
por Eduardo Zobaran
Como todas (uuuuui!) e todos (ou-ou-ou) sabem, o Campeonato Carioca – estadual é o meu Somália – não vale nada e os rubro-negros que conheço aproveitaram o último dia de suas vidas para passear no Shopping da Gávea com o carrinho de bebê para gêmeos, a esposa de óculos de vovó-abelha e, é claro, um par de mocassim (acabei de confimar que é assim que se escreve) nos pés. Fazendo das Popota, minhas: acho fogo fofo.
Mas já que o mundo não acabou conforme previsto faço um preâmbulo para emendar uma sentença trabalhada na sequência. Solidário, solícito e soldado da informação, venho por meio desta aprofundar em uma análise rigorosa, fria e calculisticamente imparcial a história do jogo Botafogo e Flamengo, Flamengo e Botafogo, pela final da Taça Rio, no dia 18 de abril de 2010.
6h23 – 7h12 Depois de ouvir o despertador tocar durante uma hora e quinze minutos, me levanto da cama, abro a porta só de cueca, lembro do filme, passo o trinco, pego o jornal, fecho o trinco, fecho a porta, pego a parte de esporte e volto para cama. Volto a dormir lendo as “notícias”, mas sou acordado por um dos cinco alarmes programado no meu celular. Enquanto tomo banho, penso em cantar a escalação do Botafogo, mais ou menos como faz a torcida. Penso que isso pode dar azar e nem começo.
7h13 – 8h01 No ônibus, em Copacabana, avisto um botafoguense e penso em gritar Bo-Ta-Fogo…Eu sou…Eu Sou. Ainda no caminho do trabalho, pego o jornal na mochila e resolvo me inteirar das novidades da cidade. Olho o cabeçalho do jornal e lembro que hoje é meu aniversário. Isso explica as duas ligações que recebi. Sou querido.
8h02 – 15h56 O irmão do Roberto Carlos deixa o hospital sem dar declarações à imprensa. Sua esposa chora e não esquece de passar seu nome completo para os jornalistas. Aliás, acertou quem disse que o nome do irmão do Roberto Carlos é Carlos Roberto. Durante alguns minutos, converso com um ídolo do Fluminense da década de 80. Não almoço, tomo um açaí de uma merda e repenso minha opção profissional.
15h57 – 16h26 No caminho para o Maracanã, pergunto para o taxista se ele se incomoda se eu trocar de roupa no carro. Chego na beca, bermuda e camisa da sorte. Na rampa da Uerj e sem o Mané para pedir a benção, corro para o high five com o Biriba. O mascote me deixa no vaco e faz peitinho. Bom sinal? Se a sensação de começar um jogo decisivo sóbrio já é curiosa, imagina entrar numa final contra o Flamengo e ver que o Maracanã está dividido. Bom sinal!
16h27 Balançando de um lado e para o outro, com a mão na boca como se estivesse rezando, mas não estando. Penso em fechar o olho, mas não fecho. Acho que ele vai bater forte e no alto, mas bate fraco e no meio. Sozinho, abraço e sou abraçado. De olho no calor humano de uma gatinha linda na minha esquerda, tento me desvencilhar do velho que diz “é hoje, é hoje!”. Quando finalmente consigo, já passou a vibe de abraçar desconhecidos.
16h28 – 16h55 Penso em comentários inteligentes para iniciar o papo. Penso em tiradas engraçadas para iniciar o papo. Penso que faltou a porra da cerva antes do jogo. Quando o Flamengo faz gol, aguardo o apito final e vejo, pela última vez, essa gatinha. A torcida puxa um Bo-Ta-Fogo para motivar o time.
16h56 – 17h35 Depois do pênalti do Loco Abreu, recebo uma mensagem. Não leio imediatamente por temer a quebra da maré de sorte. A curiosidade me vence no minuto seguinte e vejo que o Zarko me escreveu. “Mito”. Concordo e dou uma risada, mas não respondo. É claro.
17h36 – 18h01 Chifrudo, chifrudo, chifrudo!, grita a torcida. Jefferson Banks ídolo eterno entra para história como mais sinistro, herói e Ice Man. Adriano ainda recebe bola de tudo quanto é jeito na área, mas a rapeize tava esperta. Um das vezes foi muito parecida com aquele gol contra a Argentina na Copa América. Me lembrei muito do jogo, mas a falta do Pet me lembrou uma outra partida. Na barreira.
18h02 – 18h43 O chato de ser campeão em clássico é que o estádio fica só pela metade. Tirando isso, é bem melhor. Os rubro-negros deveriam ser obrigados a permanecer até a entrega da taça para podermos sacaneá-los de imediato. Penso em compor uma música sobre a Taça de Bolinha, mas infelizmente esqueço como que era o que eu tinha pensado.
18h44 – 19h18 Partiu General! Últimos flamenguistas observados no entorno do Maracanã. Gastadinha merecida, o que me faz lembrar um tricolor dando piti depois da semi, ainda no estacionamento da Uerj, e dizendo que o Botafogo seria tetra-vice. Do Fluminense, só dá para invejar a torcida feminina. Talvez nem isso, as botafoguenses floriram o Maracanã, General e o diabo a quatro.
19h19 – 21h22 Torcida invade a pista. Polícia passa com cara de mau. Torcida invade a pista. Polícia joga spray de pimenta. Torcedores chegam na varanda do casarão histórico. Lúcio Flávio pega um microfone e puxa o hino. Leandro Guerreiro puxa o Ninguém Cala. Caio puxa sua própria composição, “Hã-hã, hã-hã, hã, Matador é o Talismã”. Lembro do gol que perdeu. Galera canta o Rebolation para o Loco, que sorri, sempre com sua câmera na mão.
21h23 – Horário Desconhecido Partiu Baixo Gávea! Botafoguenses e botafogatas. A bebida bate, me lembro que não comi direito ainda, passo a tomar água como se fosse ajudar alguma coisa. Penso que esse negócio de água é coisa de tricolor e volto à cerveja. Cadê o Império do Amor? No Maracanã urubu virou galinha. É campeão. Somália, Somália, Somália ao ritmo de Não Para, Não Para, Não Para é o melhor. Lembro do Roberto Carlos.
19 de abril – Vivo
Referência:
http://yougol.wordpress.com/2010/04/20/um-dia-na-vida-de-um-botafoguense/
Como todas (uuuuui!) e todos (ou-ou-ou) sabem, o Campeonato Carioca – estadual é o meu Somália – não vale nada e os rubro-negros que conheço aproveitaram o último dia de suas vidas para passear no Shopping da Gávea com o carrinho de bebê para gêmeos, a esposa de óculos de vovó-abelha e, é claro, um par de mocassim (acabei de confimar que é assim que se escreve) nos pés. Fazendo das Popota, minhas: acho fogo fofo.
Mas já que o mundo não acabou conforme previsto faço um preâmbulo para emendar uma sentença trabalhada na sequência. Solidário, solícito e soldado da informação, venho por meio desta aprofundar em uma análise rigorosa, fria e calculisticamente imparcial a história do jogo Botafogo e Flamengo, Flamengo e Botafogo, pela final da Taça Rio, no dia 18 de abril de 2010.
6h23 – 7h12 Depois de ouvir o despertador tocar durante uma hora e quinze minutos, me levanto da cama, abro a porta só de cueca, lembro do filme, passo o trinco, pego o jornal, fecho o trinco, fecho a porta, pego a parte de esporte e volto para cama. Volto a dormir lendo as “notícias”, mas sou acordado por um dos cinco alarmes programado no meu celular. Enquanto tomo banho, penso em cantar a escalação do Botafogo, mais ou menos como faz a torcida. Penso que isso pode dar azar e nem começo.
7h13 – 8h01 No ônibus, em Copacabana, avisto um botafoguense e penso em gritar Bo-Ta-Fogo…Eu sou…Eu Sou. Ainda no caminho do trabalho, pego o jornal na mochila e resolvo me inteirar das novidades da cidade. Olho o cabeçalho do jornal e lembro que hoje é meu aniversário. Isso explica as duas ligações que recebi. Sou querido.
8h02 – 15h56 O irmão do Roberto Carlos deixa o hospital sem dar declarações à imprensa. Sua esposa chora e não esquece de passar seu nome completo para os jornalistas. Aliás, acertou quem disse que o nome do irmão do Roberto Carlos é Carlos Roberto. Durante alguns minutos, converso com um ídolo do Fluminense da década de 80. Não almoço, tomo um açaí de uma merda e repenso minha opção profissional.
15h57 – 16h26 No caminho para o Maracanã, pergunto para o taxista se ele se incomoda se eu trocar de roupa no carro. Chego na beca, bermuda e camisa da sorte. Na rampa da Uerj e sem o Mané para pedir a benção, corro para o high five com o Biriba. O mascote me deixa no vaco e faz peitinho. Bom sinal? Se a sensação de começar um jogo decisivo sóbrio já é curiosa, imagina entrar numa final contra o Flamengo e ver que o Maracanã está dividido. Bom sinal!
16h27 Balançando de um lado e para o outro, com a mão na boca como se estivesse rezando, mas não estando. Penso em fechar o olho, mas não fecho. Acho que ele vai bater forte e no alto, mas bate fraco e no meio. Sozinho, abraço e sou abraçado. De olho no calor humano de uma gatinha linda na minha esquerda, tento me desvencilhar do velho que diz “é hoje, é hoje!”. Quando finalmente consigo, já passou a vibe de abraçar desconhecidos.
16h28 – 16h55 Penso em comentários inteligentes para iniciar o papo. Penso em tiradas engraçadas para iniciar o papo. Penso que faltou a porra da cerva antes do jogo. Quando o Flamengo faz gol, aguardo o apito final e vejo, pela última vez, essa gatinha. A torcida puxa um Bo-Ta-Fogo para motivar o time.
16h56 – 17h35 Depois do pênalti do Loco Abreu, recebo uma mensagem. Não leio imediatamente por temer a quebra da maré de sorte. A curiosidade me vence no minuto seguinte e vejo que o Zarko me escreveu. “Mito”. Concordo e dou uma risada, mas não respondo. É claro.
17h36 – 18h01 Chifrudo, chifrudo, chifrudo!, grita a torcida. Jefferson Banks ídolo eterno entra para história como mais sinistro, herói e Ice Man. Adriano ainda recebe bola de tudo quanto é jeito na área, mas a rapeize tava esperta. Um das vezes foi muito parecida com aquele gol contra a Argentina na Copa América. Me lembrei muito do jogo, mas a falta do Pet me lembrou uma outra partida. Na barreira.
18h02 – 18h43 O chato de ser campeão em clássico é que o estádio fica só pela metade. Tirando isso, é bem melhor. Os rubro-negros deveriam ser obrigados a permanecer até a entrega da taça para podermos sacaneá-los de imediato. Penso em compor uma música sobre a Taça de Bolinha, mas infelizmente esqueço como que era o que eu tinha pensado.
18h44 – 19h18 Partiu General! Últimos flamenguistas observados no entorno do Maracanã. Gastadinha merecida, o que me faz lembrar um tricolor dando piti depois da semi, ainda no estacionamento da Uerj, e dizendo que o Botafogo seria tetra-vice. Do Fluminense, só dá para invejar a torcida feminina. Talvez nem isso, as botafoguenses floriram o Maracanã, General e o diabo a quatro.
19h19 – 21h22 Torcida invade a pista. Polícia passa com cara de mau. Torcida invade a pista. Polícia joga spray de pimenta. Torcedores chegam na varanda do casarão histórico. Lúcio Flávio pega um microfone e puxa o hino. Leandro Guerreiro puxa o Ninguém Cala. Caio puxa sua própria composição, “Hã-hã, hã-hã, hã, Matador é o Talismã”. Lembro do gol que perdeu. Galera canta o Rebolation para o Loco, que sorri, sempre com sua câmera na mão.
21h23 – Horário Desconhecido Partiu Baixo Gávea! Botafoguenses e botafogatas. A bebida bate, me lembro que não comi direito ainda, passo a tomar água como se fosse ajudar alguma coisa. Penso que esse negócio de água é coisa de tricolor e volto à cerveja. Cadê o Império do Amor? No Maracanã urubu virou galinha. É campeão. Somália, Somália, Somália ao ritmo de Não Para, Não Para, Não Para é o melhor. Lembro do Roberto Carlos.
19 de abril – Vivo
Referência:
http://yougol.wordpress.com/2010/04/20/um-dia-na-vida-de-um-botafoguense/
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