segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Entrevista com Luiz Mendes (1)

Luiz Mendes e a esposa Daisy Lúcidi, casados há 55 anos

Comentarista esportivo da Rádio Globo, colunista do Jornal dos Sports e com passagens pela TV Rio, TV Educativa e Rádio Nacional.

por Rafael de Morais Venâncio, em 2005

P - Você acha que existe imparcialidade no jornalismo esportivo ou isso é um mito?

R - Existe a imparcialidade. Eu por exemplo sou torcedor do Botafogo e do Grêmio. São os meus clubes de coração. E nem por isso eu pendo pra eles quando eu faço os meus comentários. Às vezes eu defendo principalmente o Botafogo em função disso que você está falando. Porque eu acho injusto que se ignore a glória do Botafogo, o que o Botafogo representa para o futebol brasileiro. O Botafogo é o clube que mais cedeu jogadores para a Seleção Brasileira. Então só por aí ele já deveria ter um respeito maior. Mas aqui no rio de Janeiro eles levam em consideração a força popular dos clubes. Nas emissoras de rádio, por exemplo, se tem o escalonamento da importância de cada clube, em função do número de torcedores. Então primeiro é o Flamengo, que é considerado aquele que tem a maior torcida e realmente tem. Em segundo é o Vasco, em terceiro é o Fluminense e em quarto é o Botafogo. Só que em todas as pesquisas o Fluminense e o Botafogo têm empate técnico. Às vezes o Botafogo tem 15% e o Fluminense 14%, às vezes é o contrário. Então a importância que se dá ao Fluminense de ser o terceiro nessa preferência popular não é justa com o Botafogo, que acaba tendo esse tratamento de quarta força e não de terceira força, como ele deveria ter.

P - Por que o Fluminense nunca é desfavorecido no tratamento feito pela imprensa esportiva?

R - O Fluminense é sempre um time, um clube colocado em pedestal. O Fluminense foi o grande dominador do futebol do Rio de Janeiro em termos de força de dirigentes. As tabelas do Campeonato Carioca, logo que eu cheguei ao Rio de Janeiro em 1944, eram feitas dentro do Fluminense. Então eram doze clubes e o Fluminense disputava os seus seis primeiros jogos com os seis pequenos. Enquanto que os outros grandes estavam disputando entre si e nunca com o Fluminense, que ficava pra fazer seus clássicos na segunda parte do turno do campeonato.

P - Então está explicado o porquê de o Fluminense ter 30 títulos cariocas…

R - O Fluminense tem 30 títulos cariocas, mas um deles não vale, que é o de 1907. O Botafogo também dão a ele 17 títulos, e ele tem 16, porque aquele de 1907 não vale. Não pode valer porque aquele campeonato não terminou. Aí 80 anos depois o Fluminense queria ser tetra-campeão também, igual ao Botafogo que é o único que tem esse título. Ele investiu no departamento jurídico da CBF ou CBD e arguiu o título de 1907 e deram pra ele. Aí o Botafogo entrou com uma contestação e deram pró Botafogo. Depois fizeram um desempate não no tribunal mas na federação, que deu o título para os dois. Aí o Fluminense pode dizer também que foi tetra-campeão, mas não foi campeão nesse ano de 1907, como também não foi o Botafogo. O Fluminense que dominava a Liga a dissolveu, como se ela fosse sorvete, então não podia haver decisão d eum campeonato que não tinha Liga mais. Não houve o campeonato de 1907, morreu. Então não houve campeão nesse ano. Mas como efeito de um resultado da Federação os dois passaram a se considerarem campeões. Então o Botafogo conta 17 títulos e o Fluminense 30. Agora pela média o maior campeão que há no Rio de Janeiro é o Vasco, porque ele começou em 1923, enquanto que o Fluminense começou em 1906 e o Flamengo em 1912.

P - O primeiro Campeonato carioca disputado pelo Vasco foi na segunda divisão…

R - Sim, ele entrou pela porta da frente. Não foi posto ou imposto. Ele veio das divisões inferiores e entrou em 1923 na primeira porque foi campeão da segunda. Aí foi campeão já em 23 e teve que passar para uma liga inferior em 24 porque o expulsaram porque ele aceitou negros e pobres e o futebol era elitizado. Então os outros chutaram o Vasco alegando que ele não tinha estádio, então ele construiu São Januário, que foi por muitos anos a maior praça de esportes da América do Sul.

P - Até o surgimento do Maracanã?

R - Não. Até surgir o Pacaembu em São Paulo. Depois também surgiu na Argentina o estádio do River Plate, o estádio de San Lorenzo, que são maiores que São Januário.

P - A gente percebe que desde cedo o Fluminense tem essa aura elitizada…

R - O Fluminense é o clube mais respeitado se você for olhar bem. Na imprensa mesmo você sente isso. É muito difícil você controlar suas tendências, quando você está falando ou quando você escreve. Há quem consiga, eu, felizmente, me incluo dentro daqueles que conseguem controlar suas tendências. Eu só não admito quando alguém inventa e fustiga um clube por desonestidade e não é só com o Botafogo, eu defendo outros clubes, como o América, por exemplo, que passou momentos do pão que o diabo amassou, já que dizem que ele é o diabo, então ele passou a comer o pão que ele mesmo fez.

P - Você percebe algum outro motivo para essa marcação da imprensa para com o Botafogo?

R - Durante o período em que o Botafogo dominou tecnicamente o futebol, que foram nos anos 60 e 70, quando ele formou os maiores times do Rio de Janeiro, ele tinha Garrincha, por exemplo, e eles aqui no Rio, o arco-íris, os outros clubes todos fizeram uma espécie de pacto e elegeram o Pelé como o grande jogador deles, tanto que o Pelé dizia que a cidade que mais gostava dele era o Rio. Por causa dos outros que não queriam que o Botafogo tivesse um jogador que fosse ídolo nacional. O próprio Santos achava que aqui no Rio era a casa do Pelé.

P - Você acha que a imprensa carioca teve grande importância na criação do mito Pelé?

R - Ela ajudou a fazer do Pelé o ídolo que ele é. Em São Paulo, claro. Pelé foi um jogador que apareceu… no campeonato de 1958 ele bateu o recorde de artilharia de Campeonatos Paulistas fazendo 58 gols em um ano. Há que se tirar o chapéu para um jogador que faz isso. Agora o Garrincha tinha uma outra finalidade, ele começou como artilheiro, marcou 300 e poucos gols com a camisa do Botafogo e mais alguns com a da Seleção Brasileira. O Garrincha passou a ser o fazedor de artilheiros. Ele vendeu jogadores para o exterior Aquele Mazola que depois passou a se chamar Altafini na Itália foi vendido para o Milan graças à Garrincha. O Garrincha chegava na linha de fundo e colocava a bola pro cara fazer o gol, e os caras da Itália só queriam quem fizesse o gol. Assim foi com o Dino Sani, que foi do Botafogo e foi vendido pra Itália, Vinícius, Bruno que foram vendidos também para a Itália. Todos os jogadores que o Garrincha projetou dando bolas pra eles fazerem os gols. Então eu acho que se o Pelé tem 1.281 gols, o Garrincha deve ter pelo menos, além dos trezentos e tantos que ele mesmo fez, ele deve ter dado mais de 1.281 gols para os outros fazerem. E eu considero que se o Garrincha não foi melhor do que o Pelé, também não foi inferior. Só que o Pelé teve mais mídia. Juntaram-se os cariocas que não gostavam do Botafogo ou que torciam contra o Botafogo com os paulistas para fazer do Pelé o maior ídolo nacional.

P - Mas em São Paulo não existia essa rivalidade dos outros grandes para não fazerem do Pelé o ídolo que é?

R - Não… em São Paulo eles começaram a se render ao time do Santos. Em 15 anos o Santos ganhou 13 campeonatos. Ele fez seis títulos seguidos, perdeu um e depois ganhou outros sete. Em quinze anos ele perdeu dois títulos. Senão ele teria sido decapentacanpeão.

Fonte: VENÂNCIO, Rafael de Morais (2005). “HÁ COISAS QUE SÓ ACONTECEM AO BOTAFOGO”. O mito da imparcialidade dentro do jornalismo esportivo. Juiz de Fora: UFJF; FACOM, 116 fl. Projeto Experimental do Curso de Comunicação Social.

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