quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Gambás salvadores


por Gerson Soares
Jornalistas suecos queriam entrevistar Mané para confirmarem na sua imprensa se realmente um craque deixara, durante a realização da Copa do Mundo de 1958, um filho, fruto de um ligeiro romance com uma camareira do hotel no qual a Seleção se concentrara. Mas Mané fugia desse ou de qualquer outro compromisso com conotação sensacionalista. Como é sabido, ele não gostava destas badalações: jornais, revistas, televisão... O homem fugia da exploração da mídia.

Por mais que fugisse, após a exuberante atuação na Copa de 1962, no Chile, seu nome foi glorificado no mundo. Os jornalistas, com a insistência que é do conhecimento de todos, não desistiram de procurá-lo. De tanto telefonarem para Elza, conseguiram desta, à revelia de Mané, a promessa de que teriam a reportagem sobre o romance com a camareira.

Quando Mané soube do que Elza fizera, houve uma pequena discussão. Mas ele sabia: tudo que ela fazia, era em seu benefício. E acabou concordando em receber os suecos e falar, enfim, sobre o tal filho na Suécia.

Para o dia agendado, EIza, para recepcionar os jornalistas, convidou-os, por contato com seus representantes no Brasil, para um almoço. Pensou que assim Mané se sentiria melhor, mais à vontade, e os jornalistas não seriam implacáveis nas perguntas. A entrevista sairia da formalidade sueca e ficaria na informalidade brasileira, como Mané gostava.

Lembro-me de que foi numa quarta-feira. Elza sofisticou o almoço. Mandou preparar um cardápio francês. A mesa foi finamente posta. Nós, crianças, fomos mais uma vez preteridos: almoçamos nosso feijão com arroz, bife, batatas fritas e... Postos para fora de casa.

Os suecos chegaram às 11 horas, embora o almoço estivesse marcado para as 13 horas. Vimos aqueles homens brancos, cabelos amarelos, falando muito e interpretados por um baixinho gordo, muito sorridente. Mas onde estava Mané?

Estava em companhia de um dos seguranças da rua, na mata, caçando gambás, carne muito apreciada por ele. Provavelmente, tanto a caçada quanto a ingestão da carne do animal o remetia à infância em Pau Grande. Elza não sabia mais como disfarçar a ausência de Mané. Dizia que ele estava treinando no clube, pois haveria jogo pelo então Campeonato Carioca no fim de semana. Mas no fundo ela sabia que ele estava enfiado na mata e temia que chegasse sujo, com gaiola na mão, e passasse pela sala.

Mané demorava, o almoço e a preocupação de Elza aumentavam. De repente, uma barulheira estranha. A empregada chegou assustada à sala e chamou Elza, que pediu licença e foi saber do que se tratava.

A moça disse que Mané e o segurança Nicolau entraram pela garagem com duas horríveis gambás mortas. Elza pediu que ela fosse imediatamente à garagem e mandasse Mané tomar banho para almoçar, pois os gringos já o esperavam por cerca de três horas. Mané recebeu o recado, entendido como uma ordem de sua mulher, mas antes quis limpar os gambás.

Esses bichos, instintivamente fingem-se de mortos e ao menor descuido de seu caçador fogem. E foi o que aconteceu. Um dos animais não estava morto. Quando Mané o livrou da corda e o pôs no chão para limpá-lo, ele fugiu, entrando pela primeira porta aberta da casa, justamente a que levava ao salão onde se encontravam os repórteres. Mané e Nicolau saíram dele atrás feitos loucos, cada um com um porrete na mão, envergonhando Elza e assustando os convidados, que assistiram a tudo apavorados, olhos arregalados, sem entenderem nada do que se passava.

O bicho foi recapturado, mas depois de ter deixado o seu cheiro nada agradável no ambiente em que deveria ser servido o almoço.

Naquele dia Elza aprendeu, a partir da pantomina, e evitou marcar novas entrevistas para Mané na nossa casa.
.
Fonte: www.sosserve.com.br 

6 comentários:

Impasse Livre disse...

essas estórias do mané sempre são salutares e gostosas de se ler, hj em dia nada disso rola, só dinheiro, dinheiro e dinheiro uma pena ruy o blog tá cada vez mais gostoso de se ler cara parabéns!

Vinícius Barros disse...

Pô Rui, acho que depois dessa briga toda deve sobrar um brecha para um botafoguense de verdade salvar o Glorioso, VOCÊ!

Rui Moura para a presidência!rs!

Abs!

Antonio Oswaldo Cruz disse...

Caro Rui, estou a ver a partida do Sporting contra os barcelonistas (como eu odeio esses times espanhóis!)agora na Espn, Rui Patrício expulso, 5x2 para eles, que papelão!!!

Ruy Moura disse...

Olá 'Maldito' amigo!

Parabéns pelo sucesso da Maldita Futebol Clube!

O) passado jamais regressa, mas é saborosa recordarmos tudo aquilo que nos fez amar e viver. E foi esse Botafogo antigo que me fez viver e amar o desporto!

Saudações Gloriosas!

Ruy Moura disse...

Aí vou eu, Vinícius! O Salvador Transatlântico! Coração estrelado nas mãos!

Vamos combinar: eu vou para presidente e levo uns 'tugas' investidores; você fica na vice-presidência e arruma também uns 'brasucas' investidores. Tudo junto vamos à conquista do Mundial de Clubes! rsrsrs...

[Lamentável o que está acontecendo...]

Saudações Gloriosas

Ruy Moura disse...

Pois é, Antonio, mas acho que SCP esteve numa daquelas noites em que a sorte só sai a um... Quando reduziu para 2x3 o Caneira fez gol contra. Dois gols contra e uma grande penalidade inexistente... Era noite espanhola, sem dúvida...

Abração, Antonio!

Saudações Gloriosas!

John Textor, a figura-chave: variações em análise

Crédito: Jorge Rodrigues. [Nota preliminar: o Mundo Botafogo publica hoje a reflexão prometida aos leitores após a participação do nosso Clu...