra o Náutico, escrevi um artigo no Arena Alvinegra intitulado “Miolos a menos e fardas a mais” (02/06/2008), no qual refiro, entre outros, os seguintes aspectos:
“O mais interessante disto tudo é que estamos perante profissionais, pessoas no exercício das suas profissões e supostamente treinados para agir racionalmente – sobretudo os agentes da autoridade e os árbitros, mas também jogadores e treinadores.
Para nós botafoguenses há uma segunda versão possível a explorar: Quem são os responsáveis pelos constantes comportamentos inadequados de alguns jogadores botafoguenses?... Quem são os responsáveis pela falta de profissionalismo desses jogadores?... Quem tem coragem de punir esses jogadores?... Quem tem coragem de salvar o Botafogo?...
No ano passado Túlio decidiu perder a cabeça e privar o Botafogo de 120 dias da sua presença na equipa. Zé Roberto entendeu que podia andar pelas noites cariocas e chegar tarde aos treinos, privando o Botafogo da sua presença na equipa. Dodô fez o que muito bem entendeu para se auto-tratar e privou o Botafogo da sua presença na equipa. André Luís decidiu entrar em campo e preparar a sua expulsão desde os 30 segundos de jogo quando começou a reclamar sem razão, privando o Botafogo da sua presença na equipa certamente por muito tempo.
E desses jogadores, quantos foram punidos pelas suas atitudes?... Apenas Zé Roberto, mas o treinador Cuca logo se arrependeu e fez a diretoria mudar de ideias perdoando ao jogador…
Ninguém tenha dúvidas de que se quisermos ter um clube profissional e uma equipa a sério, o Botafogo tem que tomar medidas drásticas contra quem o prejudica interna e externamente.
O Botafogo possui uma equipa desnorteada, sem capitão à proa e sem almirante no quartel. Não é que estas coisas só aconteçam ao Botafogo; o que se passa é que o Botafogo deixa que só com ele aconteçam estas coisas.” (…)
“Em tempo próprio, e independentemente da punição desportiva que André Luiz receberá, o Botafogo deve punir severamente o seu jogador por ter entrado de cabeça quente no jogo, por se ter mantido num estado de exaltação pelo qual merecia ter visto imediatamente o cartão vermelho a seguir ao amarelo, por ter tido comportamentos obscenos com a torcida do Náutico sendo ele um profissional e por se ter mantido incontrolável antes, durante e depois da intervenção policial.” (…)
“Ou o Botafogo se acalma e se reorganiza, começa a pensar bem e a discernir convenientemente, ou veremos o nosso clube novamente num buraco negro de proporções imprevisíveis. E alvo de zoação de todas as torcidas – e nesse caso sob a nossa inteira responsabilidade. Quero o meu Botafogo de volta!”
***
Mas André Luís não foi punido e tornou agora a repetir as suas façanhas de ‘macho latino’. O Botafogo não puniu as indisciplinas dos seus jogadores em 2007 e 2008: os seus dirigentes são homens sem discernimento quando é necessário decidir (Bebeto de Freitas, Carlos Augusto Montenegro..), os seus treinadores não possuem capacidades de liderança (Cuca, Ney Franco…).
Ademais, a torcida do Botafogo também não exige as atitudes adequadas a quem de direito, ficando-se muitíssimas vezes pela emoção primária e pela defesa ‘cega’ do clube – por exemplo, não li nenhuma declaração de torcedores a solicitar a punição de André Luís após os desacatos que fez no estádio dos Aflitos, e então o homem sentiu-se no direito de, uma vez mais, envergonhar o Botafogo na despedida da Copa Sul-Americana.
Uma equipa de futebol constrói-se com muito trabalho, suor e dedicação, não com desmandos como os que ocorreram em 2007 e 2008 sem que dirigentes e treinadores fizessem algo realmente com discernimento para que o Botafogo não fosse exemplo dos piores – chorão, resmungão, indisciplinado e, aos olhos dos outros, um clube completamente desorientado sem a arte e o carisma do passado.
Neste momento desejo simplesmente a eleição do novo presidente, que seja capaz de pensar e discernir bem, livrando-se de todos os dirigentes incapazes de ter uma postura de líderes, de treinadores sem garra e sem chama, de jogadores indisciplinados e sem ânimo.
Desejo sinceramente que os vexames que dirigentes, treinadores e jogadores protagonizaram em 2007 e 2008 sejam banidos pelo novo presidente, banindo todos aqueles que continuam a pensar que o futebol é uma coisa amadora, que se pode tratar com uma faca na liga, com meia dúzia de palavrões inapropriados e com jogadores e dirigentes supostamente ‘machões’ mas sem ‘miolos’ para poderem jogar e fazerem jogar futebol com comportamentos éticos adequados.
Velejando à bolina, o Botafogo fez dois anos para esquecer. Das promessas vãs, sem planos, sem metas e sem proridades definidas, ao descalabro de chororôs, indisciplinas e desânimos inaceitáveis, tudo foi possível acontecer.
Quantas vezes chamei a atenção para a necessidade de se planear o ano com metas e prioridades?... Quantas vezes escrevi que o campeonato brasileiro seria meta para 2010 e que este ano devia ter sido definido para a conquista da Copa do Brasil, da Copa Sul-Americana e de um lugar entre 6º e 9º no campeonato brasileiro?... Quantas vezes escrevi que dirigentes e treinadores não sabiam dirigir a equipa, quer esportivamente quer tecnicamente?... Quantas vezes chamei a atenção para se evitar o ‘buraco negro’ que referi atrás?...
Sejamos gente com discernimento para admitir que o nosso Botafogo é um mau exemplo de clube nos dias de hoje e que o ‘descalabro anunciado’ torna a fechar 2008 tal e qual como em 2007...
Esconder isto é enterrar a cabeça na areia, é ‘branquear’ as nossas deficiências, é colocar mais terra na nossa própria sepultura. Se não enfrentarmos cara a cara as descomunais fragilidades do nosso clube e da nossa equipa de futebol, creiam que o que escrevi há meses acontecerá:
“Veremos o nosso clube novamente num buraco negro de proporções imprevisíveis. E alvo de zoação de todas as torcidas – e nesse caso sob a nossa inteira responsabilidade. Quero o meu Botafogo de volta!”
FICHA TÉCNICA
Botafogo 2x2 Estudiantes
Gols: Angeleri, 3' (0-1); Salgueiro, 33' (0-2); Lúcio Flávio, 58' (1-2); André Luís, 65' (2-2)
Competição: Copa Sul-Americana
Estádio Olímpico João Havelange, o ‘Engenhão’
Data: 04/11/2008
Arbitragem: Carlos Chandía (Chile); Cristian Júlio (Chile) e Sérgio Román (Chile)
Renda/público: R$ 99.649 / 13.517 pagantes
Cartões amarelos: Renato Silva, Triguinho, André Luís e Jorge Henrique (Botafogo); Salgueiro, Juan Díaz, Verón e Cellay (Estudiantes)
Cartão vermelho: André Luís (Botafogo)
Botafogo: Renan, Thiaguinho (Lucas Silva), Renato Silva, André Luís e Triguinho (Luciano Almeida); Leandro Guerreiro, Diguinho, Lúcio Flávio e Carlos Alberto; Jorge Henrique e Wellington Paulista (Fábio). Técnico: Ney Franco
Estudiantes: Andújar, Angeleri, Cellay, Desábato e Díaz; Galván (Sánchez), Braña, Benítez e Verón (Moreno y Fabianesi); Salgueiro (Calderón) e Boselli. Técnico: Leonardo Astrada
“O mais interessante disto tudo é que estamos perante profissionais, pessoas no exercício das suas profissões e supostamente treinados para agir racionalmente – sobretudo os agentes da autoridade e os árbitros, mas também jogadores e treinadores.
Para nós botafoguenses há uma segunda versão possível a explorar: Quem são os responsáveis pelos constantes comportamentos inadequados de alguns jogadores botafoguenses?... Quem são os responsáveis pela falta de profissionalismo desses jogadores?... Quem tem coragem de punir esses jogadores?... Quem tem coragem de salvar o Botafogo?...
No ano passado Túlio decidiu perder a cabeça e privar o Botafogo de 120 dias da sua presença na equipa. Zé Roberto entendeu que podia andar pelas noites cariocas e chegar tarde aos treinos, privando o Botafogo da sua presença na equipa. Dodô fez o que muito bem entendeu para se auto-tratar e privou o Botafogo da sua presença na equipa. André Luís decidiu entrar em campo e preparar a sua expulsão desde os 30 segundos de jogo quando começou a reclamar sem razão, privando o Botafogo da sua presença na equipa certamente por muito tempo.
E desses jogadores, quantos foram punidos pelas suas atitudes?... Apenas Zé Roberto, mas o treinador Cuca logo se arrependeu e fez a diretoria mudar de ideias perdoando ao jogador…
Ninguém tenha dúvidas de que se quisermos ter um clube profissional e uma equipa a sério, o Botafogo tem que tomar medidas drásticas contra quem o prejudica interna e externamente.
O Botafogo possui uma equipa desnorteada, sem capitão à proa e sem almirante no quartel. Não é que estas coisas só aconteçam ao Botafogo; o que se passa é que o Botafogo deixa que só com ele aconteçam estas coisas.” (…)
“Em tempo próprio, e independentemente da punição desportiva que André Luiz receberá, o Botafogo deve punir severamente o seu jogador por ter entrado de cabeça quente no jogo, por se ter mantido num estado de exaltação pelo qual merecia ter visto imediatamente o cartão vermelho a seguir ao amarelo, por ter tido comportamentos obscenos com a torcida do Náutico sendo ele um profissional e por se ter mantido incontrolável antes, durante e depois da intervenção policial.” (…)
“Ou o Botafogo se acalma e se reorganiza, começa a pensar bem e a discernir convenientemente, ou veremos o nosso clube novamente num buraco negro de proporções imprevisíveis. E alvo de zoação de todas as torcidas – e nesse caso sob a nossa inteira responsabilidade. Quero o meu Botafogo de volta!”
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Mas André Luís não foi punido e tornou agora a repetir as suas façanhas de ‘macho latino’. O Botafogo não puniu as indisciplinas dos seus jogadores em 2007 e 2008: os seus dirigentes são homens sem discernimento quando é necessário decidir (Bebeto de Freitas, Carlos Augusto Montenegro..), os seus treinadores não possuem capacidades de liderança (Cuca, Ney Franco…).
Ademais, a torcida do Botafogo também não exige as atitudes adequadas a quem de direito, ficando-se muitíssimas vezes pela emoção primária e pela defesa ‘cega’ do clube – por exemplo, não li nenhuma declaração de torcedores a solicitar a punição de André Luís após os desacatos que fez no estádio dos Aflitos, e então o homem sentiu-se no direito de, uma vez mais, envergonhar o Botafogo na despedida da Copa Sul-Americana.
Uma equipa de futebol constrói-se com muito trabalho, suor e dedicação, não com desmandos como os que ocorreram em 2007 e 2008 sem que dirigentes e treinadores fizessem algo realmente com discernimento para que o Botafogo não fosse exemplo dos piores – chorão, resmungão, indisciplinado e, aos olhos dos outros, um clube completamente desorientado sem a arte e o carisma do passado.
Neste momento desejo simplesmente a eleição do novo presidente, que seja capaz de pensar e discernir bem, livrando-se de todos os dirigentes incapazes de ter uma postura de líderes, de treinadores sem garra e sem chama, de jogadores indisciplinados e sem ânimo.
Desejo sinceramente que os vexames que dirigentes, treinadores e jogadores protagonizaram em 2007 e 2008 sejam banidos pelo novo presidente, banindo todos aqueles que continuam a pensar que o futebol é uma coisa amadora, que se pode tratar com uma faca na liga, com meia dúzia de palavrões inapropriados e com jogadores e dirigentes supostamente ‘machões’ mas sem ‘miolos’ para poderem jogar e fazerem jogar futebol com comportamentos éticos adequados.
Velejando à bolina, o Botafogo fez dois anos para esquecer. Das promessas vãs, sem planos, sem metas e sem proridades definidas, ao descalabro de chororôs, indisciplinas e desânimos inaceitáveis, tudo foi possível acontecer.
Quantas vezes chamei a atenção para a necessidade de se planear o ano com metas e prioridades?... Quantas vezes escrevi que o campeonato brasileiro seria meta para 2010 e que este ano devia ter sido definido para a conquista da Copa do Brasil, da Copa Sul-Americana e de um lugar entre 6º e 9º no campeonato brasileiro?... Quantas vezes escrevi que dirigentes e treinadores não sabiam dirigir a equipa, quer esportivamente quer tecnicamente?... Quantas vezes chamei a atenção para se evitar o ‘buraco negro’ que referi atrás?...
Sejamos gente com discernimento para admitir que o nosso Botafogo é um mau exemplo de clube nos dias de hoje e que o ‘descalabro anunciado’ torna a fechar 2008 tal e qual como em 2007...
Esconder isto é enterrar a cabeça na areia, é ‘branquear’ as nossas deficiências, é colocar mais terra na nossa própria sepultura. Se não enfrentarmos cara a cara as descomunais fragilidades do nosso clube e da nossa equipa de futebol, creiam que o que escrevi há meses acontecerá:
“Veremos o nosso clube novamente num buraco negro de proporções imprevisíveis. E alvo de zoação de todas as torcidas – e nesse caso sob a nossa inteira responsabilidade. Quero o meu Botafogo de volta!”
FICHA TÉCNICA
Botafogo 2x2 Estudiantes
Gols: Angeleri, 3' (0-1); Salgueiro, 33' (0-2); Lúcio Flávio, 58' (1-2); André Luís, 65' (2-2)
Competição: Copa Sul-Americana
Estádio Olímpico João Havelange, o ‘Engenhão’
Data: 04/11/2008
Arbitragem: Carlos Chandía (Chile); Cristian Júlio (Chile) e Sérgio Román (Chile)
Renda/público: R$ 99.649 / 13.517 pagantes
Cartões amarelos: Renato Silva, Triguinho, André Luís e Jorge Henrique (Botafogo); Salgueiro, Juan Díaz, Verón e Cellay (Estudiantes)
Cartão vermelho: André Luís (Botafogo)
Botafogo: Renan, Thiaguinho (Lucas Silva), Renato Silva, André Luís e Triguinho (Luciano Almeida); Leandro Guerreiro, Diguinho, Lúcio Flávio e Carlos Alberto; Jorge Henrique e Wellington Paulista (Fábio). Técnico: Ney Franco
Estudiantes: Andújar, Angeleri, Cellay, Desábato e Díaz; Galván (Sánchez), Braña, Benítez e Verón (Moreno y Fabianesi); Salgueiro (Calderón) e Boselli. Técnico: Leonardo Astrada
8 comentários:
Rui, sua análise e seu texto foram brilhantes. Concordo em absolutamente tudo.
Incrível como um texto escrito meses atrás se encaixa perfeitamente hoje....
Eu também quero o Botafogo de volta!
Grande abraço, amigo.
Danilo
Olá Rui, sem dúvida vc está com muita razão e tenho a mesma concepção no que diz respeito a toda situação administrativa.
Sou Pernambucano torcedor com 2 clubes no coração ( O Botafogo e também o Náutico). Fui ao jogo e sofri muito ao ver aquela situação no campo.
Só agora vejo alguém com tanta visão para melhor comentar sobre o fato, além de fazer uma abordagem mais ampla sobre os anos recentes do fogão.
Vale salientar que o Botafogo tem um dos melhores elencos do Brasileirão, porém, mal administrado.
De outra forma, acredito que estaríamos na disputa do título 2008.
Um abraço, Nil Santos (Recife/PE)
Um grande abraçoao fogão!!!
Saudações Avaianas ao fogão
Volto a repetir: o Botafogo precisa passar por uma grande reformulação. Precisa de gente nova, jogadores novos, novos ares. Assim, as coisas podem mudar. E você tem razão: falta um pouco de seriedade nas punições a alguns jogadores.
Amigo Danilo, que dizer?... Também concordo com as análises que faz no seu brilhante blogue.
Querermos o nosso Botafogo de volta não é pedir muito, pois não?... Se Maurício Assumpção também não tiver discernimento o nosso Botafogo esvai-se neste tsunami desconexo do futebol brasileiro. E a recuperação será muito mais difícil do que nos anos noventa, porque o futebol e o mundo mudaram.
Como se diz em Portugal: "o Botafogo tem sido pão para malucos" e isso tem que acabar. Ou acaba a glória do Glorioso...
Saudações amigas.
Amigo Nil, também acho que o BFR teve um dos melhores elencos do futebol brasileiro em 2007-08 e treinadores melhores do que a média (que é baixa). Isso deve ser creditado à diretoria que teve um orçamento muito interessante, investindo em treinadores e jogadores de bom nível. Mas a gestão desa mesma diretoria não audou, deixou o departamento de futebol à toa, não controlou os cmandos técnicos e estes não dirigiram adequadamente os jogadores. Digo isto há quase dois anos... Mas parece que só a sparedes ouvem...
Saudações Gloriosas!
Cainã, força aos "hawaianos"!... rsrsrs... Porque o Avaí já vem por aí!!!
Saudações esportivas!
Vinícius, o homem ainda vive do equilíbrio entre premiar convenientemente e punir adequadamente. Quando uma dessas coisas não funciona, especialmente tratando-se de jogadores pouco letrados, o resultado fica à vista... Até a televisão sueca fala do André Luís e do Botafogo. E para quem conhece suecos isso significa desprestígio para o Brasil e para o futebol brasileiro (e para o Botafogo, evidentemente).
Saudações Gloriosas!
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