segunda-feira, 13 de outubro de 2025

A ESCOLHA

por SOL DE ANLAREC | Colunista do Mundo Botafogo

Outro dia, enquanto aguardava a chegada do trem do metrô, meu olhar passeava pela plataforma em frente à que eu estava, até que se deteve em um homem de aparência simplória, meio calvo e por volta dos 40 anos. Vestia-se com uma bermuda azul e uma camiseta branca.

Não trazia nada consigo.

Atraiu-me a atenção vê-lo a caminho de uma daquelas maquininhas que ocupam as plataformas, assemelhadas a pequenas kombis sortidas dos mais variados bonecos de pelúcia, que, tal qual peixinhos suculentos, aguardam a hora de serem fisgados, não por um anzol, mas, sim, por uma grande garra.

O homem era um misto de interesse e indecisão. Ora se aproximava da máquina ora se afastava.

Depois de algumas idas e vindas, meteu a mão no bolso da bermuda e puxou a carteira. Percebi o jeito meio relutante como ele tirava a nota. Introduziu-a na máquina e o carrinho se iluminou.

Tomou o controle da alavanca que movimentava a garra e iniciou sua pescaria.

Como era de se esperar, as tentativas iniciais não deram resultado.

Da plataforma oposta, eu observava curiosa. Em segredo, torcia para que ele pescasse o que desejava.

O homem continuou suas manobras sem sucesso até que as chances se esgotaram. A máquina parou. Notei a frustração no rosto dele e, confesso, fiquei tristinha...

Pelo que pude observar, seu alvo era um bichinho azul, não sei se um gatinho.

Em minha mente veio a pergunta: por que diabos um cara maduro como esse aí tá atrás de um brinquedo de pelúcia azul?

Ele se afastou e se postou à espera do trem. Durou pouco!

Lá o vi retornar à máquina com o mesmo olhar fixo no interior. Repetiu o processo que fizera antes – puxou a carteira e introduziu a nota. A luz se acendeu e ele agarrou a alavanca. Agora tinha mais pressa, calculando que seu trem estaria para chegar em instantes.

Fiz votos para que pudesse vê-lo finalmente suspender o bichinho azul, mas isso não foi possível.

Meu trem chegou primeiro! Que frustração!

Embarquei e perdi o tal homem de vista. Minha viagem foi acompanhada por um pensamento insistente: será que ele conseguiu pegar a bendita pelúcia?

A curiosidade me dominava! Aquele evento me pareceu muito insólito.

– “Insólito”? Como assim? – o leitor deve perguntar.

– Ora, leitor, pense comigo: embora a maioria das pessoas hoje só saiba observar o que tem a centímetros dos olhos, projetado numa pequena tela brilhante, existem outras que seguem contemplando o mundo real, e, para elas, certamente, a entrada no vagão de um homem de meia idade, vestido com simplicidade, portando unicamente um bichinho de pelúcia azul chamaria logo a atenção.

Adentrei o terreno das conjecturas: acaso ele queria o bichinho para dar como um presente de emergência a algum afilhadinho que estivesse indo visitar, para não chegar de mãos abanando?

Ou, talvez, fosse um carinho para levar para casa e alegrar um filho pequeno? Ou, mais ainda, seria um daqueles artifícios românticos para fisgar o interesse de alguma moçoila por quem estivesse enamorado?

Minha imaginação voava ao léu! Percebi que essa experiência me fizera pensar sobre ESCOLHAS.

Acabara de testemunhar a do homem: um fofinho brinquedo de pelúcia azul!

Segui o trajeto me aprofundando nessa ideia. As ESCOLHAS nos acossam desde o momento em que acordamos até a hora que adormecemos (será que durante os sonhos também?).

– Veja, leitor, se reconhece alguma: Como pão ou biscoitos no café da manhã? Me visto formal ou casual para a reunião? Uso esse perfume ou aquela colônia? Por que não peguei o táxi em vez desse ônibus lotado? Me separo ou não? Vou à academia hoje? Aceito o convite do Carlos para sair? Programo férias para junho ou dezembro? Aplico em CDB ou na bolsa? Despeço a faxineira? Peço a Bia em casamento? Mudo de emprego? Corto o cabelo?

Arre! Escolhas e mais escolhas!!!

E, assustadoramente, mesmo quando não escolhemos, estamos, na verdade, escolhendo! Sim, leitor, é um baita paradoxo! Resolvemos (escolhemos) não escolher!!!

Outros – ou o destino – o farão por nós.

– Ora deixe de bobagens! Sou dono do meu destino! Eu faço as minhas escolhas – o leitor contesta furioso!

– Ah, é? – respondo sarcástica. – Então me diga: Quem escolheu o seu nome? Certamente não foi você...

Os profissionais de publicidade utilizam técnicas desenvolvidas para ativar o inconsciente dos consumidores, despertando-lhes vontades incontroláveis (e/ou ódios exacerbados).

Atualmente, ainda há que se pensar nos algoritmos!!! Sinistro, né não? Eles sugestionam nossas escolhas. Mais outro complicador para esse já complicado tema.

As mensagens subliminares estão em tudo – nos anúncios de cosméticos, moda, nas embalagens dos alimentos, nas propagandas dos bens de consumo, e até nas redes sociais – influenciando as escolhas de cada um sobre cremes e tratamentos, aquisição de produtos de grife, ingestão de transgênicos, a compra da air fryer mais moderna, e a divulgação maciça de fake news, entre outros infinitos assuntos.

Escolhas são tramadas no nosso eu mais profundo...

Ihh, vendo que esse tema estava ficando muito complexo, beirando o filosófico, escolhi parar por aqui e não mais me aventurar nessa sinuosa estrada...

Contudo, escolhi partilhar esse tema com você, leitor, que, curiosamente, também escolheu ler esta coluna no Blog.

Well, é uma prova de que, realmente, as escolhas fazem parte do nosso cotidiano e não nos deixam em paz!

Que sigamos, pois, sempre que possível, escolhendo as melhores!!!

10 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns Sol!!! Realmente escolher é um ato constante: às vezes difícil, outras vezes, cansativo, saboroso, tranquilo… vamos meditar:)

Anónimo disse...

Muito bom! Parabéns Sol!
“Escolher ou não escolher, eis a questão”, equivale ao questionamento de Voltaire. Tenhamos sabedoria como a de Salomão, para podermos discernir o bem do mal, fazer escolhas certas, ou menos piores, o que é sempre um desafio, e tenhamos compaixão de nós mesmos quando erramos, tudo passa! Vou começar a prestar atenção na plataforma oposta quando espero o Metrô para ver se flagro alguém pescando um bichinho da pelúcia azul e torcer pra que consiga!

Anónimo disse...

Oi, Sol, gostei muito da sua crônica. Você escolheu um tema que nunca li em crônica, achei original.Você tem o dom, continue escrevendo e compartilhando com os amigos. Bjks

Anónimo disse...

Gostei de sua filosófica crônica. Há outras escolhas pela vida, inclusive as trágicas: não continuar vivendo, ir para a guerra entre países que não o seu ...
A curiosa escolha do meu nome foi assim: questionei minha mãe pela escolha do meu, pois não gostava dele. Ela me respondeu: foi sua avó ao abrir, aleatoriamente, a Bíblia; pense se recaísse numa página , com um nome muito mais feio do que o seu. "Botei minha viola no saco" e calei-me. Hoje, já não o acho tão feio. Bem-aventurados ... os conformados!

Anónimo disse...

Muito boa a crônica. Uma lição que tirei: nem sempre alcançamos o que escolhemos. O homem escolheu o bichinho de pelúcia azul, em meio a tantos outros. Ele tinha determinação. Saber escolher é uma virtude.

Anónimo disse...

Adorei os comentários de todos! Fico feliz em saber que a leitura de minha crônica trouxe tantos insights variados. Isso é enriquecedor para mim!
Que possamos continuar com essa parceria gostosa!
bjks,

Sol de Anlarec

Lúcia Costa disse...

Oi, SOL
Pra começar acho que a escolha do tema é muito interessante, gerando boas reflexões. Escolher é complicado, mas não escolher é impossível. É preciso estar ciente que a não- escolha, é uma escolha. E outra coisa: é bom saber ainda ,
que nossas escolhas nem sempre são nossas escolhas. Como assim? Ora, como assim! Somos manipuladas das mais diversas formas e tal qual marionetes escolhemos o que o SISTEMA decidir que é bom pra nós. É mais ou menos como um ZUMBIDO: apitam no nosso ouvido o que deve ser escolhido e ponto final. UFAAA! MEU DEUS, SOL !!! Bem que você poderia ter escolhido um tema menos complexo, né,?
De qualquer maneira,parabéns pela escolha!
Beijão

Anónimo disse...

Lucia querida, vc escolheu ser sempre divertida em seus comentários! Que culpa tenho eu pelo tema ser complexo?? A culpa é da escolha!! Ela veio zumbindo e zumbindo e não sossegou enquanto não me fez despejá-la no texto. Como disse nosso amigo de um dos comentários anteriores : vamos nos conformar!! É a escolha a fazer!
Escolhi te mandar bjks!

Sol de Anlarec

Lúcia Costa disse...

E eu acertei na escolha quando tenho como companheira de blog uma pessoa enSOLarada, que tá fazendo o maior sucesso no Mundo Botafogo. Parabéns pra mim por ter te escolhido ( com aval do poderoso chefão ,é claro)
Beijocas

Anónimo disse...

WOW!!😍😍😍

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