Nota
preliminar: Em 1950 a derrota foi justificada com a imperdoável criação de um
‘bode expiatório’ – o goleiro Barbosa; se a derrota tivesse ocorrido em 1962 a
desculpa seria a ausência de Pelé por lesão, mas então lá estavam Garrincha eAmarildo para
evitarem desculpas; em 1966 a derrota foi explicada porque Pelé fora alvo de
sarrafada, como se todos os craques à época não o tivessem sido; se a derrota
tivesse ocorrido em 1970 certamente o ‘bode expiatório’ seria o próprio Zagalo
por não ter sabido manter a linha de rumo de João Saldanha, então substituído.
Porém, Carlos Drummond de Andrade anteveria a confusão generalizada que havia
de se refletir na organização da Seleção Canarinho na Copa do Mundo de 1966.
por RAFAEL DUARTE OLIVEIRA VENANCIO
por RAFAEL DUARTE OLIVEIRA VENANCIO
Doutor em Meios e Processos
Audiovisuais. Professor do curso de Jornalismo e do Programa de Pós-Graduação
em Tecnologias, Comunicações e Educação da Universidade Federal de Uberlândia.
Em abril de 1966, o Brasil fez uma polêmica
convocação de 46 jogadores para tentar o tricampeonato sob aura de
favoritismo indiscutível na Inglaterra. Os jornais relatavam o caso da
maneira usual, ou seja, com listas, comentários e perfis lembrando as numerosas
escolhas, acima da tradicional lista de 22 nomes, bem como alguns esquecimentos.
No entanto, o Correio da Manhã de 3 de abril
de 1966 apresentou uma forma distinta de relatar isso de autoria do seu
colunista esportivo, Carlos Drummond de Andrade:
A Seleção
Vai Rildo, não vai Amarildo?
Vão Pelé e, que bom, Mané,
O menino gaúcho Alcino
e nosso veterano Dino,
Altair, rima de Oldair,
ecoando na ponta: Ivair,
e na quadra do gol: Valdir.
Fábio, o que não pode faltar,
e também não pode Gilmar,
como, entre os santos dos santos,
o patriarca Djalma Santos,
sem esquecer o Djalma Dias
e, entre mil e uma noites, Dias.
Mas se a Comissão não se zanga,
Quero ver, em Everton, Manga.
É canhoto, e daí? Fefeu,
quando chuta, nunca perdeu.
A chance que lhe foi roubada,
desta vez a tenha Parada.
Paraná, invicto guerreiro
Para guerrear como aqui, lá.
Olhando para o chão, Jairzinho
é como joga legalzinho.
Não abro mão de Nado e Zito,
nem fique o Brito por não-dito.
Ditão, é claro, por que não?
e o mineiríssimo Tostão,
o grande Silva, corintiana
glória e mais o áspero Fontana,
Dudu, Edu... e vou juntando
bons nomes ao nome de Orlando,
para chegar até Bellini
em cujas mãos a taça tine.
Célio, Servílio: suave eles
já completados por Fidelis.
Edson, Denilson e Murilo,
cada um com seu próprio estilo.
Um lugar para Paulo Henrique
enquanto digo a Flávio: fique!
Com Paulo Borges bem na ponta
eu conto, e sei que você conta.
Na lateral, Carlos Alberto
estou certo que vai dar certo.
Acham tampinha Ubirajara?
Valor não se mede por vara.
Até parece de encomenda:
Leônidas, nome que é legenda.
E se Gerson do Botafogo
entra em campo, ganha o jogo.
Não podia esquecer o Lima
e seu chute de muita estima.
Com tudo isso e mais Rinaldo
e o canarinho de Ziraldo,
quarenta e seis, se conto bem
um time igual eu nunca vi
em Europa, França e Belém
que barbada seria o Tri, hein? (ANDRADE, 2002,
p. 71-72)
Referência bibliográfica: VENANCIO, R. D. O. (2018). Performance
no Gramado, Poética no Texto: a Crônica e o Conto de Futebol como
Jornalismo Esportivo Alternativo. Revista ALTERJOR, Ano 09, Volume 02,
Edição 18, Julho-Dezembro.
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