quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

A Crônica e o Conto de Futebol como Jornalismo Esportivo Alternativo

Nota preliminar: Em 1950 a derrota foi justificada com a imperdoável criação de um ‘bode expiatório’ – o goleiro Barbosa; se a derrota tivesse ocorrido em 1962 a desculpa seria a ausência de Pelé por lesão, mas então lá estavam Garrincha eAmarildo para evitarem desculpas; em 1966 a derrota foi explicada porque Pelé fora alvo de sarrafada, como se todos os craques à época não o tivessem sido; se a derrota tivesse ocorrido em 1970 certamente o ‘bode expiatório’ seria o próprio Zagalo por não ter sabido manter a linha de rumo de João Saldanha, então substituído. Porém, Carlos Drummond de Andrade anteveria a confusão generalizada que havia de se refletir na organização da Seleção Canarinho na Copa do Mundo de 1966.

por RAFAEL DUARTE OLIVEIRA VENANCIO
Doutor em Meios e Processos Audiovisuais. Professor do curso de Jornalismo e do Programa de Pós-Graduação em Tecnologias, Comunicações e Educação da Universidade Federal de Uberlândia.

Em abril de 1966, o Brasil fez uma polêmica convocação de 46 jogadores para tentar o tricampeonato sob aura de favoritismo indiscutível na Inglaterra. Os jornais relatavam o caso da maneira usual, ou seja, com listas, comentários e perfis lembrando as numerosas escolhas, acima da tradicional lista de 22 nomes, bem como alguns esquecimentos. No entanto, o Correio da Manhã de 3 de abril de 1966 apresentou uma forma distinta de relatar isso de autoria do seu colunista esportivo, Carlos Drummond de Andrade:

A Seleção

Vai Rildo, não vai Amarildo?
Vão Pelé e, que bom, Mané,
O menino gaúcho Alcino
e nosso veterano Dino,
Altair, rima de Oldair,
ecoando na ponta: Ivair,
e na quadra do gol: Valdir.
Fábio, o que não pode faltar,
e também não pode Gilmar,
como, entre os santos dos santos,
o patriarca Djalma Santos,
sem esquecer o Djalma Dias
e, entre mil e uma noites, Dias.
Mas se a Comissão não se zanga,
Quero ver, em Everton, Manga.
É canhoto, e daí? Fefeu,
quando chuta, nunca perdeu.
A chance que lhe foi roubada,
desta vez a tenha Parada.
Paraná, invicto guerreiro
Para guerrear como aqui, lá.
Olhando para o chão, Jairzinho
é como joga legalzinho.
Não abro mão de Nado e Zito,
nem fique o Brito por não-dito.
Ditão, é claro, por que não?
e o mineiríssimo Tostão,
o grande Silva, corintiana
glória e mais o áspero Fontana,
Dudu, Edu... e vou juntando
bons nomes ao nome de Orlando,
para chegar até Bellini
em cujas mãos a taça tine.
Célio, Servílio: suave eles
já completados por Fidelis.
Edson, Denilson e Murilo,
cada um com seu próprio estilo.
Um lugar para Paulo Henrique
enquanto digo a Flávio: fique!
Com Paulo Borges bem na ponta
eu conto, e sei que você conta.
Na lateral, Carlos Alberto
estou certo que vai dar certo.
Acham tampinha Ubirajara?
Valor não se mede por vara.
Até parece de encomenda:
Leônidas, nome que é legenda.
E se Gerson do Botafogo
entra em campo, ganha o jogo.
Não podia esquecer o Lima
e seu chute de muita estima.
Com tudo isso e mais Rinaldo
e o canarinho de Ziraldo,
quarenta e seis, se conto bem
um time igual eu nunca vi
em Europa, França e Belém
que barbada seria o Tri, hein? (ANDRADE, 2002, p. 71-72)

Referência bibliográfica: VENANCIO, R. D. O. (2018). Performance no Gramado, Poética no Texto: a Crônica e o Conto de Futebol como Jornalismo Esportivo Alternativo. Revista ALTERJOR, Ano 09, Volume 02, Edição 18, Julho-Dezembro.

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