por LEANDRO STEIN
1º de maio de 2019
Beth Carvalho falava com orgulho de suas grandes
paixões. […] Como uma verdadeira carioca, ela não poderia renegar o futebol. A
bola era outro prazer declarado da cantora. Sobretudo, o clube que desencadeou
este sentimento, o Botafogo. Poucas personalidades da MPB demonstravam tamanho
apego ao seu clube.
A família de Beth Carvalho era toda botafoguense. Seu
pai remava no clube, além de ser torcedor. A mãe também adotara as cores, bem como
a irmã mais velha. Assim, o destino inescapável da garota era a Estrela
Solitária. Nascida em 1946, Beth pôde se deslumbrar com o auge do Botafogo
justamente durante sua juventude. Quando criança, não ia ao Maracanã, mas
acompanhava fielmente os jogos pelas ondas do rádio. O aparelho, que inspirava
o seu talento à música, também alimentava seu fanatismo como torcedora. E não
demorou para a menina frequentar a sede do clube, dançando nos bailinhos de
General Severiano. Quando tinha 15 anos, presente mais do que sonhado, ganhou
sua primeira camisa alvinegra.
– Garrincha foi
minha primeira referência no futebol. Sempre. Meus primeiros ídolos, que me
lembro de ver jogando, foram Nilton Santos, Didi… Depois, já como artista, tive
contato com eles. Foi sensacional. E eu sou ídolo do Nilton Santos, olha que
coisa… Eu o conheci há pouco tempo, no programa ‘Bem, Amigos!’, do Sportv. Fui
ao programa a pedido dele. E ele mesmo me deu uma camisa. [entrevista a
Globoesporte em 2011].
Se a década de 1970 confirmou a fama de Beth Carvalho,
transformando a carioca em uma das cantoras mais requisitadas do Brasil, o
Botafogo não teve a mesma sorte. Até montou outros times fortes, mas passou a
encarar uma incômoda seca de títulos. Nada que fizesse a torcedora ilustre
abandonar seu time, presente nas horas boas e nas ruins.
– Eu sempre tive
o hábito de ir a jogos do Botafogo, independente do time estar brigando pelos
campeonatos ou não. [entrevista ao jornal O Dia em 2013].
Às vésperas das finais [do campeonato carioca de 1989],
Beth Carvalho foi entrevistada pelo Jornal dos Sports. Indicava sua enorme
confiança:
– Acho que desta
vez vai. O Botafogo está nadando bem e não vai morrer na praia. Finalmente os
jovens botafoguenses terão chance de ver nosso time campeão. […] Finalmente surgiram boas perspectivas e
temos tido grandes alegrias. O Valdir Espinosa é mais um gaúcho que deu certo.
Ele está no comando da garotada, com sucesso. Vamos lá, Botafogo! Vamos ser
campeões este ano! […]
Na semana da conquista, a cantora também participou de
um evento especial na Marquês de Sapucaí. O sambódromo abrigou um show com
vários artistas alvinegros. Além da sambista, também subiram ao palco Sidney
Magal, Agnaldo Timóteo, Emílio Santiago, Emilinha Borba, Marina, Wanderley Cardoso
e ainda outros botafoguenses célebres. Já a apresentação ficava a encargo de
outros torcedores, incluindo Léo Batista, Fernando Vanucci, João Saldanha,
Márcio Guedes, Armando Nogueira, Stepan Nercessian, Glória Menezes e Sérgio
Chapelin.
Só que a melhor lembrança providenciada por Beth
Carvalho à torcida do Botafogo, como não poderia deixar de ser, veio em forma
de canção. Ainda no Maracanã, a cantora foi procurada por Elias da Silva e
Pedro Russo, outros botafoguenses doentes que estavam nas arquibancadas. Os
compositores escreveram uma música na emoção pelo título e apresentaram à
Madrinha. Ela abraçou a ideia e, semanas depois, já gravava ‘Esse é o Botafogo
que eu gosto’. Durante os registros nos estúdios da Polygram, a intérprete
vestia a camisa alvinegra. Apenas músicos botafoguenses participaram da
gravação. Além disso, houve um coro composto por jogadores e também por outros
personagens ligados ao folclore do clube – como a gandula Sonja, uma menina que
ficou famosa por chorar nas derrotas do time. […]
A canção ocupou a última faixa do disco ‘Saudades da
Guanabara’, lançado em outubro de 1989. Eis sua letra:
Esse é o Botafogo que eu gosto
Esse é o Botafogo que eu conheço
Tanto tempo esperando esse momento, meu Deus
Deixa eu festejar que eu mereço
Mas é esse
Esse é o Botafogo que eu gosto
Esse é o Botafogo que eu conheço
Tanto tempo esperando esse momento, meu Deus
Deixa eu festejar que eu mereço
É tão bonito ver
Minha gente sorrindo de emoção
O meu Brasil
De ponta a ponta chorando, vibrando
Saudando o Botafogo Campeão
O meu Brasil
De ponta a ponta chorando, vibrando
Saudando o Glorioso Campeão
No ano seguinte, Beth Carvalho entrou um pouco mais no
imaginário da torcida do Botafogo. A Madrinha foi convidada pela Revista
Placar, em 1996, para gravar o hino do clube. Juntou-se a Ed Motta, Claudio
Zoli e Eduardo Dusek para entoar a letra composta por Lamartine Babo. É a 12ª
faixa do álbum ‘Os Hinos dos Grandes Clubes Brasileiros Cantados por Feras do
Rock e da MPB’. […]
Nesta década, Beth Carvalho ainda gravou mais uma
música ao Botafogo: ‘Amor Em Preto e Branco’, ao lado de Zeca Pagodinho e
outros torcedores ilustres. Sempre que podia, mencionava sua adoração pelo
clube. E continuou assim até os últimos anos de vida, mesmo que as limitações
causadas por um problema na coluna impedissem a Madrinha de frequentar as
arquibancadas com a assiduidade de antes. […] Não media esforços por sua
paixão.
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