quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Entrevista com Luiz Mendes (3)

Beth Carvalho, Luiz Mendes e Daisy Lúcidi

Comentarista esportivo da Rádio Globo, colunista do Jornal dos Sports e com passagens pela TV Rio, TV Educativa e Rádio Nacional.

por Rafael de Morais Venâncio, em 2005

P - De onde vem esse estigma do Botafogo com o time sem estrutura, time da baderna?

R - O Botafogo foi sempre um time guerrilheiro. Quando foi implantado o profissionalismo em 1933, o Fluminense e o Flamengo lideraram, aliás, foi o presidente do Fluminense, então era o Eduardo Guinle, ele liderou o movimento para se profissionalizar o futebol. Mas já era praticamente profissionalizado, os jogadores recebiam prêmios por vitórias. Tinham os seus apartamentos pagos pelo clube, alimentação paga pelo clube. E o Botafogo quis manter esse estado de coisas. E liderou. No primeiro ano o Vasco, o Bangu, Fluminense, Flamengo e o América foram para o outro lado, chamada Liga Carioca de Futebol e virou liga pirata. O Boatfogo ficou filiado à chamada Federação Metropolitana de Futebol, que era filiada à CBD, e essa filiada à FIFA. Então na hora de formar uma seleção brasileira os jogadores deles não entravam. Se um jogador quisesse disputar a Copa do Mundo tinha que se inscrever num clube que estava filiado à CBD. E o Botafogo era esse. Então muitas vezes o Botafogo trazia vários jogadores dos outros clubes “piratas”. O próprio Leônidas da Silva entrou no Botafogo dessa forma, para poder jogar na seleção de 34. Depois ca Copa ele ficou um ano no Botafogo e depois foi negociado com o Flamengo. Em 1937 que se estabeleceu a paz, América e Vasco se uniram, porque aí o Vasco já estava na entidade em que estava o Botafogo. Até à união a divisão era a seguinte: de um lado Flamengo, Fluminense e América e do outro Botafogo, Bangu e Vasco.

P - Você acredita que Botafogo x Flamengo é a maior rivalidade do futebol carioca?

R - Na época em que o Botafogo tinha aquele grande time, o Flamengo tinha ódio do Botafogo. Foi o Flamengo que apelidou a torcida do Botafogo de cachorrada e o Botafogo colocou o nome de Urubu no Flamengo. Nessa época era sim a maior rivalidade. Hoje em dia existe, mas nem tanto. Vasco e Flamengo é a rivalidade mais acentuada e a mais romântica é Fla x Flu.

P - Você acha que a imprensa teve um papel importante na diminuição do Botafogo, no período de jejum de títulos?

R - Claro que teve, e eu já te expliquei o porquê disso. O Botafogo deitou e rolou em cima deles durante muito tempo. O Botafogo inventou o olé em cima deles. E quando desse jejum de títulos eles ficavam contando 1, 2, 3… até 20. Vinte anos e vinte e um campeonatos. Por que em 78 tiveram dois campeonatos. Então o Flamengo foi tricampeão em dois anos, 78 e 79. Mas os jejuns d etítulos são da história do Botafogo. O Botafogo foi campeão em 1910, depois em 1912, depois só em 1930. Depois do título de 1935 ele só foi ser campeão em 1948. Depois só em 57. Depois 61, 62, 67 e 68, depois ficou todo esse tempo de 20 anos sem ganhar um título.

P - Você considera essa a maior crise da história do Botafogo?

R - Não, porque ele disputava os títulos. O Botafogo chegou a ser penta vice-campeão. Chegou a somar 5 títulos de vice-campeão com campeões diferentes.

P - Nesse período em que o Botafogo vendeu a sua sede de General Severiano e se exilou em Marechal Hermes, você chegou a temer que o clube s etornasse o próximo São Cristóvão, América?

R - Eu não temi não, porque eu sabia que a torcida do Botafogo era muito grande. A torcida do Botafogo era enrustida. Hoje ela está mais solta. Eu entrava às vezes em um restaurante e a maioria dos garçons era botafoguense. Uma vez eu entrei numa loja da “Light” e os oito habitantes daquela sala eram botafoguenses.

P - Existe a máxima que diz que “Há coisas que só acontecem com o Botafogo”. Você vê algo de peculiar no clube?

R - O Botafogo é o time que mais demora a ganhar um título subseqüente. Quando o Vasco estava à nove anos sem ganhar um título o ditado era outro. Quando eu cheguei ao Rio de Janeiro, encontrei o seguinte ditado: “Há coisas que só acontecem ao Vasco e ao Botafogo”. Depoiis passou a não acontecer mais ao Vasco, só com o Botafogo. E essa frase cresceu e quem mais a divulgou, embora a contragosto, fui eu. Por exemplo, na final do supercampeonato de 46, entre Botafogo x Fluminense, o jogador do Botafogo que estava marcando o Ademir, do Fluminense, saiu de campo pra trocar as chuteiras, nessa hora o jogador tricolor fez o gol. Foi um a zero para o Fluminense, que foi campeão. Aquele gol de 71 do Lula [decisão do Campeonato Carioca entre Botafogo x Fluminense]. Houve uma falta em cima do goleiro do Botafogo [Ubirajara] e o árbitro fingiu que não viu. Na hora de terminar o jogo ele ficou próximo ao túnel central e saiu correndo. São coisas que efetivamente só acontecem ao Botafogo.

P - Pra encerrar nossa conversa, você percebe uma diferença no tratamento destinado ao Botafogo em relação ao Flamengo, Fluminense e Vasco na imprens aesportiva?

R - Sim, é uma coisa que a gente nota, a gente vê. O Botafogo tem um tratamento diferente, diferenciado pra baixo e não pra cima. Quando o Botafogo está mal eles fazem gozações que não acabam mais. Eles superestimam as derrotas do Botafogo e o subestimam. Ontem mesmo o Dodô fez um golaço [Luís Mendes se refer ao gol do atacante botafoguense no empate em 1x1 com a Cabofriense pela Taça Rio], s enão sou eu quem fala… se fosse do Pet [Fluminense] ou do El Tigre [Flamengo] seria o gol do ano.

Fonte: VENÂNCIO, Rafael de Morais (2005). “HÁ COISAS QUE SÓ ACONTECEM AO BOTAFOGO”. O mito da imparcialidade dentro do jornalismo esportivo. Juiz de Fora: UFJF; FACOM, 116 fl. Projeto Experimental do Curso de Comunicação Social.

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